
ANÁLISE
State of Mind
Conspiração mundial.
Por Sérgio Mota a
Desde o trailer que o anunciou que State of Mind gerou interesse pela peculiar e interessante direcção artística. As personagens exibem um aspecto poligonal reminescente de Alone in the Dark, que na sua época tinha visuais de topo. Se a direcção artística para as personagens parece um pouco arcaica, apesar de algumas melhorias que as tornam mais contemporâneas do que os modelos que lhes servem de inspiração, os ambientes apresentam um visual moderno com pormenores bem implementados, como os pingos da chuva ou os diferentes efeitos luminosos da cidade em ambientes nocturnos.
Apesar da direcção artística ser um ponto de interesse inicial, é no enredo que se encontra o ponto forte do jogo que segue um padrão muito semelhante aos mais recentes jogos "point and click" adaptados para consolas, como Yesterday Origins. State of Mind exibe um cenário futurista na Berlim no ano de 2018, numa época dominada pela evolução tecnológica e primeiros passos da inteligência artificial. O protagonista, Richard Nolan, é um jornalista céptico em relação à evolução tecnológica, uma personagem facilmente relacionada com o detective Del Spooner interpretado por Will Smith no filme I, Robot, e esta não será a única vez que o jogo remete para outras referências de cultura pop. O enredo é uma miscelânia de todos os temas clássicos abordados no género da ficção científica. Acorda-se numa clínica após um acidente de viação e amnésico, condição aproveitada para introduzir as mecânicas de jogo e o enredo em jeito de tutorial à medida que Nolan conhece os acontecimentos.
O início é demasiado lento e passa-se algum tempo até que o enredo ganhe interesse. Este facto poderá ser suficiente para afastar jogadores menos pacientes e apesar do enredo melhorar gradualmente, as inspirações são tão directas que torna tudo demasiado previsível, seguindo todos os elementos conhecidos do tema. Os diálogos terminam com várias opções de resposta que curiosamente, não têm qualquer impacto relevante, alterando apenas ligeiramente a forma como o evento é apresentado. O jogo tem várias opções de idiomas contando com português nas suas opções de legendagem. No entanto esta opção apresenta bastantes problemas, misturando francês e português de forma incompreensível, sobretudo para um jogo que teve o seu lançamento no mês de Agosto.Para avançar e desbloquear recordações do passado de Nolan tem de se resolver alguns puzzles e enigmas, todos eles demasiado lineares e simplistas e com características demasiado tarefeiras. Existem bastantes elementos interactivos de pouca relevância para o enredo mas que dão vida ao mundo de State of Mind, como o controlo de drones, a possibilidade de interagir com instrumentos musicais, entre outros. Para quebrar a monotonia e previsibilidade do enredo e o seu ritmo demasiado lento, é possível jogar com personagens diferentes que apresentam histórias interligadas com a personagem principal e a inclusão de temas fortes e intemporais como a infidelidade, parentalidade, toxicodependência e sobretudo, a dependência humana cada vez maior da tecnologia.
O trabalho de vocalização e narração é um ponto alto do jogo e ganha destaque face à dificuldade que a componente visual causa na expressão de emoções por parte das personagens. Este recurso aliado às opções de escolha de resposta tornam a empatia possível e a imersão maior.
Conclusão
Com uma direcção artística peculiar, State of Mind tem no enredo o seu maior trunfo. O início de jogo é lento e bastante inspirado na cultura pop de temática futurista, o que o torna previsível para quem a conheça. Os puzzles nunca chegam a representar um desafio e a legendagem em português apresenta-se numa mistura incompreensível de português e francês já depois do lançamento do jogo. Apesar de ser um jogo interessante e de apresentar um notável trabalho de narração e vários aspectos interessantes e diferenciadores, conta com demasiadas falhas que não passam despercebidas.
O melhor
- Visuais interessantes e originais
- Vocalização competente e intensa
- Possibilidade de jogar com diversas personagens
O pior
- Narrativa lenta e previsível
- Legendagem portuguesa completamente aberrante
- Puzzles demasiado lineares
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Daedalic Entertainment.