
ANÁLISE
The World Ends With You -Final Remix-
Um RPG com estilo.
Por Sérgio Mota a
Em 2007 chegava à Nintendo DS um RPG original que trazia uma narrativa envolvente e cativante, uma direcção artística interessante, um uso inteligente dos dois ecrãs, uma banda sonora muito acima da média, um sistema de combate inovador e adaptado à consola e até a integração do microfone da DS na jogabilidade. Em 2012, aquele que era um dos melhores jogos na portátil da Nintendo foi adaptado para os dispositivos móveis sob o nome The World Ends With You – Solo Remix, apresentando melhorias nos visuais e adaptando-os para uma experiência de apenas um ecrã. Esta adaptação incluía igualmente melhorias na jogabilidade, sistema de combate e uma tentativa de integração com a rede social Twitter que viria a cair por terra. Se a crítica se rendeu às alterações implementadas, o preço relativamente elevado ditou um percurso mais modesto que a sua versão original no que às vendas diz respeito.
Em Janeiro de 2018 o anúncio de The World Ends With You – Final Remix prometia o regresso da série às consolas da Nintendo tendo por base a versão Solo Remix, adicionando melhorias técnicas, compatibilidade com os Joy-Con e abrindo portas a um modo multijogador e a um novo capítulo no enredo, elementos que a tornariam na versão definitiva. O jogador assume o papel de Neko Sakuraba, um jovem introvertido e deslocado da sociedade que se vê envolvido num jogo perturbador de nome Reapers' Game onde o insucesso dita a sua eliminação física. Neko inicia a aventura totalmente amnésico, elemento conveniente para o enredo que permite ao jogador conhecer gradualmente os contornos deste jogo macabro, assim como as outras personagens. O enredo avança sobretudo através de diálogos entre as personagens à semelhança dos RPGs clássicos, sendo complementado com sequências de animação em momentos chave. O novo capítulo, exclusivo desta versão, é cohecido como "A New Day" e é um episódio alternativo paralelo à história principal que introduz novas personagens, novos inimigos e traz valor nostálgico aos seguidores de longa data, permitindo revisitar cenários e personagens. Apesar de trazer mais umas três horas de jogo, poderá não ser um tónico suficiente para os conhecedores, principalmente os que experiementaram a versão Solo Remix.O sistema de combate assenta na conjugação dos "pins", cada um permite a Neko executar um ataque activado mediante uma acção específica do jogador, que pode ir desde o deslizar pelo ecrã, pressionar o inimigo alguns segundos, arrastar objectos, etc. As combinações são variadas e funcionam de forma fluida e intuitiva após o período de habituação aos controlos. Os combates permitem ganhar experiência, acompanhada das habituais melhorias das capacidades, que podem também ser influenciadas pelos "pins" que desbloqueiam ataques de intensidade variada. Um elemento interessante e inovador é a implementação de tendências de moda na jogabilidade e no sistema de combate. A acção tem lugar em Shibuya, uma zona comercial de Tóquio conhecida pela célebre Shibuya Crossing, cenário recorrente em The World Ends With You. Fazendo jus ao local, o jogo inclui uma série de lojas onde se podem adquirir artigos como pins, alimentos, roupas, acessórios e até novas faixas para a banda sonora. Aproveitando o conceito de tendências de moda para afectar positivamente (ou negativamente) o impacto que as marcas têm, usar pins ou acessórios de uma marca que está na moda num certo local traz benefícios adicionais...e o contrário também pode acontecer. Este sistema interessante obriga o jogador a trocar frequentemente as marcas que usa, obrigando a experimentar vários tipos de ataque constantemente, o que torna a experiência mais dinâmica e menos repetitiva.
O Reapers' Game é jogado a dois pelo que Neko tem sempre consigo um aliado. Além do seu ataque convencional é possivel realizar um ataque sincronizado de intensidade dependente do resultado de um curto minijogo. Os inimigos, conhecidos como "noises" são variados e de características bem definidas, existindo mais de cem para defrontar. O grau de dificuldade pode ser ajustado a qualquer momento do jogo excepto durante um combate. O jogo inclui ainda a possibilidade de regular o nível do protagonista. A experiência adquirida em combate permite aumentar o nível máximo possível da personagem mas cabe ao jogador estabelecer o nível desejado. Quanto mais elevado o nível da personagem, maior o número de pontos de vida da personagem, ao mesmo tempo o número de itens que os inimigos libertam ao serem derrotados será inferior e vice-versa. Tendo por base a versão Solo Remix os controlos tácteis tornam a jogabilidade simples e fluida. No ecrã de televisão joga-se com recurso aos Joy-Con. Durante os combates, o sucesso depende não só dos pins, nível da personagem e moda, mas também do tempo de reacção do jogador em atacar directamente os inimigos que se encontrem pelo ecrã, escolhendo o tipo de ataque mais adequado em cada momento. Se em modo portátil com controlos tácteis isto acontece de forma intuitiva e fluida, bastando tocar no alvo pretendido, com os controlos convencionais o tempo necessário para escolher determinado alvo em movimento é substancialmente maior, levando o jogador a efectuar movimentos bruscos com demasiada frequência e tornando necessário recalibrar o cursor constantemente. Além disso, a própria activação de ataques acusa a mudança de esquema de controlos, tornando a jogabilidade mais complexa do que deveria ser. As dificuldades de controlo também se notam em ataques sincronizados, que dependem de um curto minijogo com impacto directo na eficácia do ataque. Estas secções são baseadas unicamente no tempo de reacção e encontram-se muito limitadas pela necessidade de movimentar um cursor, contrastando com a simplicidade de carregar no elemento desejado de forma imediata. Os ataques sincronizados tornam assim o combate mais frustrante.
A vantagem dos controlos convencionais é a possibilidade de jogar de forma cooperativa mas apesar de ser uma adição bem-vinda, as dificuldades técnicas tornam-no secundário e negligenciável a curto prazo, remetido para experiências esporádicas com amigos. A direcção artística mantém-se fiel às suas origens com a devida evolução gráfica que a Nintendo Switch lhe confere. Esta nota-se mais na sua componente sonora, que apresenta mais de trinta faixas de vários géneros desde Techno, Hip Hop, Rock, Pop...a variedade é imensa, traduzindo a riqueza cultural de Shibuya para a experiência, dotando assim o jogo de uma das bandas sonoras mais completas e competentes dos últimos anos.
Conclusão
São vários os elementos que tornaram The World Ends With You um dos melhores jogos no portentoso catálogo da Nintendo DS e todos eles regressaram melhorados a esta adaptação para a Nintendo Switch. São os ingredientes adicionados a esta receita de sucesso que lhe conferem um sabor amargo. Esta estreia nas consolas domésticas fica marcada por controlos desadequados, que tornam o seu novo modo cooperativo numa curiosidade e não numa mais-valia. Em modo portátil o jogo mantém toda a qualidade e traz melhorias técnicas, ajustes bem-vindos na jogabilidade e um novo capítulo que estende a longevidade e é um ponto de interesse adicional para jogadores de longa data.
O melhor
- Enredo interessante
- Sistema de combate dinâmico e variado
- Direcção artística
- Jogabilidade fluída e intuitiva em modo portátil
O pior
- Controlos convencionais problemáticos
- Modo cooperativo comprometido
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.
27 de Outubro, 2018, 10:44
Continuo a achar que este jogo é um nicho devido ao seu estilo muito próprio. A jogabilidade é inovadora, embora por vezes confusa, e a história e as personagens são aquilo que destaco de mais positivo (para não falar da banda sonora, claro). Para quem procura uma boa história e um estilo de RPG diferente, recomendo TWEWY.