
ANÁLISE
Onslaught
Por João Tavares a
A Hudson é uma das produtoras que mais e melhor aposta no WiiWare. Mesmo quando os seus jogos não têm uma qualidade de topo, nota-se que pelo menos a base está lá, e que existem diversos pontos interessantes e ideias construtivas. Onslaught por si só é capaz de despertar a curiosidade ao mais distraído dos jogadores. Não há muitosFirst Person Shooters na Wii, o que é algo inexplicável, e muito menos seria de esperar um jogo deste género num serviço tão limitado como é o WiiWare. A Hudson arriscou, e tentou utilizar alguns dos conceitos mais usuais para tentar a sua sorte num género onde não tem assim tanta experiência.
De facto, Onslaught é o maior jogo presente no WiiWare, ocupando na totalidade os 40mb permitidos pela Nintendo, o que pode acabar por explicar duas coisas. Uma delas é que o serviço não está pronto para receber certo tipo de jogos, e a outra é que realmente existe uma tentativa em optimizar o WiiWare apenas para jogos inovadores, com ideias frescas, algo que este jogo não consegue apresentar. Posto isto, será seguro dizer que a Hudson cometeu um erro no desenvolvimento de um FPS sabendo de todas estas limitações? Talvez sim, talvez não, mas quem sai a ganhar da situação são os jogadores, que vêm o leque de géneros disponíveis no WiiWare ser ampliado por iniciativas como esta. Apesar de Onslaught ser algo desinspirado e não apresentar nada de novo, nota-se que houve muito esforço por parte da Hudson em fazer um jogo completo, e que conseguisse providenciar uma experiência interessante a um preço reduzido.

A história de Onslaught está cronologicamente situada num futuro algo longínquo, onde uma colónia de pesquisas perde contacto com a base numa situação que obriga a nossa equipa a deslocar-se até ao local para tentar perceber o que aconteceu. Depressa caímos numa emboscada e somos atacados por diversos monstros, dando assim inicio à nossa aventura por um terra repleta de ameaças, de onde temos de escapar com vida.
O jogo, no que diz respeito à acção, tem um foco muito vincado nos tiroteios em massa, onde raramente estaremos a disparar contra um conjunto pequeno de abominações da colónia. Sempre que nos aparecem inimigos, estes surgem em grandes quantidade, e esta é a principal característica deste FPS da Hudson. A certas alturas os embates chegam a ser frenéticos, enchendo-nos de adrenalina enquanto não largamos o dedo do gatilho tal é a quantidade de alvos. Este tipo de mecânica há muito que foi abandonada, mas a Hudson parece que fez uma pequena viagem ao passado e decidiu revitalizar algo que se via perdido numa geração que agora claramente aposta em altos valores de produção, e em abordagens mais estratégicas e cinematográficas.
A nossa única ajuda para cumprirmos a missão está no arsenal que carregamos, e nos dois companheiros de equipa. A nível de armas existem quatro tipos diferentes, um chicote, e granadas. Dentro das armas de fogo temos duas metralhadores, uma com disparo automático, e outra com disparo burst, a sempre fiel shotgun e uma bazuca. Esta diversidade ajuda a dar um outro alento aos nossos confrontos, e cada uma acaba por ter uma utilidade diferente consoante a situação em que estivermos. Todos os inimigos têm um ponto fraco que teremos de atingir para os derrubar, sendo que a certa altura não podemos simplesmente disparar à toa para onde estamos virados, exigindo uma certa perícia da parte do jogador. Cada monstro acaba também derramar uma gosma verde que será a principal ameaça à nossa barra de energia. Esta gosma pode ser projectada pelo próprio monstro, ou expelida do corpo quando este explode com as nossas investidas. Sempre que entramos em contacto com esta substância, começamos a perder vida e somos obrigados a limpar-nos abanando o Nunchuk. Este é um dos pontos mais interessantes da jogabilidade de Onslaught, e exige desde logo uma atenção redobrada do jogador para evitar este perigo.
Os sensores de movimento dos comandos são também utilizados para outras funções, e a sua aplicação está muito bem conseguida. No caso do chicote, vamos abanar também o Nunchuk para o utilizarmos, dando uma sensação de imersão muito agradável. O mesmo acontece para as granadas, onde fazemos o já habitual movimento para as arremessarmos.

Para além de todos estes elementos, durante algumas missões vamos também encontrar meios de transporte, o que me deixou bastante surpreendido. Este veículo permite-nos deslocar rapidamente pelos cenários, e ainda está munido de uma simpática metralhadora de alto calibre. Este é mais um aspecto positivo. Quando a aspectos negativos, denotei uma falha grave no sprint que podemos fazer com a personagem. Tendo em conta o tamanho enorme de alguns níveis, e deixando aqui a informação de que os soldados correm muito lentamente, vamos estar na maior parte do tempo a tentar executar um movimento de sprint. Para o fazermos temos de empurrar o stickanalógico do Nunchuk duas vezes na direcção pretendida. O problema é que ao longo dos níveis existem diversos declives na superfície que estranhamente fazem o nosso soldado ficar parado por identificar esse pequeno declive como uma queda acentuada. Creio que aqui poderá ter havido algum problema de programação, mas não deixa de ser extremamente frustrante.
A estrutura do modo singleplayer está dividida em missões, e temos de as completar progressivamente para desbloquear novas. Este jogo é um dos mais difíceis de todo o serviço WiiWare, e apesar de começar de uma forma acessível, rapidamente teremos missões que são o verdadeiro inferno, e isto num modo de dificuldade mediano. Se optarem por jogar nos modos mais difíceis vão encontrar aqui um desafio muito puxado. No final de cada missão é-nos atribuído um ranking pela nossa prestação, e os jogadores mais exigentes irão encontrar aqui um motivo para repetir o jogo vezes sem conta em busca de uma pontuação mais elevada. E não sendo isto suficiente, a Hudson adicionou leaderboards onde poderão competir em plena rede Wi-Fi pelo estatuto de melhor Onslaughter. A melhor maneira de acumularmos uma boa pontuação é matando monstros de uma forma consecutiva, o que resultará numa multiplicação dos pontos que por natureza ganharíamos. Uma espécie de sistema de combo.

No entanto, o uso do Wi-Fi não se fica por aí. Onslaught apresenta ainda um modo online cooperativo para até quatro jogadores! Aqui vamos poder juntar-nos a amigos ou desconhecidos em missões onde a equipa terá de trabalhar em conjunto eliminando, os monstros em cenários especialmente concebidos para este modo. Não existe compatibilidade Wii Speak, o que é uma pena num jogo tão focado no trabalho de equipa, mas é de louvar a inclusão de um modo online num FPS WiiWare quando vemos outros jogos do género no mercado físico sem este. Dedicação por parte da Hudson não faltou a este projecto.
Resta então abordarmos o campo técnico do jogo. Mesmo tendo em mente que se trata de WiiWare, sou incapaz de perdoar certas falhas de Onslaught. Os modelos dos inimigos repetem-se demasiado ao longo do jogo, pelo que vamos encontrar cerca de cinco variedades de aliens, e depois vamos vendo uma reciclagem dos mesmos mudando apenas a cor. As texturas dos cenários também nos criam uma sensação de deja-vu missão após missão, e toda a arte ligada com o jogo é algo feia. Este serviço definitivamente não está pronto para receber algo do calibre de um FPS, daí ter posto em causa a iniciativa da Hudson em tentar fazer algo deste género no WiiWare, pois as limitações do serviço são desde logo um sério entrave à qualidade técnica que tem um papel importante neste tipo de jogo. Felizmente Onslaught apresenta-se com uma frame rate muito estável, e mesmo nos encontros mais populados não vemos um decréscimo da fluidez gráfica.
Quanto ao campo sonoro, é tudo bastante fraco. As músicas são banais, os efeitos sonoros são escassos, e os existentes passam despercebidos, e a voz que anuncia os nossos combos de pontuação apenas fica na nossa memória pela sua fraca interpretação, e por algumas das citações mais parvas que já ouvi num vídeojogo. That's why you're still a kid
Conclusão
O WiiWare é, neste momento, um serviço cheio de pérolas vídeo-jogáveis, o que deixa pouco espaço para projectos menos inspirados como é o caso de Onslaught. Aqui encontrarão um FPS cimentado em bases que há muito desapareceram do género, mas que a Hudson decidiu reutilizar. Se viveram a indústria dos jogos durante os finais dos anos 90 vão encontrar aqui um título que vos trará alguma nostalgia, e pouco mais. Mas se analisarmos Onslaught de uma maneira mais justa, o jogo está tecnicamente muito bem conseguido, tendo em conta as limitações do WiiWare. Os que estiverem dispostos a pagar os 1000 Nintendo Points encontrarão aqui alguma diversão, ainda que esporádica, no modo singleplayer, e um modo online que peca imenso pela falta de uma plataforma de comunicação entre jogadores. Se são fãs do género, e procuram uma proposta barata, então talvez queiram considerar Onslaught. Para todos os outros, passem ao lado.
O melhor
- Controlos bem implementados
- Inclusão de um modo cooperativo e boards
- Arsenal variado e jogabilidade frenética...
O pior
- ...que se torna entediante a curto/médio prazo
- Componente sonora um pouco fraca e desinspirada
- Presença de alguns bugs que tornam a experiência frustrante