
ANÁLISE
Watch Dogs
Por Nuno Nêveda a
Watch Dogs está envolvido em polémica praticamente desde a sua génese. Começou com uma apresentação gloriosa na E3 de 2012, mas a subsequente degradação gráfica que se seguiu fez correr muita tinta entre fãs e imprensa da especialidade. Depois o injustificável adiamento da versão Wii U causou estupefação junto de seguidores da Nintendo.
Talvez pelo hype desmesurado ou polémica crescente, Watch Dogs atingiu um enorme sucesso comercial quando foi lançado em Maio passado para PC, PlayStation 4, PlayStation 3, XBox One e XBox 360. Passados seis meses e depois de tanta celeuma, é a vez da Wii U receber este jogo, desta vez com particular indiferença. A época do ano talvez não seja a mais adequada, com muitos possuidores da Wii U agarrados ao excelente Super Smash Bros. ou a redescobrirem Mario Kart 8 por causa do primeiro DLC. O pouco empenho da Ubisoft e o preço também contribuíram para um certo alheamento do público. Contudo existem dois pontos pelo qual Watch Dogs será certamente lembrado: por ser um dos poucos jogos "sandbox" na Wii U e, provavelmente, o último título de renome de uma "third party" a ser lançado na consola da Nintendo.
Numa Chicago dominada pela tecnologia e controlada por um único sistema operativo, o ctOS (Central Operating System), que secretamente vigia o quotidiano de cada habitante, assume-se a pele do brilhante hacker Aiden Pearce. Com um passado num mundo do crime, certo dia é confrontado com uma violenta tragédia na sua família que o obriga a repensar a sua actividade e decide vingar-se sobre os responsáveis desse vil acto. Sempre munido do seu smartphone (peça central na acção), Aiden faz uso das suas capacidades para entrar nos sistemas da cidade e manipular os semáforos, o gás, a electricidade e tudo o que estiver ao seu alcance. Obviamente que em tão complicada tarefa, o uso da tecnologia por si só não é suficiente. É assim necessário saber usar um bastão ou armas para entrar em tiroteios pela cidade, por vezes de forma discreta.Em teoria, Watch Dogs poderia ser um jogo recomendado na ausência do todo-poderoso Grand Theft Auto na Wii U. A estrutura do jogo não foge muito do esquema tradicional da série da Rockstar, com missões principais e muitas missões secundárias, mas grande parte delas é desinteressante e o hacking não consegue ser diferenciador ou muito cativante. Infelizmente, se no início o hacking torna o jogo mais apelativo e encoraja a abordar formas alternativas de escapar às situações, bem como uma filosofia mais stealth, com o desenrolar da acção instala-se a sensação de que todas as possibilidades da jogabilidade são rapidamente esgotadas. Muitas vezes o jogador limita-se a passear pelas ruas de Chicago a entrar nas contas dos transeuntes e a descobrir pequenos detalhes da sua intimidade sem particular interesse ou a usar câmaras espalhadas pela cidade para entrar noutros equipamentos. Os produtores ainda tentaram disfarçar algumas limitações com a subida de níveis e na progressão de habilidades através de pontos que se podem usar numa árvore de habilidades, o que abrange a parte do hacking mas também as capacidades de Aiden na condução, combate e criação de itens. Muitas destas habilidades não revelam qualquer tipo de utilidade.
Os seis meses adicionais poderiam supor o aproveitamento das capacidades da Wii U, mas isso está longe de acontecer. Os bugs das versões anteriores continuam presentes e a física de condução mantém-se medíocre. Tecnicamente deixa algo a desejar, embora o sistema de iluminação não seja muito inferior às consolas mais potentes (PS4 e XBox One) e não exista o “screen tearing” vísivel na PS3 e XBox 360, mas a fluidez tem problemas, nomeadamente quando se conduz um veículo. As quebras são tão visíveis que aliadas aos evidentes “pop in”, podem comprometer a jogabilidade e o sucesso de algumas perseguições. Além disso existem algumas texturas de péssima qualidade. Está longe de ser um dos melhores esforços da editora gaulesa para a Wii U.
A nível de controlos, a Ubisoft optou por usar o GamePad para base do mapa do jogo e pouco mais do que isso. Diga-se que este acaba por ser relativamente útil, pois permite um acesso mais rápido aos diferentes pontos de interesse de Chicago, mas é uma oportunidade perdida. Uma eventual interacção do GamePad com as diferentes hipóteses de hacking poderia abrir possibilidades com outro tipo de profundidade. Felizmente o Off-TV Play não foi esquecido, tal como a compatibilidade com o Wii U Pro. No campo sonoro nota-se imediatamente que o leque de músicas disponíveis no rádio é manifestamente reduzido quando comparado com o gigante Grand Theft Auto V, embora algumas delas possam ser desbloqueadas através de hacking. As diferentes músicas estão inseridas em géneros tão diversos como hip hop, jazz, rock e pop. As interpretações são aceitáveis e é de realçar que Watch Dogs se encontra totalmente legendado em português.A campanha deverá demorar entre quinze a vinte horas, as missões secundárias (embora repetitivas) devem garantir mais algumas horas e ainda existem funcionalidades online com algum interesse. E aqui não há grandes restrições na Wii U, o online está perfeitamente integrado com a campanha principal, seguindo a moda dos jogos modernos. Passadas poucas missões, é desbloqueada a capacidade de invadir os jogos de outros jogadores e assim roubar os seus dados. Porém, em vez de entrar num confronto directo, o jogador tem que se esconder (dentro de uma determinada zona) e começar a roubar os dados sem ser detectado. Depois é tentar fugir no meio da multidão. O próprio jogador também pode ser invadido e em seguida ter de encontrar o hacker. No fundo, é um jogo do gato e do rato relativamente interessante, se bem que possa ser desligado a qualquer momento para não atrapalhar a campanha. Há ainda um outro modo semelhante, o chamado Tailing onde não existe hacking, apenas a tentativa de usar o smartphone e identificar o jogador. Por outro lado, com a ajuda da app ctOS mobile, existem desafios para serem completados. Também não faltam os modos mais tradicionais como as corridas online até quatro jogadores e o free roaming, esses mais ao estilo do que se conhece em jogos do género.
Sabe-se à partida que o suporte da Ubisoft para esta versão será mínimo. Actualizações para corrigir problemas técnicos e novos conteúdos descarregáveis serão ignoradas, bem como o principal DLC já lançado, o Bad Blood. Todo o que existe é o Conspiracy por €4,99 e o Pack Access Granted a €6,99 na Nintendo eShop.
Conclusão
Olhar para a versão Wii U de Watch Dogs neste final de ano, depois de não ter correspondido às elevadas expectativas no seu lançamento em Maio para outras plataformas, permite um julgamento mais frio. Não se compreende que seis meses adicionais não tenham permitido adicionar elementos exclusivos (para além do mapa presente no ecrã do GamePad), nem que não se tenha procurado minimizar algumas das falhas óbvias do jogo. A mistura de acção tradicional com uma abordagem furtiva é uma mais valia no género sandbox, mas o potencial aberto pelo hacking não é de todo atingido. Além disso, esta é uma adaptação sem grande dedicação que só vale pela reduzida concorrência neste segmento na Wii U. Uma despedida inglória dos blockbusters third party da consola da Nintendo.
O melhor
- Campanha relativamente sólida
- Funcionalidades online
- Totalmente legendado em português
O pior
- Seis meses não adicionaram nada de relevante
- Alguns problemas técnicos severos
- História deixa algo a desejar
11 de Dezembro, 2014, 17:22