
ANÁLISE
Dragon Quest VIII: Journey of the Cursed King
Por Diogo Caeiro a
Previamente disponível apenas para a PlayStation 2 e dispositivos móveis, a Square Enix não se ficou por aí. Requisitando a ajuda da Tose uma vez mais, a Nintendo 3DS recebe agora Dragon Quest VIII: The Journey of the Cursed King, não se tratando esta de uma versão como as suas antecessoras. Feito de raíz para a portátil da Nintendo, esta versão apresenta um grafismo superior ao da sua versão móvel, assim como significativamente mais conteúdo que o lançamento original na plataforma da Sony. Com a conveniência do factor portabilidade a favor da versão da 3DS, esta é a forma definitiva de vivenciar o que é provavelmente o melhor jogo de toda a série Dragon Quest.
E é mesmo por aí que começa esta análise. Não abandonando essa linha de raciocínio, The Journey of the Cursed King é bom, muito bom mesmo. O tipo de produção que engloba tudo de melhor que um género tem para oferecer sem fracassar em nenhuma frente. Desde o clássico combate por turnos e excelente elenco de personagens à sensação de exploração e aventura, esta é uma jornada que não se pode absolutamente deixar passar ao lado. Se há um RPG obrigatório na 3DS, Dragon Quest VIII é sem dúvida esse jogo.Nesta oitava iteração da série, o jogador é levado ao reino de Trodain, onde o seu castelo é alvo de um feitiço por parte de Dhoulmagus, um bobo da corte com um grau de insegurança sobre si próprio mais elevado que o cidadão comum. Em todo este alvoroço, o rei e a princesa são transformados num pequeno monstro verde e num cavalo respectivamente, com o único sobrevivente deste acto vil a ser um guarda do castelo, a personagem que se controla no decorrer da aventura. Acolhendo outras personagens à medida que a história progride, escusado será dizer que boa companhia não faltará ao herói. Yangus, um ladrão em busca de redenção, ironicamente salvo por quem tentava assaltar; Jessica, uma atraente e confiante jovem que não deseja ser confinada às barreiras de uma vida que a sua mãe quer que ela tenha; e ainda Angelo, um cavaleiro da ordem dos Templários, que tem como passatempo cortejar mulheres que lhe captam o interesse, sendo também apostador nas horas vagas. Todas elas personagens incrivelmente diferentes entre si, facto que concede um balanço e dinâmica muito engraçadas a toda a aventura. Seja pelo constante diálogo humorístico excepcionalmente construído entre todas as personagens ou a forma como reagem a certas situações e as decisões tomadas, o grau de investimento e imersão por parte de jogador em toda esta dinâmica é elevado e já muito raro de se verificar nos tempos que correm em jogos do género. É assim perfeitamente possível passar horas consecutivas a jogar sem intenção, mesmo que no geral, o enredo não seja uma evolução significativa desde o passado, nem tão pouco algo revolucionário em comparação com os seus contemporâneos mas não foi esse o objectivo principal que a Level-5 quis alcançar com uma das suas mais ambiciosas produções. A jornada é decididamente mais importante que o final, sentimento perfeitamente replicado na totalidade de Dragon Quest VIII.
O simples mas viciante combate por turnos marca igualmente presença uma vez mais e continua tão divertido e cativante como sempre foi. Entre ataques normais, magias, habilidades ou simplesmente correr, as abordagens para cada confronto são infinitas, ao mesmo tempo que nenhuma delas é complexa o suficiente para fazer evitar qualquer tipo de embate com inimigos ao se navegar por cada um dos cenários e masmorras da história. Evoluir as personagens demora bastante tempo mas dado a combinação entre o excelente sistema de combate e o desafio oferecido pela IA inimiga ser tão boa, isto não será nenhum martírio, antes pelo contrário. É necessário, no entanto, ter em conta que o jogo não é nada fácil, mesmo nos seus momentos iniciais, pelo que se pode demorar um pouco até dominar os limites a que se pode levar cada personagem sem que elas faleçam em combate. Caso isto aconteça, o jogador acorda na igreja da última cidade visitada com um pesado sentimento de culpa e o misterioso desaparecimnento de metade da moedas de ouro que tinha no inventário. Nunca chega a ser uma experiência frustrante, já que se aprende com os erros e morrer subitamente desde cedo prepara os jogadores para momentos bem mais complicados horas e horas de jogo mais tarde. Os pormenores em certas situações de combate são também deliciosos, com vários inimigos a revelarem a sua personalidade através de certas decisões em vez de atacarem os heróis. Desde gatos que preferem aperaltar-se a combater, sinos que apenas servem para chamar mais inimigos ou um saco possuído que passa mais tempo à gargalhada do que a provocar danos, há mesmo um pouco de tudo e descobrir todos estes pequenos pormenores é algo bastante divertido e mesmo inesperado. Descobrir também a variação de tácticas que os mesmos tipos de inimigos poderão empregar ou quais serão os ataques possíveis vindos de inimigos ainda desconhecidos são tudo factores que contribuem para a jogabilidade sempre cheia de vida e que impedem que todo este processo não seja repetitivo ou entediante. Mesmo assim, foi incluída a opção de tornar o combate duas vezes mais rápido, uma dádiva dos céus que vai poupar uma enorme quantidade de tempo para, por exemplo, explorar a fundo cada cenário.
O sistema de progressão é bastante simples e directo. Cada vez que é evoluído um nível por personagem, ela recebe um certo número de pontos de habilidade que poderá gastar nos vários parâmetros específicos a cada uma. Aumentar a proficiência com espadas de forma a aprender novas habilidades com ela ou optar por ser um mestre do boomerang são exemplos de escolhas que os jogadores vão fazer constantemente para todos os protagonistas que compõem o grupo. As combinações possíveis são mais que muitas e é possível moldar cada uma delas ao gosto do jogador e tornar cada uma delas o mais útil possível em combate, visto cada uma ser mais apta a desempenhar diferentes funções, estando cada uma das suas “skill trees” associadas à sua propensão para certas armas e habilidades com ela relacionadas.No que ao aspecto visual diz respeito, Dragon Quest VIII também não falha a marca de excelência. Mesmo não tendo texturas com o nível de detalhe da sua versão doméstica, o grafismo continua a ser muito bom para a consola e bastante acima da média para o que se tem visto na 3DS. Modelos tridimensionais de luxo animados de forma completamente fluída e os efeitos de ataques e magias são também mais que muitos e muito agradáveis ao olhar. O mundo que aqui se atravessa é também muito variado e distinto entre si, contando com vastas áreas como cavernas, florestas, oceanos e desertos, entre muitas outras. É um universo de jogo riquíssimo em conteúdo e exploração e o facto de nunca ser apontado ao jogador o local exacto a seguir confere uma liberdade pouco vista em títulos do género hoje em dia.
A banda sonora é também nada mais, nada menos que espectacular, com melodias e composições do melhor que está presente na portátil. Mesmo que a música aqui não seja de execução tão boa como a sua homóloga orquestral na PlayStation 2, a diferença não será muita para o jogador comum, que certamente a achará bela e rica de qualquer forma. O registo das vozes é também muito competente e abundante, com especial destaque para o intérpete de Yangus, ao qual o sotaque britânico fica simplesmente a matar.Como foi referido, Dragon Quest VIII: The Journey of the Cursed King é um jogo bom, muito bom mesmo mas tal como tudo, não é perfeito. A câmara, ajustada pelo D-Pad ou pelos botões traseiros, não transitou da melhor forma para a 3DS, necessitando de reajustes constantes em certas secções, principalmente em locais mais fechados. Os menus poderiam ser também um pouco mais intuitivos, com uma gestão mais rápida e acessível de itens e equipamentos como visto em jogos mais recentes. A impossibilidade de fazer uma gravação normal em vez de um "quick save" em qualquer altura da aventura é algo que também não se compreende.
Esta versão 3DS tem algum conteúdo adicional que se encontra nas versões anteriores do jogo. Existem agora duas novas personagens que podem (ou não) juntar-se ao grupo do herói, uma nova masmorra para explorar e um novo final para descobrir, já para não falar na nova missão fora do enredo que tem tanto de ridículo como de genial ao mesmo tempo. Introduzida no início do jogo, é possível tirar fotografias de certos inimigos, cenários ou personagens e mais tarde trocá-las por itens raros impossíveis de obter de outra forma. Todas elas adicionam algo novo ao jogo e constituem razões mais que suficientes para o vivenciar de novo. Mesmo já contando com quase treze anos de existência, este jogo teima e teima em não querer envelhecer por nada deste mundo.
Conclusão
Dragon Quest VIII: The Journey of The Curse King é simplesmente fantástico. Já o era em 2004, teve um mau momento entre 2013 e 2014 mas regressou em todo o seu esplendor neste ano de 2017. Enquanto uns tentam ser profundos e outros ridiculamente complexos, Dragon Quest VIII dedica-se de corpo e alma a oferecer o que a série sempre fez de melhor enquanto elimina (practicamente) tudo o que ela tem de menos bom. Um verdadeiro hino aos RPGs.
O melhor
- Componente audiovisual de luxo
- Sentimento de aventura do melhor que existe
- Imersão como poucos o conseguem
- Conteúdo completamente novo
O pior
- Câmara poderia estar um pouco melhor implementada
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo 3DS, gentilmente cedido pela Nintendo.
10 de Janeiro, 2017, 15:12