
ANÁLISE
GODS Remastered
Antigo guerreiro.
Por João Dias a
GODS Remastered é mais um clássico de outras gerações que é alvo de um tratamento dos nossos tempos. GODS da Bitmap Brothers foi originalmente lançado para os computadores Amiga e Atari ST em 1991 e recebeu agora uma operação plástica levada a cabo pela Robot Riot para chegar aos formatos contemporâneos sob o nome de GODS Remastered. O nome Remastered pode induzir em erro e o termo “operação plástica” estará mais perto do que foi feito com GODS, isto porque as mudanças são quase todas ao nível estético, mantendo-se o mesmo desenho dos níveis e elementos.
Pondo essas considerações de lado por enquanto e comçando pelo início: o que está aqui presente é uma obra que embora possa ter aspecto de jogo de plataformas segue uma via diferente, não se trata de um jogo baseado em movimento quase perpétuo (como o são alguns dos jogos de plataformas mais conhecidos), é antes um jogo onde na pele de um herói da mitologia grega, vai ser preciso um cuidado e uma atenção bem apurada para percorrer quatro níveis desenhados de forma a elevar a concentração do jogador ao máximo. Isto acontece não só pela forma como os níveis estão desenhados mas pela forma como os inimigos atacam: sem posições fixas e com comportamentos que mudam ligeiramente de acordo com o que o jogador faz.Os níveis de GODS Remastered não são fáceis: armadilhas, alçapões, alavancas (muitas) que têm de ser accionadas para abrir e fechar caminhos e inimigos cujos padrões de ataque não podem ser memorizados da mesma forma que se faria noutros jogos de plataformas. Pelo meio, encontram-se ainda objectos e pistas. Se até aqui tudo parece dar certo, GODS Remastered acaba por ser uma vítima do seu próprio objectivo: ao tentar manter a experiência o mais próxima possível do original apenas com um ambiente visual mais contemporâneo, a jogabilidade parece estar demasiado agarrada ao momento em que o jogo original foi desenvolvido. Isto significa que em GODS Remastered, o jogador movimenta-se de forma bastante rígida, quase robótica, como se a personagem estivesse completamente constrangida, com saltos mecânicos e movimentos horizontais que demoram demasiado tempo a executar em momentos em que é preciso agir rapidamente. Se isto fazia parte da experiência do GODS original e será um ponto positivo para quem meta as mãos neste Remastered para o recordar, é uma barreira a uma enorme quantidade de jogadores e que mete este jogo em desvantagem face a obras mais recentes com mecânicas de jogo actuais. Por outro lado, isto confere toda uma sensação de conquista ao vencer um “boss” e avançar pelas secções mais complicadas, sobretudo quando os níveis se tornam mais intrincados e é necessária cada vez mais destreza para lidar com os inimigos que se materializam por todo o lado e com as plataformas em sítios mais improváveis.
Esta característica acaba por ser um elemento frustrante em GODS Remastered, porque muitas coisas neste jogo foram bem feitas, a começar pelo mais visível: o ambiente visual apresenta um trabalho de conversão exímio, fluido, colorido e bem desenhado. Não só vai ser do agrado da maior parte dos jogadores como ainda tem um bónus para os mais puristas: com um toque no segundo analógico é possível jogar com o mesmo visual do GODS original…e sem música, tal como o original mas aqui Remastered destaca-se do original, já que ao jogar com o grafismo actual é possível escutar uma banda sonora, que acaba por não se destacar e passa praticamente despercebida. Já a música do ecrã de abertura não é a mesma do original por motivos de licenciamento, o que dá a Remastered um tema original
Conclusão
Sendo um jogo do seu tempo, é de esperar investir muitas tentativas para passar os níveis, ainda para mais quando as mecânicas se mantêm essencialmente as mesmas e tornam o jogo mais longo do que deveria ser. GODS Remastered não foi feito para criar algo de novo mas para replicar a experiência do original com uma roupagem nova e nesse aspecto, não falha. O problema é que leva esta missão demasiado a sério e coloca-se num espaço à parte, onde as mecânicas de jogabilidade não se desenvolveram nas últimas três décadas, o que acaba por ser uma desilusão já que o desenho dos níveis continua a ser algo que encaixa muito bem nos dias de hoje, mesmo que pertença a um nicho, mas a forma como este Remastered foi feito demonstra que o objectivo era apenas o de cativar os fãs do original, e mesmo dentro desse grupo-alvo vai ser uma missão difícil de cumprir, uma vez que aquele público não passou vinte e oito anos em hibernação.
O melhor
- Ambiente visual
- Desenho dos níveis
O pior
- Mecânicas de jogabilidade sem evolução
- Banda Sonora
- Inacessível a jogadores menos experientes
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Robot Riot.
13 de Julho, 2019, 11:06