
ANÁLISE
Raging Loop
Escolhas de vida ou morte.
Por Ulisses Domingues a
Se existe uma lição que a vida ensina e bem é que tentar até ser bem sucedido é a chave para o sucesso. No entanto, como funciona esse conselho quando o contexto é morrer? Raging Loop é uma espécie de resposta macabra a essa questão, e a próxima aposta de alto gabarito por parte da Kemco que chega à Switch pela mão da PQube. Trata-se de uma “visual novel” com vários elementos a roçar o terror psicológico, cuja temática principal “murder mystery” faz lembrar jogos como Danganronpa ou Zero Escape dada à sua boa execução geral.
A história começa com Haruaki Fusaishi, um jovem japonês de 24 anos fugido de Tóquio devido a um desentendimento com a namorada, que mais tarde tropeça na aldeia de Yasumizu quase como por acaso. Neste local aparentemente pacato, repleto de aldeões curiosos e distintos, a personagem principal enfrenta uma variante do jogo de dedução e mistério social Werewolf (ou Máfia). Para contextualizar tendo em conta Raging Loop, a experiência retrata sempre dois grupos: uma minoria informada (lobisomens) e uma maioria desinformada (humanos). O objectivo passa sempre por coroar vencedor o grupo que sobrevive. Por um lado, os lobisomens têm de sair em vantagem numérica. Por outro, os humanos contam com espíritos guardiões que os auxiliam a deduzir quem não é igual a eles, escolhendo assim todas as noites, através de voto e diálogo, um participante para matar na esperança que seja ele ou ela um lobisomem.Apesar de demorar até ganhar a cadência antecipada, o enredo é bastante divertido de descortinar e com finais diferentes para descobrir. Para os alcançar é necessário tomar decisões ao longo da história, essas de fácil acesso através de um fluxograma bastante intuitivo e simples de navegar. Infelizmente há muitos desenlaces inconsequentes, detalhando a forma como Haruaki falece ao tomar uma decisão que não a necessária para progredir. No entanto, apesar do único propósito ser empurrar o fio narrativo, muitas das escolhas são relevantes face ao contexto da história. Cada vez que o protagonista testemunha a sua morte volta novamente à estaca zero (daí o Loop no título) e leva consigo um conhecimento fragmentado que o vai ajudar a tomar uma decisão melhor. Esta é uma particularidade incorporada no enredo que justifica a sua presença, ao contrário do que acontece noutras “visual novels”.
Raging Loop é também muito acessível para quem é iniciado neste género. No início da aventura surge um tutorial (facultativo) informativo e encantador que é narrado por uma versão “chibi” de uma das personagens e que confere ao jogador todos os elementos importantes para uma experiência agradável. Este complemento vai ainda mais longe e aconselha um descanso ocasional, assim como a não partilha de “spoilers” a partir de um certo ponto na história. Por outro prisma, e cada vez que Haruaki atinge um final indesejado, aparece a opção de ver o chamado “Hint Corner”, que é protagonizado por uma ovelha rude que se pronuncia sobre o final obtido e ainda oferece uma sugestão sobre como avançar.Ainda assim Raging Loop tem algumas áreas mais fracas. No que diz respeito à direcção artística o jogador é contemplado com uma boa caracterização das personagens principais e secundárias, sendo que cada uma é suficientemente memorável. Já os cenários são demasiado simples e pouco impressionam. Chega a uma certa altura que já é possível ter assistido à maior parte da oferta disponível neste aspeto. Também alguns sons, como por exemplo o cantar dos pássaros ou o correr da água, terminam bruscamente, quebrando qualquer imersão existente. No entanto, o texto que aparece é sempre legível e compreensível, mesmo até numa Switch Lite. Outro ponto a ter em nota é que existe um modo “New Game Plus” que fornece mais informação e contexto para os pensamentos de cada personagem, aumentando a longevidade para quem tem esse interesse em saber mais.
Conclusão
Com um enredo muito bom e misterioso, independentemente do tempo inicial que demora até se tornar mais interessante, e não obstante as pequenas falhas, Raging Loop é uma aposta competente não só para os fãs, mas também para os iniciados do género.
O melhor
- Enredo que prende a atenção
- Perfeito como experiência portátil
- Muito acessível sem comprometer a experiência
O pior
- Direcção artística desilude nos cenários
- Muitos finais alternativos inconsequentes
- O som ambiente termina e recomeça bruscamente
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela PQube.
16 de Novembro, 2019, 12:52