
ANÁLISE
Warlock's Tower
Movimento fatal.
Por João Duarte a
Há poucos jogos indie de "puzzles" que se destacam pela qualidade, dificuldade ou originalidade dos seus níveis e desafios. Que saíram bons jogos indie neste género é inegável mas não é exatamente onde se pode encontrar muitos dos melhores exemplos desta onda de criadores independentes. Warlock’s Tower pode parecer um jogo extremamente simplista de início e embora a simplicidade dos seus conceitos e objetivos seja um dos seus pontos fortes, onde ele mais se destaca é no potencial que tira das suas ideias. É um jogo muito fácil de compreender e de jogar e a qualidade dos desafios é surpreendentemente alta, acompanhados por uma excelente apresentação repleta de charme.
Warlock’s Tower foi apenas promovido como um jogo de "puzzles" desafiante e duro, sem qualquer referência à sua premissa, o que faz sentido mas a verdade é que o jogo traz contexto à jogabilidade. Um feiticeiro que vive na sua torre quer destruir o mundo e o jogador controla um carteiro com a missão de lhe entregar uma carta com uma mensagem que o pretende convencer a fazer a paz. O problema é que para este chegar ao feiticeiro tem de subir a torre até ao cimo, atravessando uma série de desafios árduos criados pelo vilão. É do mais simples que se pode encontrar mas mais que suficiente para dar algum sabor ao jogo. O mais divertido é o diálogo entre as personagens que o carteiro encontra na sua jornada, com personalidade e um nível razoável de comédia.Nota-se claramente que todo o ênfase dos criadores foi para a jogabilidade e esta decisão compensou bastante. É um jogo extremamente simples de perceber e jogar mas o potencial das mecânicas é todo ele mostrado de forma esplendorosa. O objetivo é levar a personagem principal para a saída de cada sala e para isso, é preciso observar bem o que cada nível tem para poder lá chegar. A mecânica base do jogo é o número de passos que se pode dar e em cada nível começa-se com três. Se o jogador ficar sem passos para dar, perde. Ao longo dos níveis pode-se encontrar vários itens que recuperam o número de passos, pelo que a ideia é seguir a rota correta para poder chegar à saída do nível sem perder o número de passos. É um conceito muito simples de entender e o jogo faz um trabalho muito bom em ambientar o jogador a cada "puzzle" e muito rapidamente se percebe que Warlock’s Tower apresenta uma quantidade surpreendente de "puzzles" bastante inteligentes e difíceis de resolver. E todo o potencial é mostrado lindamente na altura em que o jogo começa a apresentar novas mecânicas e elementos em cada piso da torre, como botões que abrem passagens, obstáculos como vasos, um piso rolante e até inimigos que se movem a cada três passos que o jogador faz. Eventualmente todas estas ideias e mais algumas vão ser aplicadas ao mesmo tempo para criar "puzzles" verdadeiramente impressionantes.
Se há uma qualidade inegável em Warlock’s Tower é o nível de dificuldade. Está muito bem executado na maneira como introduz o jogador a cada mecânica e elemento para depois impor desafios que requerem uns bons minutos de observação o nível e de tentativas falhadas para se descobrir o percurso correto. Uma coisa que talvez seja algo frustrante é a quantidade estreita da soluções. Em muitos jogos de "puzzles" é possível haver múltiplas soluções do mesmo desafio mas neste jogo isso não acontece. Quase todos os níveis requerem um percurso extremamente específico que pode durar imenso tempo a descobrir devido à simplicidade das mecânicas. Isto não é necessariamente negativo e até funciona a favor do jogo mas percebe-se que nem todos vão gostar da rigidez dos "puzzles".Sendo um jogo indie, Warlock’s Tower é mais uma das inúmeras produções que aposta numa apresentação nostálgica e felizmente, consegue fazê-lo bastante bem. A equipa de produção tentou criar o ambiente de um jogo que poderia sair no Game Boy original com a palete de cores e efeitos sonoros característicos, algo que conseguiram fazer muito bem. Embora a música não apresente melodias memoráveis tem aquele som distinto que se ouvia no altifalante extremamente limitado do Game Boy e resulta bastante bem. Se é verdade que há bastante jogos indie que tentam recriar um ambiente audiovisual semelhante ao que se encontrava em consolas de 8 e 16-bit e não o conseguem, é refrescante ver um jogo que parece que poderia ter saído nos anos 90 na portátil da Nintendo.
Conclusão
Warlock’s Tower pode surpreender quem estiver apenas à espera de um jogo de "puzzles" simples e fácil de pegar e jogar, pois a dificuldade gradual está muito bem executada e a quantidade de níveis que desafiam a mente é impressionante. A falta de várias soluções pode deixar alguns jogadores frustrados e não se trata de um jogo exatamente original mas aquilo que tenta fazer consegue-o, e de que maneira.
O melhor
- Desenho de níveis muito bom
- Imensos "puzzles" desafiantes
- Mecânica central bem pensada
- Apresentação nostálgica
O pior
- Rigidez dos "puzzles" impede múltiplas soluções
- Pouco original
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Ratalaika Games.