
CRÓNICA
O futuro dos Mario 2D
Que caminho seguir?
Por Tiago Marafona a
Os últimos lançamentos dos jogos da série Super Mario em 2D têm dado a sensação que a Nintendo esgotou todas as ideias para jogos de plataformas do canalizador. Olhando para a história da Nintendo e da própria indústria dos jogos, é impossível esquecer a importância dos principais títulos de Super Mario em 2D. Contudo e neste momento, o futuro da série é uma total incógnita, tudo porque a Nintendo com Super Mario Maker deixou a cargo dos jogadores o lado criativo e todas as ferramentas acessórias e agora para inaugurar o ano de 2019, prepara-se para lançar New Super Mario Bros. U Deluxe.
Não está em causa o quanto pode ser divertido criar ou o quanto pode ser gratificante ter uma ligeira experiência de criador de jogos, ou até mesmo ser um Shigeru Miyamoto em tempos vagos, oferecendo a possibilidade a outros jogadores de vivenciar a obra de cada um. Mas a verdade é que isso demonstra que a Nintendo já estava claramente sem um rumo para a série Mario em 2D e a falta de ideias resultou no mais fácil: façam vocês mesmos, aquilo que já vinha sendo pedindo há imenso tempo. Quanto à decisão de lançar a compilação U com New Super Mario Bros. U Deluxe, também acaba de certo modo de ser compreensível, pois a pouca popularidade da Wii U não permitiu os resultados esperados. Mas isso não invalida o declínio de qualidade que já vinha sendo evidente na série Super Mario em 2D. A fórmula de recriar um novo Super Mario com visuais únicos ganhou uma maturação final com New Super Mario Bros. U. que é, sem dúvida, o expoente máximo que poderia ser chamado de “ultimate”, nome que tem estado em voga ultimamente com variadíssimos títulos na Switch e que simbolizam o fim de uma era. A estreia de New Super Mario Bros. foi inacreditável e deu uma vida diferente à Nintendo DS. Os visuais renovados, as mecânicas novas, os temas e as possibilidades únicas da portátil fizeram deste um jogo ímpar no campo dos jogos de plataformas para a DS. Anos depois, New Super Mario Bros. Wii juntou famílias e lembrou que ainda era possível reunir um grupo de pessoas e colocar quatro jogadores em simultâneo a usufruir do belo prazer de passar pelas brasas da atrapalhação, e com isso retirar o melhor que há nos jogos: a diversão. Contudo, a partir daqui a fórmula estava esgotada. A Nintendo tinha conseguido replicar o sucesso da fórmula da série New Super Mario Bros. e por isso pouco ou nada haveria mais a oferecer. Seguiu-se a maturação da saga NSMB e sucesso na 3DS e na pouco popular Wii U.
Olhando para a vertente 3D, a Nintendo também já teve altos e baixos com a série Super Mario, e neste momento é possível afirmar com todas as letras que a série a três dimensões está bem e recomenda-se. O incompreendido Super Mario Sunshine já lá vai. Agora respira-se a algo enorme como Galaxy, World e Odyssey. Mas olhando para tudo o que tem surgindo nos últimos anos, para as vendas e para a popularidade do género em 2D, porque é que a Nintendo deixou de apostar em Super Mario em duas dimensões? Como é que deixou arrefecer a fasquia do canalizador? Super Mario Bros. é hoje uma identidade, um jogo que marcou e marcará a história para sempre. Para muitos simboliza a entrada nos jogos, o primeiro contacto. Para outros, representa a inspiração a cada dia para criar jogos cada vez melhores. Super Mario Bros. 3 também conseguiu impor-se e distinguiu-se numa posição de evolução, visualmente e criativamente. Anos depois, surge o até então expoente máximo e mais complicado de ser ultrapassado, Super Mario World.A Nintendo deixa aparentar que não se tem esforçado muito para tentar ultrapassar o legado duro de roer de Super Mario World ou de conseguir revolucionar o género, como quando conseguiu com Super Mario Bros., pelo menos até ao momento. Não é essa a imagem que tem passado cá para fora, para os jogadores, para a indústria, e é isso que é preocupante. Há alguns exemplos práticos de séries que conseguiram dar o salto e marcaram um novo território, temos Rayman com o seu Legends e Donkey Kong com Tropical Freeze. Ambos estão facilmente no top de qualquer fã de jogos de plataformas da geração anterior, e não pela revolução que fizeram na série, ou por se insurgirem no género a que pertencem, mas sim pela marca de posição, mudança de mecânicas e estruturas totais do visual. Há claramente uma visão para o futuro das duas séries neste momento. A ganhar posição estão também séries indie, como Celeste, Shovel Knight ou Hollow Knight, que prometem fazer frente aos pesos pesados da indústria. As notas, as vendas, a popularidade e os prémios angariados constatam a qualidade que cada um deles traz.
A história dos jogos não fica completa se não tiver mais de uma dezena de referências do canalizador mais popular do planeta. Super Mario, que já enfrentou mundos e cruzou fronteiras sem fim, tudo em busca da sua princesa Peach. Shigeru Miyamoto é o senhor responsável por ter tornado um canalizador numa espécie de super-herói durante estas décadas todas, mas será que falhou na entrega do legado da série? Será que falhou no testemunho, ou ainda não conseguiu impor a vontade de manter a chamada das incríveis aventuras de Super Mario em plataformas aos seus discípulos? Seria bom voltar a ver Super Mario em duas dimensões de boa saúde. A fase “new”, já é "old".