
ANÁLISE
New Super Mario Bros. Wii
Por João Tavares a
Curioso como a Nintendo depois de ter atingido o topo das plataformas 3D com o colossal Mario Galaxy na Wii, decide fazer uma viagem ao passado, agarrar novamente na fórmula de sucesso dos antigos jogos 2D Mario, e preparar um novo título mais moderno e adaptado às potencialidades que a consola desta geração possui. Muitos torceram o nariz, outros tantos nem sequer quiseram saber, apoiando-se sobre argumentos de que a Nintendo havia perdido o jeito de agradar à audiência hardcore, e que agora só se interessava pelo mercado mais casual. A meu ver, o maior erro no anúncio de New Super Mario Bros. Wii foi o foco em demasia na sua componente multi-jogador. Isto deu a ideia de que estaríamos perante um jogo Mario de plataformas apenas para ser jogado com amigos ou em sessões familiares. Na verdade, é imensamente divertido jogar acompanhado, e este modo acabou por ser uma adição de grande valor e que se começa a revelar como vencedora, mas mesmo que estejam a fazer planos para jogar sozinhos, a diversão não desvanece, e vão-se sentir tão ou mais entusiasmados como há quase vinte anos atrás, altura em que vimos o último Mario 2D ser lançado numa consola Nintendo caseira, com Super Mario World na SNES.

Já é uma imagem de marca reconhecida por meio mundo, mas nunca é demais dizer que a princesa Peach foi novamente raptada por Bowser e Bowser Jr., que desta vez se vêm acompanhados dos seus sete lacaios. Mario vê-se então em nova situação de salvamento, e desta vez terá nove inimigos pela frente, divididos pelos oito mundos de New Super Mario Bros. Wii cujos temas abrangem o deserto, as zonas geladas, as montanhas, as áreas vulcânicas, entre outras. É injusto dizer que as áreas apresentam bastante diversidade, porque o jogo consegue ir mais longe que isso. Cada nível em New Super Mario Bros. Wii introduz um elemento totalmente novo à jogabilidade, mantendo a experiência de jogo fresca desde o início ao fim. É impressionante a maneira como a Nintendo consegue maravilhar o jogador, mesmo depois deste já ter despendido bastantes horas nos níveis, e as surpresas apenas irão cessar quando terminarmos por completo a nossa aventura. É claro que as novidades são mais vincadas quando mudamos de mundo, mas mesmo dentro de cada um existe uma adição constante de novos elementos, uns mais engraçados que outros, mas todos de qualidade de topo.
Seja pelo acrescento de novos tipos de plataformas, ou pelo aparecimento de inimigos mais desafiantes, o jogo apresenta uma dificuldade elevada, e que não vai necessariamente progredindo. Pessoalmente tive mais dificuldade em ultrapassar certos mundos iniciais, do que os mais avançados, tornando-se relativo falar neste campo. O importante a reter é que este é, seguramente, um dos Mario 2D mais exigentes alguma vez feito. Um dos aspectos que ajuda no aumento de dificuldade é a diversidade que mencionei anteriormente, que de certa forma testa os reflexos do jogador, e nunca o deixa guiar-se por um padrão pré-definido, tornando todos os nossos movimentos mais instintivos, e menos planeados. Creio que é aqui que o jogo consegue surpreender mais, e a sua qualidade deve, em grande parte, a esta situação. Para além de plataformas rotativas, vamos encontrar lianas e correntes onde balançar, armadilhas que nos obrigam a avançar rapidamente, e até plataformas que se controlam através do sensor de movimentos do Wii Remote. Uma ligeira inclinação do comando para a esquerda, ou para a direita, vai acabar por inclinar a plataforma onde estamos. Outro tipo de utilização dada, e só para dar mais um exemplo, é o controlo de um posto de luz que controlamos da mesma forma e que está colocado numa jangada que iremos utilizar num dos níveis do jogo. Ou seja, para além da habitual preocupação dos jogadores em saltar da esquerda para a direita, temos ainda estas funcionalidades extra que ajudam a variar a jogabilidade, e que são uma mais-valia.

Outra grande novidade do jogo é o Super Guide. Depois de morrermos oito vezes seguidas num determinado nível, aparecerá um cubo verde no inicio da próxima sessão de jogo, e se o usarmos Luigi vai surgir e a partir daí é iniciada uma espécie de demo de como passar todos os obstáculos. A qualquer altura desta demo podemos parar Luigi, e tomar nós novamente o controlo da acção a partir do momento em que pausamos. O Super Guide veio, de certa forma, dar liberdade criativa à Nintendo, que vinha a demonstrar preocupação para com aqueles que poderiam achar o jogo excessivamente difícil, e por essa razão paravam de o jogar. Desta forma, não só os jogadores mais exigentes recebem um jogo à altura das seus padrões, como os mais novatos nunca ficarão presos em nenhuma situação, podendo apreciar toda a experiência de New Super Mario Bros. Wii sem nunca correrem o risco de ficarem bloqueados numa determinada área. O Super Guide poderá ser o começo de algo novo, não só para a Nintendo, como para a indústria dos videojogos em si.
Mas as novidades não se ficam por aqui. Foram ainda acrescentados novos power-ups, a saber: a Ice Flower, o Propeller Suit, o Penguin Suit, e a estreia do Mini Mushroom, que havia aparecido na versão DS de New Super Mario Bros. Seguindo esta ordem, a Ice Flower é semelhante à Fire Flower, mas em vez de permitir a Mario lançar bolas de fogo, vamos poder lançar bolas de gelo que congelam os inimigos ao toque. Podemos depois pegar nas monstruosidades congeladas, e atirá-las para onde bem entendermos. O Propeller Suit permite a Mario rodopiar até grandes altitudes, antes de começar a cair. Durante a minha experiência, senti que este power-up possui um poder algo abusado, e sempre que o utilizamos, grande parte das situações complicadas dos níveis acabam por ficar bastante acessíveis. O Penguin Suit é igualmente divertido, munindo o canalizador não só das bolas de gelo, como também dando-lhe a habilidade de deslizar com a barriga no gelo a alta velocidade, e garante uma maior flexibilidade de movimentos em zonas subaquáticas. É extremamente divertido, e um dos meus favoritos. Já o Mini Mushroom, muitos dos jogadores que odiaram este power-up na DS, vão continuar a odiá-lo na Wii, porque está basicamente igual. Mario ganha dimensões muito reduzidas, permitindo-lhe correr sob a superfície da água e andar em cima de balas “Bullet Bill”. O grande problema é que quando Mario se encontra neste estado, ao mínimo toque morre, e nem mesmo os saltos gravitacionais que ganha o deixam escapar de situações mais complicadas. Continuo a achar este o power-up mais inútil dos jogos Mario em geral.

Não serão só os níveis que estarão apinhados de diferentes perigos. O próprio mapa-mundo onde navegamos apresenta alguns desafios. Na realidade são dois, e ambos consistem em salvar Toad. Em certos locais dos mapas costumam andar inimigos a fazer a ronda aos caminho que temos de percorrer, e sempre que formos de encontro com eles, dar-se-à inicio a uma espécie de mini-jogo, onde teremos de apanhar todas marcas do Toad ao mesmo tempo que nos esquivamos dos inimigos que se encontram no ecrã. Depois de todas as marcas terem sido coleccionadas, surgirá o baú onde Toad se encontra preso, restando-nos apenas abri-lo. A outra situação que envolve também o salvamento de Toad já exige que passemos o nível onde ele está aprisionado. No mapa-mundo vai surgir um ícone a indicar-nos o pedido de ajuda desta personagem, pelo que a partir daí temos de entrar nesse nível, encontrar Toad num dos blocos de moedas, e transportá-lo até à bandeira final, o que nos impede de usar qualquer tipo de power-ups. Em ambos os casos somos premiados com power-ups de reserva, que poderão ser escolhidos no mapa-mundo, e que nos dão as habilidades respectivas logo no início do próximo nível em que entremos.
Existem ainda espalhadas pelo mapa-mundo diversas casas de apoio onde podemos ganhar mais alguns destespower-ups de reserva, e que vão acabar por ser muito úteis ao longo do jogo, bem como cogumelos de vida. Para conseguirmos obter os poderes, vamos ter de entrar num mini-jogo em que tentamos descortinar pares, até eventualmente chocarmos com o par de Bowser e Bowser Jr. que põem termo à sequência. Para ganharmos vida, o mini-jogo é diferente, envolvendo um canhão que teremos de apontar aos ícones em movimento, e consoante a nossa pontaria poderemos ganhar mais, ou até nenhuma, vida extra.
Foi com alguma pena que não vi um modo dedicado a mini-jogos ser inserido em New Super Mario Bros. Wii. Aqueles que jogaram o jogo DS estarão conscientes de que a colectânea de minijogos presentes no cartucho era, não só variada, como de grande qualidade. Estava à espera de ver algo desse género ser incluído na versão Wii, ainda para mais com a vertente multijogador, que proporcionaria momentos ainda mais engraçados e socializáveis.

Aproveitando a deixa do multijogador, chega agora a vez de falar do tão cobiçado modo para até quatro jogadores, que foi usado como bandeira de propaganda para New Super Mario Bros. Wii. Como já devem ter concluído com tudo o que foi dito até aqui, este novo Mario 2D tem muita qualidade, e vai fazer-vos passar por momentos de grande diversão, mas assim que entramos nos níveis com conhecidos nossos, essa diversão passa para níveis de uma outra liga. Quer seja para ajudar, ou para pura e simplesmente criar caos, vamos poder juntar mais três jogadores e entrar nos mapas para algum entretenimento de qualidade. O jogo está preparado para este modo cooperativo com alguns movimentos que apenas são possíveis quando jogamos acompanhados. Por exemplo, podemos atirar o outro jogador, podemos levantá-lo para ele usar o seu Propellor Suit e elevar-nos a nós também no ar, podemos pegar noutro jogador para partilhar o nosso poder de estrela com ele, podemos saltar para cima dele para ganhar maior impulso, podem fazer o “Ground Pound” (cair de cu) ao mesmo tempo para criar uma onda de impacto gigante, entre muitas outras coisas.
Neste modo, cada cubo liberta quatro power-ups, para que todos tenham acesso aos poderes ao mesmo tempo, e sempre que um dos nossos colegas morre, ele reaparecerá numa bolha que terá de ser rebentada por algum dos jogadores ainda vivos. Temos ainda a possibilidade de entrar numa destas bolhas a qualquer momento, bastando para isso carregar no botão A. Esta opção é ideal para quando um jogador não se sentir confortável com determinada área do nível, ou caso deseje fazer uma pausa sem interromper o ritmo da acção.
Temos ainda um outro modo de nome “Coin Battle”, que tem uma vertente mais competitiva que o “Free Mode”, onde os quatro jogadores terão de competir pelo maior número de moedas.
De referir também que, como personagens jogáveis temos Mario, Luigi e dois cogumelos. Tenho visto algumas queixas a respeito desta falta de variedade, e da implementação algo desastrada de dois cogumelos sem carisma, mas assim que os jogadores se envolvem no jogo em si, depressa se esquecerão deste pequeno detalhe.

Depois de tanto ter sido dito relativamente à jogabilidade, o que impede este jogo de ser perfeito? Bem, tenho duas grandes queixas a fazer, sendo uma delas a falta de online, e outra a falta de mais esquemas de controlo. Quanto ao online, já se percebeu que a Nintendo não tem o mínimo interesse em explorar essa plataforma, algo que só deverá acontecer numa futura consola de nova geração, mas é impossível deixar de denotar que foi aqui perdida uma oportunidade de ouro em criar um jogo completo. Estamos numa era em que modos multi-jogador online já se começam a tornar numa coisa banal, e New Super Mario Bros. Wii só teria a ganhar com uma compatibilidade deste tipo.
Os esquemas de controlo são apenas dois. Ou jogamos com o Wii Remote na horizontal, ou com o combo Nun-Chuk + Wii Remote. No primeiro caso, passadas algumas horas de jogo senti algum cansaço da minha mão, até porque o comando não é ergonómico quando segurado numa posição deitada. De qualquer das formas, acabei por jogar assim porque também não pretendia utilizar o analógico do Nun-Chuk para controlar Mario num jogo de plataformas 2D, onde um D-Pad tem sempre uma capacidade de resposta maior. Porque é que o Classic Controller foi deixado de fora? Para nos obrigar a utilizar os sensores de movimento? Tudo poderia ter sido perfeitamente adaptado aos botões do comando tradicional, e sempre seria mais uma opção de escolha para pessoas que, tal como eu, não apreciam assim tanto o Wii Remote para jogos de plataformas. Certas acções requerem também algumas combinações pouco práticas, como quando vamos a agarrar em algo, onde temos de manter premido o botão 1 do comando, e agitá-lo. Não é tão intuitivo como seria ideal.
Em termos de longevidade, New Super Mario Bros. Wii é um jogo que faz valer, e bem, o vosso investimento. Mesmo que tenham de colocar de parte o modo multi-jogador que vos garante entretenimento quase que infinito, ainda vão ter muito que fazer no modo para apenas um jogador, mesmo depois de passarem a história até ao fim. Ao longo dos níveis estão espalhadas três Star Coins, que são moedas especiais que normalmente se encontram escondidas em locais secretos, ou de difícil acesso. Depois de coleccionarem todas essas moedas de um determinado mundo, será desbloqueado um nível especial no mundo 9, que é aberto depois de salvarem a princesa. Neste mundo vão encontrar os níveis mais difíceis de todo o jogo, apresentando um level design demolidor e muito desafiante. Só esta componente do jogo vai acrescentar mais algumas horas à longevidade, mas as Star Coins podem ainda ser usadas para comprar vídeos de dicas gravados pela própria Nintendo onde vemos uma IA controlar os personagens em demonstrações de perícia que são um regalo. Dentro de cada mundo existe ainda um nível secreto, cujo acesso está normalmente escondido num local de um dos outros níveis. Mesmo depois de completarem o jogo, vão andar a explorar todas as áreas vezes e vezes sem conta, e o melhor de tudo, é que o jogo consegue incentivar o jogador a fazê-lo sem que este se aborreça. A qualidade de New Super Mario Bros. Wii também ajuda…

No campo técnico não há muito a revelar. Pode-se dizer que, graficamente, este jogo acaba por ser um update da versão DS, com um pouco mais de definição, e animações mais fluídas. De qualquer das formas, vamos encontrar diversos pormenores fantásticos, e todos os mundos são recriados de uma forma perfeita pelo habitual estilo colorido dos jogos Mario. É uma autêntica viagem ao passado, mas com um aspecto modernizado e bonito.
Sonoramente vão também encontrar alguns remixes das músicas já existentes, e todas elas apresentam a qualidade a que só a Nintendo nos habituou. São aquele tipo de temas que marcam o mundo dos videojogos e ficam nas nossas cabeças durante longos períodos de tempo, e que passam e tocam gerações de jogadores mesmo anos mais tarde. As faixas de New Super Mario Bros. Wii podem não ter o tom épico de uma banda sonora de Zelda, ou a espectacularidade orquestral de um Mario Galaxy, mas ficam igualmente no ouvido, e até os próprios monstros dançam ao seu ritmo durante os níveis. Não, não estou a gozar.
Conclusão
Às vezes a indústria precisa disto, uma viagem ao passado para recordar tudo e todos que os jogos não são apenas gráficos e valores de produção, e que muitas vezes, a solução para a criação de um jogo soberbo está na simplicidade de processos, e acima de tudo na criatividade. Miyamoto voltou a brindar os jogadores com mais uma obra-prima, e volta a deixar a sua marca no legado dos jogos de plataformas, apresentando um sério candidato a melhor jogo de plataformas 2D de sempre. É claro que New Super Mario Bros. Wii não está isento de falhas, e notou-se alguma falta de ambição em certos aspectos, como na falta de um modo online ou de mais personagens jogáveis, mas isso são detalhes que passam claramente ao lado assim que uma pessoa pega no comando, e entra no maravilhoso mundo Mario, deixando-se cativar por uma jogabilidade minimalista, mas viciante. Aqui têm mais uma razão para adquirir uma Wii, se ainda não o fizeram.
O melhor
- Plataformas 2D em todo o seu esplendor
- Novos power-up são uma adição de valor
- Constante introdução de novos elementos nos níveis
- Muito divertido, tanto para 1 como para 4 jogadores
O pior
- Oportunidade perdida com a falta de um modo online
- Escassez de opções de controlo, Classic Controller não suportado