
ANÁLISE
Dragon Ball Z: Attack of the Sayans
Por João Tavares a
Dragon Ball é um fenómeno da animação que teve um impacto enorme na animação em Portugal durante a década de 90. Se questionarem pessoas com uma idade acima dos 20 anos, poucos serão aqueles que não terão esta série de desenhos animados bem presente na sua memória. A popularidade de Dragon Ball foi tão grande que ainda nos dias de hoje se lançam jogos baseados nesta licença, e Attack of the Sayans é a mais recente proposta da Bandai-Namco para a Nintendo DS.
Depois de uma sólida entrada de Dragon Ball: Origins na portátil da Nintendo, apresentando uma acção e jogabilidade interessantes, a editora parece também disposta a explorar a série Z, paralelamente aos jogos com a história inicial. Enquanto a série original é representada em jogos de acção corrida, Dragon Ball Z entra mais no campo dos RPG, mas se há coisa que se mantém, é a quantidade de fan service e o acompanhamento minucioso de todos os acontecimentos e personagens que popularizaram a animação Dragon Ball.


Situando cronologicamente Dragon Ball Z: Attack of the Sayans, este abrange todos os eventos desde o primeiro torneio de artes marciais em que Son Goku se apresenta adulto e luta contra Piccolo, até à chegada dos guerreiros do espaço Vegeta e Nappa, que têm como objectivo a destruição dos habitantes da Terra e posterior venda do planeta. A história é toda ela contada ao longo de diálogos, com um esporádico auxílio de imagens que infelizmente não ajudam muito à narração, apesar de atenuarem um pouco a excessiva quantidade de texto. Grande parte do tempo que irão perder no jogo será mesmo a ler conversas, e apesar de as podermos passar à frente, nem todos poderão querer fazê-lo, ou arriscar-se-ão a perder a narrativa. Os que sempre acompanharam a série de animação definitivamente não terão nada a perder em não acompanhar o desenrolar da história no jogo, porque basicamente é a mesma sem tirar nem pôr, mas todos aqueles que a desconhecem vão acabar por se perder no meio de tanta informação. Fiquei um pouco desagradado pelo simples facto de apenas uma pequena porção da história de Dragon Ball Z ser contada neste jogo, onde a Bandai-Namco podia ter perfeitamente cortado nos fillers e expandido a narrativa até ao planeta Namek, por exemplo. Isso não foi feito e o que se acaba por retirar, são basicamente dois acontecimentos chave, onde primeiro lutamos contra Raditz, e depois então contra Vegeta e Nappa. Retirando todas as outras fases mais aborrecidas da história, e acrescentando as batalhas mais épicas das fases seguintes com Frieza e Cell, poder-se-ia ter obtido uma experiência mais interessante, especialmente para o tipo de jogador que não está familiarizado com Dragon Ball.


Entre as fases de narração vamos então ter a acção habitual de um RPG tradicional, com os, por vezes, frustrantes encontros aleatórios de monstros pelos mapas, escolha de habilidades e ataques por menu e à vez e ainda alguns aspectos que melhoram o ritmo das batalhas que mantêm o jogador afastado de alguma monotonia. Sempre que um personagem nosso é atacado, vamos poder activar aquilo que é chamado de “Active Guard”. Este bloqueio está disponível apenas por um breve instante antes do ataque do adversário, e se conseguirmos pressionar o botão correspondente a tempo, o dano que recebemos será menor. A utilização deste comando a certa altura do jogo e nas batalhas principais, vai revelar-se como fundamental se queremos assegurar a vitória para o nosso lado.
Falando agora um pouco dos comandos de ataque, vamos ter três diferentes tipos por que optar. Temos o ataque normal, as habilidades e o ataque especial. Estes dois últimos ataques consomem Ki, que é a habitual mana ou energia espiritual dos RPGs, e podem ainda ser combinados entre personagens assim que estas tenham as suas barras de fúria preenchidas. As “Rage Gauges” vão sendo enchidas conforme nós atacamos ou somos atacados e basicamente desbloqueiam os ataques mais poderosos dos nossos lutadores. Depois de termos a barra cheia, podemos optar por efectuar o ataque especial que normalmente inflige uma grande quantidade de dano ao inimigo ou no caso de termos dois, ou até os três heróis com as respectivas barras completas, vamos poder desencadear um combo. Estes movimentos têm como designação “Sparking Combos” e a quantidade de combinações ascende às dezenas. Pelos mapas vamos ter espalhada informação relativamente aos movimentos necessários para desencadear certos combos, o que nos incentiva à exploração.
Existem ainda as “Dyno-Caps”, que são espaços onde podemos colocar cápsulas que têm diferentes tipos de efeitos que passam por melhorar certas habilidades, alterar o estado dos inimigos paralisando-os ou cegando-os, ou até tornando dar imunidade a certos tipos de perigos. Um sistema bem implementado e que dá uma abordagem mais estratégica a cada combate.


Infelizmente esta exploração nem sempre pode ser feita de uma maneira agradável, muito por culpa da estrutura dos cenários que vamos percorrendo a pé. O grafismo, apesar de detalhado, não é claro o suficiente para indicar ao jogador os caminhos que se podem percorrer ou os que são simples paisagem. Nem todos os cenários são confusos, mas alguns acabam por ter este problema, o que aliado aos combates aleatórios que nos colocam sempre à mercê de batalhas surpresa, pode resultar em alguns momentos mais frustrantes.
Outro aspecto que também acaba por gerar alguma confusão é a falta de uma sinalização quanto ao tipo de item que apanhamos. Para ser mais explicito, nos mapas vamos ter espalhados certos baús que escondem o mais variado tipo de equipamento, itens de recuperação e afins, mas sempre que abrimos um destes baús, apenas é apresentado o nome do objecto que acabamos de encontrar, sem especificar o tipo. Muitas vezes isto obrigou-me a procurar pelos ditos itens nos menus para tentar perceber o que é que tinha acabado de encontrar. Um simples símbolo poderia evitar tudo isto.
Resta referir ainda os obstáculos que encontramos em sítios estratégicos dos cenários e que terão de ser partidos com a ajuda do Ki, cujo nível vai evoluindo ao longo da aventura até atingir o terceiro grau. Ou seja, inicialmente vamos encontrar algumas pedras a barrar-nos o caminho para “Treasure Chests” que apenas poderão ser abertos mais tarde. Eu percebo a intenção de dar ao jogador motivos para revisitar certos locais, mas nunca senti a falta desses itens e muito menos vontade de voltar a locais percorridos só para atravessar novas fases de exploração, e de combates que entretanto ficaram mais monótonos devido à discrepância de níveis entre as nossas personagens e os inimigos da área.
Em termos de evolução das personagens, Dragon Ball Z: Attack of the Sayans apresenta um conjunto de habilidades e parâmetros susceptíveis de serem melhorados. Força, defesa, velocidade, são apenas algumas das categorias que podem ser reforçadas com pontos. Para além da experiência, o nosso grupo de lutadores vai também adquirir AP, que poderá ser utilizado para tornar as habilidades mais potentes, e melhorar alguns aspectos mais específicos dos atributos. As habilidades podem atingir um nível máximo de 5, que é o patamar máximo de poder e dano. Depois podemos ainda gastar alguns “Ability Points” a aumentar a barra de HP ou de Ki de cada lutador, bem como a sua evasão ou até mesmo a velocidade com que a barra de fúria enche.
Estando o jogo focado numa rotina de evolução fixa, ou seja, os inimigos não acompanham o desenvolvimento das nossas personagens, este aspecto vai simplesmente obrigar-nos a fazer algumas sessões de treino até atingirmos um nível de poder satisfatório e suficiente para eliminar o que nos aparecer à frente. Isto acaba por tirar muito do desafio que podíamos obter caso os inimigos mantivessem o mesmo ritmo competitivo que nós, algo que é usado em muitos outros RPGs de uma forma bem sucedida. O que também acaba por deixar a desejar é o sistema de distribuição de EXP por todos os elementos do nosso grupo. Haverão alturas da aventura em que vamos ter à nossa disposição todos os seis elementos que iremos controlar (Goku, Gohan, Tien, Piccolo, Krillin e Yamcha), mas apenas três podem estar presentes durante o combate. No final, a experiência ganha é igualmente distribuída por esses três lutadores, mas os outros três que ficaram de fora são penalizados. Isto a certa altura do jogo vai resultar numa discrepância enorme de níveis, e eventualmente vamos acabar por ter a nossa equipa preferida. O problema é que mais tarde haverão zonas onde acabamos por utilizar apenas um ou dois personagens, que poderão estar demasiado fracos por terem sempre sido relegados para segundo plano. Isto obriga o jogador a rodar constantemente a equipa e a utilizar um conjunto de lutadores que não é da sua preferência.


Podemos ainda vestir cada uma das personagens com equipamentos que vamos apanhando no decorrer do jogo e que também evoluem à sua maneira diferentes tipos de atributos, bem como ainda chegam a dar algumas habilidades especiais e protecção contra ataques de padecimento, como o veneno por exemplo. Teremos de fazer uma correcta distribuição destes equipamentos para evitar um desequilíbrio de força entre cada um dos elementos do nosso grupo.
Onde Dragon Ball Z: Attack of the Sayans mais brilha, é sem dúvida no campo gráfico, apresentando cenários muito detalhados, ricos, e diversificados, num mapa mundo que abrange todo o tipo de terrenos, sejam citadinos, montanhosos, ou desérticos. Os modelos das personagens estão todos bastante fieis aos desenhos animados, e as animações dos ataques são extremamente fluidas e de grande qualidade. De facto, estou seguro que a primeira vez que virem um combate a decorrer não vão deixar de reparar na quantidade de habilidades existentes e que certamente reconhecerão da série televisiva. O espectáculo visual ganha proporções ainda maiores aquando das habilidades especiais, que desencadeiam um quantidade absurda de movimentos, acompanhados por desenhos das expressões agressivas dos lutadores, o que culmina em muito eye candy. Infelizmente, e sendo também compreensível, ao fim de algum tempo vamos começar a sentir-nos enfadados de vermos as mesmas animações vezes e vezes sem contas, pelo que teria sido boa ideia deixar o jogador passá-las à frente ao invés de o obrigar a perder alguns segundos de visionamento depois de várias horas já concluídas na aventura.


Sonoramente podemos dividir um pouco a qualidade musical das faixas, onde encontramos algumas de grande qualidade e que certamente nos fazem recordar a série de animação, mas outros são demasiado reutilizados e rapidamente se tornam maçadores para os nossos ouvidos, naquilo que parece um looping interminável de poucos segundos. A ausência do tema principal de Dragon Ball Z pode também ser visto como uma desilusão, até porque muito dificilmente isso não terá sido incluído por motivos de licenciamento. Simplesmente soa estranho entrar no menu inicial de Attack of the Sayans, e não ouvirmos o tema que certamente se fixou na cabeça de muito boa gente. Num lado mais positivo, irão encontrar algumas vozes que são despoletadas quando efectuamos alguma habilidade, da mesma forma que irão ouvir Son Goku gritar Kamehameha de cada vez que o executa. Ou até o também popular Masenko de Gohan.


A campanha do jogo dura sensivelmente vinte horas, que são mais que suficientes para vos entreter. Depois de completarem a aventura não terão mais a fazer, a não ser que queiram repetir a experiência, o que dificilmente irá acontecer. A mecânica de jogo torna-se repetitiva a médio prazo, e não sei até que ponto os jogadores se sentirão motivados a adquirir uma sequela que está praticamente certa tendo em conta o final de Attack of the Sayans. Tenham também em atenção que se pretendem pegar no jogo, terão de o fazer por períodos de tempo algo extensos, já que apenas poderão gravar a acção nos “CC Points” que aparecem bastante afastados uns dos outros. Não foi incluída uma opção de Quick Save, o que é uma pena. Para além das pesadas travessias pelos diferentes terrenos do mapa-mundo, temos ainda de suportar intermináveis sequências de diálogo obrigando o jogador a manter-se agarrado à consola por períodos algo longos e que podiam ter sido amenizados.
Apesar de Dragon Ball Z: Attack of the Sayans coleccionar uma série de defeitos, se são fãs da série, muito dificilmente não se irão divertir com este jogo para a DS. Tem tudo o que poderiam pedir, desde personagens minuciosamente representadas, uma história meticulosamente recriada, habilidades bem retratadas nos ecrãs da portátil, e localizações familiares a todos os que cresceram a ver os desenhos animados. Para esses, este é um título mais que recomendado, pois é quase garantido que irão tirar proveito do mesmo, nem que seja pelo ambiente Dragon Ball. Todos os outros que apenas buscam uma boa experiência RPG, devem ponderar a compra deste jogo já que existem muitas outras propostas dentro do género, e de qualidade bem superior.
O melhor
- Muito fan servisse
- Boa apresentação gráfica
- Um RPG tradicional com uma base sólida
O pior
- Repetitivo a médio prazo
- Diálogos prolongam-se por um tempo excessivo
- Sistema de distribuição de experiencia desequilibrado