
ANÁLISE
Neo Cab
Motorista humana.
Por Diogo Caeiro a
Numa era em que cada vez mais questões são levantadas quanto à legitimidade e poderio detidos por determinadas empresas, Neo Cab aborda essa temática apresentando um cenário de um futuro assustadoramente plausível do ponto de vista de Lina, uma taxista com particular rancor pela entidade antagonista do jogo, a mega empresa Capra.
Contrariamente ao que seria esperado, Neo Cab é puramente um jogo de aventura semelhante ao que é oferecido pela típica "visual novel", onde se interage com clientes ao longo de travessias pela cidade de Los Ojos. Em cada uma dessas viagens aprende-se não só sobre sobre o seu dia-a-dia mas também como a presença de Capra na cidade afectou as suas vivências e de que forma encaram essas mudanças. Cada interação é única e inteiramente dependente da forma como o jogador conduz a conversa, não só influenciada pelas escolhas de diálogo mas também pelo estado emocional, que vai afectar directamente os tipos de resposta que se pode dar aos clientes, algo que pode incitar igualmente uma emoção forte por parte de cada personagem dependendo do assunto em questão. Nestas trocas de palavras é necessário ter em conta que dependendo das opções, os clientes podem dar ou não uma melhor classificação à viagem, algo que terá repercussões no dinheiro ganho e na classificação geral de condutor, que afecta o dinheiro que se pode ganhar e o tipo de clientes que se podem escolher.A forma como o enredo se molda em torno das acções de Lina é o aspecto mais bem conseguido de Neo Cab e o facto destas interações entre as demais personagens terem um papel importante no desenrolar do mistério principal que envolve a Capra e a amiga desaparecida de Lina ajuda a criar um mundo em constante mutação, traduzindo-se também num incentivo a regressar à aventura, uma vez que é impossível absorver todas as perspectivas e informação que o jogo tem para oferecer ao jogador. A trama principal não é, no entanto, tão interessante comparativamente aos problemas e desafios que cada personagem apresenta a Lina, e a falta de urgência no seu desenvolvimento acaba por actuar em oposição à imersão do jogador, agravado ainda mais pela sua curta duração.
Visualmente o jogo foi bem sucedido em criar um ambiente triste e opressivo, fazendo bom uso de uma palete de cores e efeitos que simulam luzes neón que acentuam bem o facto de praticamente todo o jogo decorrer durante a noite. Os modelos tridimensionais são igualmente competentes, mas as animações faciais paupérrimas constituem um problema do qual o jogador dificilmente se consegue abstrair. No ecrã da Switch encontram-se quedas ocasionais na fluidez do jogo, mas nada de particularmente incomodativo à experiência geral se se tiver em conta o género de jogo. A banda sonora condiz na perfeição com o ambiente de Neo Cab, sendo ela composta por faixas de música electrónica recheadas de sintetizadores com uma sonoridade minimalista, semelhante ao observado em músicas lo-fi.
Conclusão
Uma proposta muito interessante para fãs de "visual novels" e semelhantes, Neo Cab propõe ao jogador uma aventura curta mas estimulante, recheada de diálogo e comentário social de qualidade que dificilmente deixa alguém indiferente.
O melhor
- Comentário social relevante
- Diálogos bem escritos
- Personagens variadas e interessantes
O pior
- Relativamente curto
- História principal pouco desenvolvida
- Animações faciais fracas
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Evolve PR.