
ANÁLISE
Bayonetta
Por Sérgio Mota a
Com origem na XBox 360 (e uma conversão menos bem conseguida para a PlayStation 3) no início de 2010, Bayonetta depressa se afirmou como uma referência em jogos de acção, criando um conceito de “acção climática” que ousa fundir eventos dinâmicos com diálogos e enredo. Aclamado pela crítica e pelos jogadores, levou a Platinum Games (com o apoio da Sega) a desenvolver uma sequela que, segundo declarações de Hideki Kamiya, já se encontrava em estado avançado de produção quando foi cancelada por dificuldades financeiras da distribuidora. A Sega viu-se obrigada a cancelar o lançamento de uma série de jogos e dedicou-se apenas a títulos que lhe dessem garantias de retorno imediato. Com o projecto a necessitar de demasiado investimento, o jogo esteve muito perto de desaparecer. No entanto, a gigante nipónica Nintendo reconheceu o seu valor e tornou Bayonetta numa série exclusiva, tornando possível a sua sequela e dando azo a um relançamento do original na Wii U.
Na sua versão Wii U, como já foi referido na nossa análise à época, o jogo recebeu algumas melhorias técnicas contando com maior estabilidade e fluidez, bem como a possibilidade de jogar em japonês e fatos exclusivos alusivos às mais carismáticas personagens da Nintendo, tornando a versão Wii U na versão definitiva de um dos melhores jogos de acção de sempre.
Quando o presidente da Nintendo Of America, Reggie Fils-Aimé, anunciou na The Game Awards 2017 a terceira entrada da série e o relançamento do Bayonetta original e de Bayonetta 2 para a Nintendo Switch, seria de esperar que um jogo de 2009 não chegasse à nova consola da Nintendo no seu estado mais prístino, apesar da sua qualidade consensual. Seria igualmente de esperar que recebesse argumentos para que os jogadores de longa data dessem uma nova oportunidade ao clássico que, não sendo totalmente exclusivo (ao contrário de Bayonetta 2), chegou a um público mais alargado e que as adições incluídas na versão Wii U e a nova portabilidade possível graças à Nintendo Switch não fossem argumentos suficientes para lhe dar uma nova oportunidade.Encontra-se assim em Bayonetta uma versão muito semelhante à disponível para Wii U. A jogabilidade mantém-se exímia e um ponto forte do jogo, contando com uma variedade incrível de movimentos possíveis com diferentes níveis de dificuldade de aquisição, oferecendo conteúdo para jogadores menos experientes mas também para jogadores que procurem combates mais complexos e almegem mestria total do jogo. Independentemente do grau de domínio do esquema de combate, a experiência mantém sempre um ritmo de jogo elevado e satisfatório, oferecendo variedade num tipo de jogo classicamente repetitivo. Além dos ataques físicos e das diferentes armas disponíveis, encontram-se também ataques mágicos e animações específicas para cada inimigo, assim como ataques especiais com direito a invocação de demónios, contribuindo para sequências de acção intensas e completamente avassaladoras que se tornaram uma imagem de marca da série. O uso de controlos tácteis ganha novo destaque na versão Switch, sendo uma opção que apesar de opcional é válida para quem lhe reconheça valor.
O enredo tem lugar numa cidade europeia fictícia de nome Vigrid, com arquitectura de inspirações renascentistas, que procura reforçar o contexto mitológico associado ao jogo. Bayonetta consolida a sua própria mitologia graças a um trabalho de pesquisa notável por parte da produtora, criando uma história com inspirações de diversas fontes mitológicas e inclusivamente com recurso a uma língua própria conhecida como enoquiano, desenvolvida por Jonh Dee e Edward Kelley no século XVI que a apresentaram como sendo a língua dos anjos, e que se encontra presente em vários momentos do enredo. O jogador é assim incluído na história do conflito entre as bruxas Umbra, representantes do inferno, e os sábios de Lumen representantes do paraíso e na história da última sobrevivente do seu clã, a protagonista Bayonetta. Apesar do enredo ter bases bastante fortes, acaba por ser sacrificado em prol do ritmo de jogo que se mantém elevado durante grande parte da aventura. Mesmo assim as personagens apresentam profundidade e conseguem manter o jogador interessado na aventura, que é consistente e com um sentido próprio, apesar do seu propositado abuso de humor e sensualidade.O ambiente gráfico conta com quase uma década mas continua bastante actual e muito pormenorizado. Apesar das inevitáveis comparações com a sequela, muito mais colorida e detalhada, o original ganha bastante no seu tom mais sombrio e negro que se adequa melhor à temática tratada. No entanto e dado ser a terceira vez que o mesmo jogo é relançado e já se ter passado quase uma década desde o seu lançamento inicial, pedia-se talvez uma abordagem menos conservadora ao ambiente gráfico que mesmo sem pedir uma remasterização completa, podia benefeciar de uma actualização de algumas texturas, o que lhe daria outro valor tornando-o mais actual e criando um novo argumento para voltar a pegar nele. A banda sonora mantém-se de altíssima qualidade, acompanhando bem a experiência e adicionando-lhe valor, com temas pop, jazz e composições clássicas, o que se coaduna com a temática apresentada.
Onde a versão Switch ganha mais brilho é na sua performance melhorada, com tempos de carregamento significativamente mais curtos e uma fluidez constante, mesmo em momentos de acção mais intensa, que aliada à portabilidade torna esta a melhor versão de Bayonetta, obrigatória para quem nunca jogou este clássico intemporal dos jogos de acção mas que poderá não ser suficiente para convencer jogadores reincidentes.
Conclusão
Após quase uma década de existência, Bayonetta continua a ser uma das melhores experiências dentro do seu género. A adição de portabilidade e melhorias técnicas trazem valor a uma experiência já de si quase perfeita. No entanto e tratando-se já do seu terceiro lançamento, era imperativo uma actualização mais ousada que tornasse a experiência mais apelativa a jogadores de longa data.
O melhor
- Jogabilidade exímia
- Sequências de acção
- Melhorias ao nível da performance
- Portabilidade
O pior
- Ambiente gráfico já denuncia a idade
- Relançamento de um relançamento com pouca adição de conteúdo
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.
14 de Fevereiro, 2018, 14:33