
ANÁLISE
Mole Mania
Cavar buracos na Consola Virtual.
Por João Dias a
A toupeira está longe de ser o animal mais popular do imaginário colectivo. Com péssimas faculdades visuais, sem capacidade de voar, sem uma velocidade elevada, desprovida de um poder de ataque capaz de fazer frente aos adversários mais ferozes, a toupeira tem uma carreira discreta e concentra-se naquilo que faz melhor: cavar buracos e deslocar-se debaixo da terra. Não é assim surpreendente que se encontrem muito poucos jogos cuja personagem principal seja uma toupeira, mas Miyamoto é conhecido por ser o homem capaz de criar um jogo depois de olhar para um jardim de pedras (e os jogadores de Pikmin agradecem-lhe esse esforço).
Mole Mania surgiu em 1996, produzido pelo indivíduo que nos trouxe os nomes Mario e Zelda. Certo, não foi um título muito ambicioso, como aliás qualquer título lançado para o Game Boy a partir de Pokémon, mas não deixou de ter os seus pequenos encantos.
Temos então um jogo onde a nossa personagem, uma toupeira (surpreendidos?), tem de salvar a sua família de um malvado agricultor que os raptou. Em cada nível, salvamos um dos filhotes da nossa toupeira, depois de termos solucionado vários ecrãs dispostos numa perspectiva vertical. Não faltam os já costumeiros extras que nos ajudam pelo caminho, como corações que nos permitem recuperar energia ou mapas que nos ajudam a ter uma noção do nosso percurso.Em cada ecrã temos de derrubar a barreira que bloqueia a saída, barreira essa que só pode ser derrubada com uma bola metálica que deve ser empurrada na sua direcção. Uma vez que a bola metálica tem os seus movimentos condicionados pelas circunstâncias, vamos ter de usar a nossa capacidade de solucionar puzzles para ultrapassar cada ecrã e chegar ao fim do nível, onde enfrentamos um boss ao serviço do inimigo agricultor – e os bosses têm muito pouco a ver com o que normalmente encontramos numa exploração agrícola. Somos confrontados com uma série de obstáculos, objectos que podemos mover (embora nem todos permitam os mesmos movimentos), inimigos (alguns mais persistentes que outros) e um subsolo, para onde nos podemos deslocar e que nos permite abrir um buraco noutro ponto do mesmo ecrã – ou não fosse a nossa personagem uma toupeira.
Os desafios que solucionamos ao longo dos níveis começam por ser bastante simples e tornam-se progressivamente mais complexos à medida que avançamos, um aspecto de que Mole Mania se pode gabar, já que a dificuldade parece avançar sem desvios. Apesar do crescente nível de dificuldade e do número de objectos e inimigos com que temos de lidar no ecrã, não se verificam falhas técnicas nem perdas de velocidade – aliás, as animações mantêm sempre a sua fluidez e cumprem muito bem a sua função de apoio aos detalhes gráficos, bastante bons para um jogo de Game Boy de meados da década de 1990.Onde Mole Mania demonstrou ser uma boa aposta (ainda que pouco conhecida) no seu tempo, acaba por ser um jogo pouco atraente ao público actual. Os seus puzzles eram perfeitamente adequados ao período em que foi lançado mas em 2012, começam a acusar a idade. O que divertia os jogadores em 1996 não é necessariamente o mesmo que em 2012 e há dezasseis anos atrás, a repetitividade era mais aceitável num jogo do que hoje em dia – não se tratam de diferenças técnicas no que diz respeito à realização gráfica ou à componente sonora, mas antes em relação à forma como devemos solucionar os puzzles, que por sua vez decorre das limitações técnicas do seu tempo. Colocar este título nas mãos de um jogador com menos de 20 anos de idade, ou que não tenha noção do que foram os jogos nas gerações anteriores, é arriscado uma vez que vamos ter de realizar movimentos que consomem bastante tempo e repetir alguns ecrãs após termos percebido como devem ser solucionados – acções que se inserem perfeitamente no seu tempo, mas que hoje em dia muitos jogos já deixaram para trás.
Conclusão
Obviamente que se observado dentro do seu tempo, Mole Mania é um jogo que deve estar nas listas de preferências de quem aprecia um bom desafio, sobretudo se estivermos a falar de jogadores que conheceram o seu período ou que têm vontade de o descobrir. No que diz respeito a jogadores contemporâneos que apenas conhecem os paradigmas mais recentes, Mole Mania vai ser algo mais difícil de compreender e menos acessível, pelo que se aconselha alguma observação antes de fazer o download.
O melhor
- O nível de dificuldade e a forma como foi implementado
O pior
- Não se insere bem entre os jogos actuais