
ANÁLISE
Crash Team Racing: Nitro-Fueled
Competição feroz.
Por Sérgio Mota a
Crash Team Racing é uma das séries mais carismáticas dentro do seu género. Produzido numa época onde Mario Kart 64 e Diddy Kong Racing gozavam de um nível de popularidade altíssimo, conseguiu ganhar o seu espaço na consola concorrente conquistando jogadores e a crítica. Pese embora a sua fórmula fosse demasiado colada aos jogos da Nintendo da época, as suas ideias próprias foram conquistando mercado e foi futuramente incluído nos catálogos Nintendo com uma sequela na GameCube e Game Boy Advance. Agora e mais de uma década volvida, chega o "remake" do jogo original com um ambiente visual contemporâneos e carregado de conteúdo adicional.
A presença da língua de Camões é de saudar, embora com sotaque do outro lado do Atlântico, e torna o jogo mais acessível ao público do nosso país. O modo aventura surge aqui com maior destaque, apresentando um mundo aberto com mapas curtos, lineares e de pouca verticalidade que permite vaguear livremente, procurando pontos de acesso para os vários desafios. Existem dois modos diferentes disponíveis: o denominado de "Clássico" tenta reproduzir a experiência do original sem qualquer personalização de personagem ou veiculo e sem escolha de nível de dificuldade; já o modo "Nitro Fueled" aproxima a experiência dos padrões contemporâneos, com possibilidade de escolha de personagem, grau de dificuldade, veículos, etc. O nivel de exigência traduz-se em três patamares diferentes, sendo que tirando a dificuldade mais baixa é no geral um jogo bastante exigente e nota-se um incremento bastante acentuado quando se passa do nível de dificuldade fácil para o normal, sendo que o mais difícil é verdadeiramente desafiante.
O enredo é pouco sério e carregado de bom humor, como se espera da série Crash: as ilhas Wumpa são invadidas por um extraterrestre impiedoso de nome Nitros Oxide que ameaça transformar o planeta num parque de estacionamento e converter os seus habitantes em escravos se não encontrar um rival à altura nas corridas de "carts". Para isso vai ser preciso completar corridas e enfrentar "bosses" finais para desbloquear secções novas até se poder enfrentar Nitros Oxide. As batalhas contra os "bosses" são exigentes e memoráveis. Além das corridas clássicas, existem também variantes onde se é desafiado a vencer apanhando as letras CTR durante o percurso ou todas as relíquias num determinado intervalo de tempo. Apesar de não serem inovadores, ajudam a camuflar a natureza repetitiva deste modo e adicionam um desafio suplementar ao jogo.Existem mais de trinta personagens desbloqueáveis e cada uma com diferentes variações, o que torna o elenco verdadeiramente versátil. Os veículos são eles também largamente personalizáveis e com possibilidades de alterar elementos como o chassis, cor, autocolantes, jantes, etc. Sempre que se termina uma corrida recebem-se "Wumpa Coins" que podem ser trocadas posteriormente na secção "Pitstop", onde o conteúdo disponível muda todos os dias e que permite desbloquear desde elementos de personalização a personagens novas. No entanto, isto só pode ser feito com uma ligação activa à internet, decisão peculiar dado que prejudica a sua vertente portátil na Nintendo Switch. Na secção "Local Arcade" é possível optar pelas modalidades disponíveis a solo ou multijogador local. Além dos habituais "Single Race" e "Cup Race" encontram-se seis outros modos onde se incluem um modo batalha, uma variação do conhecido jogo de apanhar a bandeira do adversário e até uma variante onde os jogadores vão disputar um pedaço de bacon. Encontra-se ainda o habitual modo "Time Trial" e os modos secundários já descritos, onde o jogador apanha as letras CTR, relíquias ou cristais.
Se a nível local CTR Nitro-Fueled oferece uma quantidade avassaladora de conteúdo, o grande destaque vai para as opções em rede. Aqui pode-se competir contra adversários online de todo o mundo ou directamente da lista de amigos da consola em corridas ou no modo batalha. A escolha da arena funciona por votação entre uma panóplia aleatória e o facto de não ser obrigatório reunir oito jogadores para competir torna mais fácil encontrar adversários apesar da comunidade ainda reduzida de jogadores activos. Desde o lançamento a experiência de jogo tem sido afinada através de actualizações mas ainda não atingiu um patamar qualitativo equivalente ao que se encontra disponível a solo. Pontualmente surgem eventos online denominados de "Grande Prémio Nitro Tour" onde se encontram pistas insipiradas em níveis de jogos da série Crash Bandicoot. É ainda possível desbloquear novas personagens, novos veículos, elementos de personalização, entre outros. De referir ainda que todas as opções em rede do jogo estão dependentes da subscrição do serviço Nintendo Switch Online.
O controlo bem afinado dos veículos e o desenho interessante das pistas contribuem para uma experiência bastante boa. O uso de itens é uma característica importante mas o maior peso recai na perícia de condução e conhecimento profundo dos percursos. O uso de atalhos, aproveitamento de zonas inclinadas da pista para forçar o salto e o uso inteligente dos sistemas de aceleração e derrapagem são fulcrais para o sucesso em desafios de maior exigência. Ao longo da pista deve-se ainda apanhar "Wompa Fruits" até ao máximo de dez. Quando se atinge esse valor as características da personagem são amplificadas, o que pode afectar o rumo da corrida a seu favor, tornando essencial que sejam apanhadas o mais cedo possível.Visualmente o jogo faz um excelente trabalho em converter as pistas clássicas para os padrões da actualidade. Com uma direcção artística interessante (mesmo na versão Switch, que fica um pouco abaixo das versões concorrentes), as pistas estão repletas de pontos de interesse e pormenores capazes de deixar boquiabertos os jogadores do original. As sequências de animação são uma adição bem-vinda que dão ao jogo um tom mais contemporâneo. Na componente sonora o jogo segue os padrões de qualidade elevada a que a NaughtyDog habituou os habituados da série. Com um trabalho de narração competente nos idiomas que apresentou, o jogo estabelece uma ligação com personagens menos conhecidas e enfatiza a vertente humorística do jogo. Os seguidores de longa data vão aqui encontrar valor nostálgico com a presença das faixas musicais originais, também elas com roupagens mais modernas.
Conclusão
Crash Team Racing regressa com todos os elementos que fizeram dele uma referência numa época repleta de propostas de qualidade, adicionando novo conteúdo, um ambiente visual contemporâneo e a versatilidade que as características únicas da Switch lhes conferem. Com uma jogabilidade viciante, exigente e uma quantidade avassaladora de conteúdo, representa uma das melhores propostas dentro do seu género numa consola onde a concorrência elevou bastante a fasquia.
O melhor
- Renovação visual interessante
- Mecânicas de condução apuradas e exigentes
- Personagens e elementos personalizáveis
O pior
- Tempos de carregamento longos
- Componente online precisa de melhorias
- Impossível apanhar "Wompa Coins" offline
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Ecoplay.
16 de Julho, 2019, 19:14