
ANÁLISE
Darksiders II
A Morte está tão segura da sua vitória que te dá uma vida inteira de vantagem...
Por Fábio Pereira a
Quando Darksiders surgiu, a primeira coisa que lhe aconteceu foi levar com um duplo rótulo de comparação a outros títulos já existentes no mercado. Pareciam querer afogar a produção da Vigil Games na banalidade onde a única discussão existente era uma disputa entre puritanos que afirmavam ser mais Zelda que God of War e outros tantos a dizer o contrário. É um facto que a jogabilidade de Darksiders não é a essência da inovação, mas com tantas "chamadas de atenção" é quase impossível deixar que a nossa mente apenas desfrute da conjugação fantástica que Darksiders fez de lições aprendidas do que para muitos, pode ser o primeiro dia de aulas. E Darksiders tem a escola toda.
Darkisders II continua a história do juízo final que chegou antes do previsto. A guerra entre o céu e o inferno surgiu cedo demais para o reino dos homens e um dos cavaleiros do Apocalipse é injustamente acusado como responsável por quebrar o equilíbrio entre os reinos. O jogo oferece um pequeno resumo dos principais eventos do primeiro título e permite a quem não o jogou a oportunidade de conhecer os mais relevantes eventos passados. Agora cabe ao cavaleiro Death (Morte) provar a inocência do seu irmão War (Guerra).O início do jogo tem um impacto tremendo. A música e o cenário fundem-se numa introdução perfeita que prendem de imediato a atenção do jogador. Visualmente apresenta um trabalho cuidado, tanto a nível do grafismo tridimensional como do traço artístico próprio de Joe Madureira. Durante toda a aventura os locais e as personagens mostram-se cheios de vida e de pequenos detalhes que roubam aos jogadores minutos preciosos, apenas para apreciar o ambiente que nos envolve. A banda sonora tem os seus momentos grandiosos e os temas reflectem a tensão sentida ao longo das diferentes fases da aventura. A prestação dos actores pode deixar muitas opiniões divididas, mas no geral apresentam grande qualidade.
Quando Darksiders II chegou à Wii U, já a Morte circulava nas outras plataformas e por isso a THQ adicionou algum conteúdo extra ao disco para quem agarrasse esta edição. Faz uma média de cinco horas extra de jogo e algumas peças de equipamento que facilitam os primeiros momentos da aventura, mas acabam ultrapassados em pouco tempo. Não é propriamente a melhor desculpa, mas é o mínimo que poderiam fazer.De resto, a aventura tem um desenvolvimento bastante semelhante ao do primeiro jogo, mas talvez demasiado arrastado. As personagens atribuem ao jogador missões obrigatórias e opcionais. No entanto, muitos dos objectivos principais parecem estar ali apenas para encher tempo e pouco acrescentam ao real valor da história. Nas masmorras a exploração não é muito abrangente e embora existam puzzles interessantes, o fio condutor é na maioria das vezes bastante óbvio. Com Death, a movimentação parece mais fluída e a personagem é menos pesada em comparação com War. Corre e salta pelas paredes em percursos divertidos de percorrer. Nos combates junta a toda essa destreza a chamada "força bruta".
A arma principal é composta por duas foices que desfazem os inimigos em sucessões de golpes incríveis e mirabolantes. Como alternativa o jogador tem uma selecção simpática de armas poderosas que variam entre martelos, machados, lanças, garras e outras. O sistema de combate é simples, mas perfeito para o tipo de acção oferecida. É ainda possível fixar a mira num dos inimigos e concentrar a força de ataque num só indivíduo. Ao longo da aventura, podem-se comprar novos movimentos a mestres de armas, aumentando assim o leque de golpes disponíveis e agraciando a diversidade. Tudo isto aliado ao botão de desvio resulta em momentos de combate alucinantes e outros menos entusiasmantes. Embora o espectáculo encha o olho, a maioria dos inimigos é bastante fraca e apenas os bosses oferecem alguma resistência. Na dificuldade normal o jogo porta-se de forma demasiado permissiva para um jogador habituado a estas andanças, mas pode-se sempre optar por um modo de dificuldade mais exigente. Ao derrotar os inimigos, o jogador recebe a experiência que lhe permite aceder a outras habilidades. Ao recolher armas "possuídas", é possível sacrificar outras para aumentar o seu poder, e a quantidade de armas, armaduras, luvas, botas, talismãs disponível é imensa, chegando o jogador a entrar numa constante mudança de equipamentos. Estes aspectos dão o aclamado gosto a RPG. É também aqui que se começa a usar o Wii U GamePad de vez em quando. Este pode ser utilizado para jogar, mas se utilizado em conjunto com a televisão, pode-se fazer gestão de itens, consultar o mapa ou trocar habilidades. Acaba por ser pouco prático estar a desviar a atenção do ecrã para trocar um poder pela pistola por exemplo, afim de atingir um explosivo distante, mas em certas situações torna-se prático como utilizar o mapa para escolher o local para onde nos queremos transportar rapidamente.
Death conta também com alguns companheiros onde se inclui um corvo e um cavalo. O corvo é tão ou mais inútil como a popular fadinha que acompanha Link em Ocarina of Time. A função dele é mostrar o caminho a seguir, já de si reforçando a linearidade da progressão no jogo, mas muitas vezes não sabe bem para onde ir e mais vale esquecer que ele ali está. Já o cavalo serve precisamente para percorrer grandes distâncias em menos tempo, pode ser utilizado apenas em áreas próprias, mas tem um efeito fantástico quando surge repentinamente e volta a desaparecer para o outro mundo. Infelizmente nestas transições também se encontram alguns problemas. O jogo pára diversas vezes para carregar novas áreas. A gravação do progresso é automático, mas estes carregamentos constantes estragam por completo o ritmo que se espera fluído.
Conclusão
Darksiders II é uma óptima proposta para os fãs de jogos de acção. Tanto o grafismo como a sonoridade estão fantásticos e a arte do jogo reflecte uma enorme dedicação. Os combates são intensos, apesar da parca dificuldade, e a quantidade de golpes associada às armas e habilidades consegue manter o interesse do jogador na batalha. Os carregamentos constantes e alguns bugs ocasionais, como personagens auxiliares presas no cenário, quebram o ritmo de jogo e a exploração das masmorras é imensamente linear na maioria das vezes. Darksiders II tem um pouco de tudo desde acção frenética a puzzles, elementos de RPG e outras coisas às quais foi buscar a devida inspiração, mas não deixa por isso de ser uma aventura com mérito próprio e consegue conjugar todos os elementos com elevada mestria. A Morte saiu vitoriosa na sua estreia e não vai desiludir os fãs de aventura e acção.
O melhor
- Direcção artística
- Banda sonora
- Sistema de combate bem trabalhado
O pior
- Carregamentos constantes
- Progressão linear dos níveis
- Falhas recorrentes
3 de Janeiro, 2013, 16:45