
ANÁLISE
Professor Layton and Pandora's Box
Por João Tavares a
A série Professor Layton é um caso de sucesso no nosso continente europeu. Antes de jogar um dos agora dois jogos disponíveis no mercado, confesso que não compreendia o porquê de Layton conseguir atingir altos valores de vendas, mas não me bastou mais de uma hora de jogo para o entender. Este título produzido pela Level-5 consegue, com mestria, aliar dois factores que tornam a sua mecânica e conceito interessantes. Por um lado Professor Layton pega na mais recente "moda" de puzzles na DS, conseguido por jogos como Brain Age, e que tanto público casual conseguiu atrair. A essa fórmula já vencedora, juntaram-se ainda valores de produção elevados, como um enredo muito bem elaborado, grafismo e direcção de arte acima da média, e uma componente sonora do melhor que podem encontrar na consola. Torna-se claro como a água que Professor Layton é algo destinado para qualquer tipo de jogador.


Em Professor Layton and Pandora's Box, Layton e o seu aprendiz, Luke, partem numa viagem em busca de respostas para um novo mistério. Tal como o título do jogo antecede, a caixa de Pandora será a base do enredo de Professor Layton, já que misteriosamente um conhecido do professor é dado como morto após abrir a dita caixa. Não convicto de tal cenário, Professor Layton apressa-se até ao local para finalmente perceber que há algo de errado com todo este presumível cenário. A partir daqui o jogador toma conta da acção, e dá inicio a toda a aventura. Inicialmente, a história conta com imensas "pontas soltas" e o jogador é, de certa forma, bombardeado com perguntas sem resposta, surgindo novos eventos e mistérios a cada esquina. Mas ao longo do jogo tudo se começa a conectar de uma forma surpreendente, e ninguém ficará indiferente às revelações. Este é um dos pontos mais fortes de Professor Layton. A história está muito bem trabalhada, e o jogador fica completamente envolvido neste caso que nem um verdadeiro detective.
A nível de diálogos a qualidade também está mais que assegurada. Todos os textos são muito ricos e bem escritos, e cada personagem tem a sua personalidade revelada através do estilo de diálogo que adopta. Iremos comunicar com muita gente ao longo de toda a aventura, e cada uma dessas pessoas que abordamos tem uma personalidade própria, acabando por incentivar-nos a interagir com tudo o que vemos. A interface do jogo está também muito bem dividida e apresenta-se bastante simples e de prática navegação. O menu do jogo é basicamente a mala de viagem de Layton, onde podemos guardar o jogo, ler os mistérios que temos pendentes, e aceder a muitos outros mini-jogos. Outro aspecto positivo do jogo é que ao arrancarmos com um save, é-nos sempre apresentado um breve resumo da situação actual da história em que estamos situados. Desta forma, mesmo que paremos de jogar durante algum tempo, nunca nos perdemos e conseguimos sempre situar-nos no enredo e nas tarefas a fazer.


Regra-geral cada pessoa que encontramos tem por habito dar-nos um puzzle a responder, mas existem outros tipos de jogos que vamos ter de completar. Acerca desses falaremos mais à frente, até porque são os puzzles que conferem a Professor Layton a sua identidade e grande parte do factor diversão. São para cima da centena, e vão puxar muito pela nossa capacidade de raciocínio e dedução, e aproveito para deixar já aqui o aviso: Se não são fãs de quebra-cabeças, ou de jogos matemáticos, devem evitar a todo o custo a compra deste jogo. Professor Layton não é aquele típico jogo que nos entretém com as habituais actividades de plataformas, tiros, ou simulação. Aqui, grande parte da nossa satisfação vem da auto-confiança que vamos adquirindo por conseguirmos resolver os puzzles que nos são dados. É excelente para pequenas partidas de poucos minutos, mas em certas alturas torna-se algo pesado tendo em conta o nível de concentração que impomos nas nossas sessões de jogo.
Para aliviar um pouco os níveis de frustração, que ocorrem com naturalidade quando não encontramos solução para um puzzle, a Level-5 introduziu no jogo um sistema de "Hint Coins". Enquanto nos movimentamos pelos cenários vamos poder explorá-los, tocando em todo o tipo de objectos, e em certo locais específicos, vamos encontrar estas moedas que serão utilizadas durante os desafios de puzzles. Ao todo é possível desbloquear três pistas para a solução final, e cada uma dessas três pistas é desbloqueada por uma "Hint Coin". Nem sempre as pistas são tão claras quanto pretendemos, mas a grande maioria acaba por deixar escapar aquele elemento chave que nos permite concluir o nosso raciocínio.
Puzzles à parte, teremos outro tipo de jogos onde entrar, todos eles bastante interessantes e cativantes, e que, acima de tudo, aumentam bastante a longevidade do jogo que no seu modo principal consegue chegar sensivelmente às treze horas. Ao todo são três os mini-jogos que encontramos na bagagem de Layton. Começando pelo jogo de chá, aqui utilizaremos diversos ingredientes que apanhamos ao longo da nossa aventura, para fazermos diferentes tipos de chá. Por todo o jogo vamos encontrando pessoas com sede e vontade de tomar um chá em especifico, e se soubermos servir o tipo correcto, normalmente recebemos um item, ou dica, em troca. Noutro jogo vamos montar uma câmara fotográfica com as peças que reunimos no modo principal, sendo a grande maioria conseguida através da resolução de puzzles. Posteriormente poderemos utilizar a câmara para fotografar sítios específicos. Por último temos o jogo do hamster, que é o meu preferido, onde nos é apresentada uma grelha onde podemos dispor vários brinquedos que o hamster gosta de agarrar. O nosso objectivo é colocar estes itens espalhados da melhor maneira de forma a obrigarmos a nossa mascote (que é baptizada por nós) a percorrer o caminho mais longo possível, para perder os quilos que tem em excesso. Se formos bem sucedidos, e alcançarmos o estado físico final do hamster, ele ganha a habilidade de detectar hint coins. Portanto, é possível concluir que este mini-jogos não só são divertidos, como também têm a sua devida importância no desenrolar da acção, o que é excelente.


Como já referido, a banda sonora presente em Pandora's Box está excelente. Todas as faixas musicais encaixam perfeitamente no estilo de jogo, e enquadram-se de forma exímia com as diversas localizações que vamos percorrer. O único defeito que encontrei foi precisamente na música que ouvimos durante a resolução dos puzzles. Tendo em conta que grande parte das nossas sessões de jogo são passadas nestas fases, teria sido uma boa ideia termos um leque maior de temas que variassem a cada novo puzzle iniciado. Bastavam uns três ou quatro, porque ouvir a mesma música durante todo o jogo torna-se entediante, por muito boa que seja, e a certa altura chega mesmo a perturbar a nossa cabeça que tenta a todo o custo chegar à solução do desafio que é apresentado. Ao fim de algumas horas, vão-se ver a baixar, ou até mesmo desligar, o volume quando resolvem puzzles. Mas tudo o resto está muito bom. Algumas personagens possuem voz, e embora só as ouçamos nos acontecimentos mais importantes, isso é o suficiente para ficarmos a desejar que todo o jogo fosse assim, mas compreende-se que não o seja, até porque a capacidade de memória do cartucho assim não o deverá permitir. De qualquer das formas fica aqui também a nota para o bom desempenho dos actores de voz que conseguem sempre manter o timbre certo e, não menos importante, encaixam muito bem a sua voz em todos os diferentes personagens. A própria narração, e respectiva narradora, dão aquele ambiente de "livro de conto de fadas" que encaixa como uma luva.
Graficamente, este jogo também consegue apresentar padrões qualitativos elevados. A direcção de arte é bastante única, e todas as vilas que vamos visitar apresentam uma vida e caracterização especiais que conferem a Professor Layton and Pandora's Box uma identidade muito própria. É esta identidade que vos vais agarrar ao jogo logo a partir do instante em que o ligam, porque graças à sua qualidade e alta beleza estética, sentirão um ambiente bastante propicio ao vicio contínuo. A cereja no topo do bolo, analogia que aqui se dirige ao campo técnico, foi sem duvida a presença de sequências de filme animado no cartucho do jogo. Não são muitas, mas as poucas que aparecem são uma mais-valia no geral.
Os que possuem internet e um router em casa poderão também ficar contentes por saber que Professor Layton and Pandora's Box tem conteúdo disponível para download. Depois de terminarem todos os puzzles, podem usar a ligação Wi-Fi para descarregar um novo puzzle todas as semanas. Isto acaba por óptimo se pretendem prolongar a vossa experiência de jogo por mais algum tempo. Mas mesmo que não tenham esta possiblidade, o jogo em si é bastante grande, e depois de terminarem a aventura principal, vão desbloquear uma nova secção onde encontram os puzzles mais difíceis que os produtores do jogo conseguiram inserir. Um verdadeiro desafio para aqueles que se julgam mestres dos quebra-cabeças.
Professor Layton and Pandora's Box é um dos melhores jogos DS, conseguindo aliar puzzles a uma aventura gráfica de grande qualidade, quer no que diz respeito à sua história, quer no campo técnico de elevada qualidade. No entanto, aqueles que não apreciam títulos que requerem um pouco mais de paciência e capacidade de raciocínio, vão rapidamente aborrecer-se com este tipo de jogabilidade, porque é exaustivamente focada nessa resolução de puzzles. Todos os outros que não têm medo de desafios, e costumam sempre agarrar no jornal "Metro" antes de entrarem no autocarro para fazerem o Sudoku do dia, poderão encontrar aqui um substituto à altura. No fundo, este novo jogo de Professor Layton vem consolidar o nome que o primeiro título apresentou ao público da portátil, e ao mesmo tempo comprovar que estamos perante uma série que rapidamente se está a tornar num fenómeno. Um dos melhores jogos para este final de ano, caso sejam adeptos do género.
O melhor
- Personagens carismáticas
- Tecnicamente acima da média
- Puzzles inteligentes e variados
- Puzzles semanais para download
O pior
- Aventura linear
- Fala diversidade sonora nos puzzles