
ANÁLISE
I Am the Hero
O herói das ruas.
Por João Duarte a
O tempo não foi simpático com os "beat'em ups". Eram jogos bastante comuns nas décadas de 1980 e 1990, onde surgiram alguns dos seus melhores exemplares como as séries Golden Axe, Streets of Rage e Final Fight, mas a popularidade desapareceu rapidamente, o que não os impede de ficar na memória de muitos jogadores. Felizmente alguns estúdios indie mantêm o género vivo mas até agora nenhum conseguiu igualar a experiência dos clássicos, sendo um deles I Am the Hero.
Trata-se de um jogo com algum potencial, embora sofra de uma falta de ideias interessantes. O conceito é o mesmo de qualquer outro dos seus pares: percorrer e derrotar os inimigos que surgem ao longo dos níveis e enfrentar um "boss" no fim de cada nível, onde o jogo oferece ainda a opção de desbloquear um ataque especial ou uma nova personagem. Estas são essencialmente uma escolha entre os inimigos que o jogador encontra e têm os seus próprios ataques simples e ataque especial. Desbloquear os ataques especiais permite ter sempre uma boa maneira de resolver situações complicadas, mas as novas personagens acabam por se tornar aborrecidas e mesmo inúteis em várias situações, isto porque não têm a mesma quantidade de ataques que a personagem principal.É no combate que o jogo mostra mais do seu potencial, pois o número de ataques e combos possíveis é surpreendentemente alto. Quando o jogador entra no ritmo de derrotar inimigo atrás de inimigo até se torna divertido experimentar todo o tipo de ataques e inventar combos eficientes, além de descobrir combos que mantêm os inimigos no ar onde não se conseguem defender, o que é bastante gratificante. A variedade de inimigos é satisfatória e o jogo vai sempre introduzindo adversários novos e exclusivos a cada nível. Estes tornam-se mesmo o grande destaque de jogo, já que os "bosses" são bastante mecânicos e não permitem ao jogador a realização criativa de combos como acontece com os outros inimigos. Fazer combos longos também é a melhor maneira de acumular energia, e uma vez atingido um certo nível é possível realizar ataques especiais bastante úteis em momentos onde o ecrã está cheio de inimigos. Outra habilidade útil nestas situações é o estado “endure”, que consume energia e onde o jogador fica mais veloz e invulnerável ao choque de ataques de inimigos, embora sofra danos na mesma. O melhor aspecto do combate de I Am the Hero é o número de opções para derrotar inimigos, mas infelizmente sofre de alguns problemas que o impedem de sobressair, nomeadamente a repetição inevitável e os controlos.
É verdade que a quantidade de ataques e combos possíveis ajudam a mitigar a monotonia de que muitos jogos do género sofrem mas depois do terceiro nível, a repetição é practicamente inevitável. A quantidade de inimigos por nível aumenta conforme o jogador os vence, o que é normal, mas nos últimos níveis o jogo coloca tantos dos mesmos inimigos de seguida que rapidamente se torna aborrecido. Mas o pior de tudo é o controlo das personagens em combate. O movimento de fluido tem muito pouco e isto nota-se especialmente quando se está a atacar um inimigo e ao mesmo tempo, aparece outro no lado oposto. Basta jogar um dos clássicos do género e logo a seguir pegar em I Am the Hero e a diferença salta logo à vista.Onde o jogo vai chamar a atenção é certamente no aspecto visual. É verdade que a quantidade de jogos indie que usam uma direcção artística inspirada nos 16-bit é impossível de contar mas I Am the Hero faz um bom trabalho em usar esse estilo com sucesso. As personagens e inimigos estão bem feitos, tal como as suas animações que têm um belo nível de pormenor. Pena o jogo pecar na performance na Nintendo Switch, especialmente quando o ecrã está cheio de inimigos e o rácio de fotogramas desce drasticamente. Em termos de música não há muito a dizer, usa MIDIs para complementar os visuais retro e embora caibam bem no tipo de jogo, as composições são todas banais e pouco memoráveis.
Conclusão
I Am the Hero tem potencial para ser bem mais do que é. E infelizmente aquilo que é não é suficiente para se destacar.
O melhor
- Direcção artística
- Quantidade de ataques e combos
- Jogabilidade satisfatória…
O pior
- …que sofre de alguma repetição
- Controlos fracos e pouco fluidos
- Desempenho cai com vários inimigos no ecrã
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Ratalaika Games.