
ANÁLISE
Tokyo Dark: Remembrance
Mistério criminal.
Por André Pereira a
Quem vê caras não vê corações. Fosse este jogo analisado pela sua cara e não se passaria dos minutos iniciais, mas a verdade é que o coração e as restantes entranhas são de qualidade e Tokyo Dark Remembrance é um bom jogo, pecando apenas pela direcção artística que destoa de tudo. Não é incomum haver jogos de terror com visuais mais infantis (Yomawari, por exemplo) que até contribuem para um ambiente desconfortável, mas este Tokyo Dark tem uma direcção artística que faz lembrar aqueles artistas amadores que estão a começar a desenhar num estilo “anime”. Nem é carne nem é peixe, e quando surgem os ícones de conversa é impossível não reparar na má qualidade – o melhor é ficar pelo enredo que é o melhor aspecto do jogo. Lá está, o coração.
Aqui controla-se a detective It? Ayami em busca do seu parceiro que desapareceu durante uma investigação de um caso com contornos estranhos. Este caso está ligado a um do seu passado que não acabou propriamente bem e que ainda a assombra. Ao longo de cinco e poucas horas, acompanha-se Ayami por uma Tóquio "noir" para juntar as peças do "puzzle". Este "visual novel" ou "point and click" leva o jogador a explorar o lado sombrio da capital nipónica, mas na verdade não há muito a explorar porque o jogo é bastante linear e não deixa o jogador desviar-se para outros caminhos. Também não há muito para dar à cabeça em termos de "puzzles". Vê-se um, vêem-se todos. O resto é conversa, com algumas opções de diálogo e umas missões secundárias.Uma ideia que o jogo teve mas que não foi bem implementada é a de um sistema conhecido como S.P.I.N., abreviatura de "Sanity, Professionalism, Investigation, Neurosis". Em teoria, este sistema regista os comportamentos do jogador ao longo do jogo e dita a sua evolução. Tomar comprimidos ajuda à sanidade, assim como brincar com gatos; fazer as perguntas certas dá pontos de profissionalismo e actividades repetitivas aumentam a neurose, etc. Já na prática, é como se não existisse… Se isto faz lembrar o saudoso Eternal Darkness é bom sinal, mas sem os efeitos enlouquecedores que afectavam o protagonista.
Para um jogo financiado a partir do Kickstarter, a Cherrymochi fez o possível com pouco, mas não se pode ficar indiferente face a algumas situações embaraçosas. Tokyo Dark é um jogo que se passa no Japão, mas num Japão visto por olhos ocidentais. Cafés de gatos, cafés de "maids", ídolos pop, etc. e diálogos embaraçosos mas com um tratamento que não é fluido. Fica-se com a ideia que o estúdio tinha uma lista de lugares-comuns para enfiar no jogo e não descansou até ter tudo lá dentro. Mas o que fez de bem, fez mesmo de bem e é impossível descolar até ao final. Ou até um dos finais, já que há vários consoante as (poucas) opções do jogador. A nivel técnico, notam-se alguns soluços no decorrer do jogo, o que é grave visto não ser um jogo pesado. bem como uma falha que por vezes faz com que os ícones não apareçam.Vistos os gráficos, a esperança é que se o jogo for alvo de um "remake", então que opte por outro estilo ou artista. Já a banda sonora recebe uma nota bastante positiva pela sua subtileza e capacidade de fazer o jogador mergulhar no enredo. Os (poucos) temas emanam um ambiente que se coaduna bastante bem com o jogo nos momentos mais calmos e em situações mais tensas, conseguindo criar pânico e tensão sem recorrer a truques baratos.
Conclusão
Tokyo Dark Remembrance é um jogo com potencial, amor e ideias. Optou por contar uma história curta e com ramificações e quando deixa jogar, é competente. Não dá a liberdade ao jogador para ser detective num jogo de investigação e está-se sempre a ser puxado para fora do ambiente de terror devido a certos pormenores do desenho de jogo. Mas olhando para o tempo passado com o jogo, não é tempo perdido.
O melhor
- Enredo
- Banda sonora
O pior
- Gráficos
- Pouca liberdade de exploração
- Desenho de jogo
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela UNTIES.