
ANÁLISE
Puzzle Quest 2
Por João Tavares a
Tudo começa novamente com a criação da nossa personagem, e mais uma vez essa escolha abrange quatro classes diferentes: Barbarian, Sorcerer, Assassin e Templar. Ou seja, nada de novo. Creio que não teria sido complicado introduzir uma ou duas classes diferentes, talvez numa tentativa de não obrigar o jogador a repetir um estilo de jogo que já vinha de trás. De qualquer forma, denota-se uma direcção de arte mais consistente (mas nem por isso inspirada), tal como havia sido apresentado no primeiro título.


Um mundo de jogo mais elaborado foi uma das apostas para esta sequela.
Criada a personagem, chega a hora de pisarmos o novo mundo de jogo onde está a grande novidade de Puzzle Quest 2. Nesta sequela, os produtores decidiram trocar o velho esquema de "tabuleiro de jogo" por um verdadeiro mundo desenhado e detalhado pronto a ser explorado, num estilo que não irá confundir os fãs de RPG ocidentais. Infelizmente, esta exploração é feita num estilo "on rails", impedindo que a nossa personagem se mova livremente. Em vez disso, é encaminhada automaticamente apenas para locais onde podemos interagir com a stylus ou nas setas de mudança de cenário. Embora seja um passo em frente em relação ao primeiro Puzzle Quest, este estilo traz alguma linearidade indesejada e um espectro de visão reduzido. No tabuleiro de Puzzle Quest conseguíamos ver toda a área de jogo e localização dos monstros, agora estamos confinados a uma sala e o mapa de jogo apenas nos mostra a arquitectura do local, relegando para segundo plano a localização de inimigos, o que na minha opinião piora a experiência de jogo. Torna-a mais séria, mas o que sempre demarcou Puzzle Quest dos demais foi a sua simplicidade e casualidade.
Um outro aspecto que torna a experiência mais frustrante está ligado à quantidade exagerada de inimigos. Regra geral, depois de entrarmos numa missão somos obrigados a atravessar imensas salas até chegarmos ao nosso destino. Uma tarefa que aparenta ser simples mas que rapidamente se revela entediante e demoroso. Se no primeiro Puzzle Quest tínhamos um par de batalhas antes de chegarmos ao nosso objectivo, em Puzzle Quest 2 esse número ultrapassa a dezena, o que é completamente desproporcional e uma opção de design muito mal escolhida. Este aspecto trava a progressão do jogo de tal forma que serão muitos os que se sentirão desmoralizados por não verem progresso significativo na história. Chega a parecer que estamos apenas a batalhar sem qualquer objectivo, e isso só é divertido até certo ponto porque rapidamente ganhámos vontade de avançar e o jogo não nos permite.
Para além dos inimigos comuns, em Puzzle Quest 2 algumas das salas estão também armadilhadas e repletas de minijogos. Esta é outra novidade da sequela, que apresenta uma maior variedade nas habituais grelhas de gemas. Dando alguns exemplos, no início do jogo entramos num minijogo em que temos de apagar o fogo de uma habitação explodindo com gemas azuis. Outro minijogo recorrente tem como objectivo abrir portas trancadas, alinhando peças da mesma cor para explodir a última linha da grelha. Mesmo para abrirmos tesouros somos obrigados a recorrer a combos para surgirem chaves que dão direito a equipamentos ou itens de upgrade.
A nível de personalização, Puzzle Quest 2 ficou, incrivelmente, a perder com o seu antecessor. Estava convicto de que a equipa de produção desenvolvesse ainda mais o sistema de evolução da personagem, contudo decidiram seguir um caminho que simplificou talvez em demasia essa componente. Já não podemos espalhar os pontos de "stats" ao nosso gosto, bastando apenas escolher um campo em cada nível que aumenta logo um conjunto de características. Para compensar, o equipamento está agora mais variado e podemos pela primeira vez utilizar uma arma em combate. Os equipamentos podem ser evoluídos recorrendo a materiais que ganhamos nas batalhas ou encontramos nos cenários, havendo ainda uma maior exigência no que diz respeito ao manuseamento do dinheiro e que a certa altura começará a ser escasso. Também não teremos as habituais cidades para conquistar, mas o número de "side quests" aumentou bastante tornando o jogo relativamente mais longo em relação ao primeiro, embora com menos acções de exploração livre. A ajudar na longevidade está ainda um modo multijogador semelhante ao que foi apresentado no passado, exigindo um cartucho de jogo do segundo jogador.


Alguns combates estendem-se por demasiado tempo, o que acaba por afectar a componente pick 'n play.
Abordando a nova grelha de jogo, é visível o polimento gráfico que esta levou, apresentando não só um aspecto mais cuidado como algumas novidades em relação às gemas que teremos à disposição. De fora ficaram as antigas gemas de dinheiro e de experiência para darem lugar à nova mana roxa e às gemas de acção que servirão para atacarmos com a arma que cada personagem tem equipada. Esta nova implementação da arma acaba por ser mais uma forma de ataque que temos à nossa disposição para além dos feitiços e das caveiras, e ajuda a acelerar os combates. Mas apesar de alguns combates serem rápidos, outros podem demorar uma eternidade devido a um grande desequilíbrio na I. A. que já vem do primeiro jogo e que consegue piorar aqui. O problema está na "sorte" exagerada dos inimigos em explodir gemas em cadeia, como que adivinhando as novas peças que irão cair na grelha. Chegamos a ficar diversos turnos simplesmente a olhar para o ecrã à espera que todo esse festival termine, e em certas alturas isso acaba por ser demasiado frustrante. Algo que agrava ainda mais esses turnos sequenciais é a existência de "skills" capazes de gerar uma enorme quantidade de gemas da mesma cor. Resumindo, o sistema de jogo devia estar mais equilibrado.
Um apontamento final para a componente sonora bastante fraca. Puzzle Quest nunca primou por uma componente musical fantástica, e esta sequela de certa forma continua o legado musical deixado pelo primeiro jogo, com faixas de inspiração épica mas às quais lhes falta uma pitada de um certo ingrediente especial para serem algo mais. O grande problema está mesmo nos efeitos sonoros, que são do pior que tive oportunidade de ouvir sair das colunas da minha DS. É incompreensível, mas os barulhos suaves das explosões das gemas do primeiro jogo foram substituídos por ruídos rudes e desconfortáveis que rapidamente vos irão convencer a desligar o volume da consola.
De facto, Puzzle Quest 2 traz muitas novidades para cima da mesa, mas infelizmente a maioria delas acaba por não dar nada de novo a um jogo que já era quase perfeito. Se alguma coisa fazem é complicar algo que se exigia simples e casual, algo que o primeiro jogo apresentou com grande classe e eficácia. Mas afirmar que Puzzle Quest 2 é pior que o seu antecessor não o torna obrigatoriamente num mau jogo, pelo contrário. A mecânica que tantos jogadores aliciou continua lá, e os fãs do primeiro jogo, apesar de encontrarem algumas desilusões neste novo cartucho, vão também encontrar muito entretenimento para um longo período de tempo. Para quem nunca teve oportunidade de jogar Puzzle Quest, agarrem esta oportunidade e testem um dos melhores jogos de puzzles do ano.
O melhor
- Contínua viciante
- Mundo de jogo mais elaborado e bonito
- Mais variedade de minijogos e sidequests
O pior
- Efeitos sonoros desastrosos
- Demasiados combates secundários
- IA desequilibrada