
ANÁLISE
Beast Quest
Que besta de jogo.
Por Ulisses Domingues a
Nos tempos que correm lançar um jogo pode acarretar uma grande responsabilidade mas é algo mais ténue do que há uns bons anos atrás. Isto não quer dizer que noutros tempos os jogos não tivessem problemas difíceis de resolver. Street Fighter II, por exemplo, viu a luz do dia com um erro na programação, erro esse que permitia aos jogadores encadear vários ataques seguidos. Esse erro mudou por completo o panorama dos videojogos e para melhor. Já Beast Quest é frustrante, e é só.
A premissa é simples e vai direta ao assunto: um rapaz de nome Tom é escolhido por um feiticeiro como o herói destinado a libertar quatro animais míticos de uma maldição. Essa infeliz coincidência é obra de um feiticeiro malvado com a intenção de controlar as ditas feras para causar desordem pelo reino. Ao longo deste (curto) Beast Quest, Tom encontra aliados em conjunto com cada criatura que liberta. Pelo que foi até aqui demonstrado tudo parece estar bem, apesar de uma execução simplista, e até demonstra ter um fio narrativo coeso. Contudo, toda a história tem o seu clímax e o de Beast Quest é uma bofetada sem mão, com um misto de emoções entre “finalmente isto acabou” e “...só isto?” e uma ronda bónus de “isto é parvo”. Parvo porque as animações durante as sequências cinemáticas são extremamente robóticas e ridículas, assim como a dobragem extremamente pirosa.
Mas apesar da conclusão decepcionante de um enredo simplista e sem sal, existia a hipótese do combate ser divertido e interessante. Na verdade, este acaba por ser uma mistura repetitiva entre combates por turnos e com ação em tempo real. Durante o combate Tom pode esquivar-se para os lados ou bloquear ataques com o seu escudo, bem como desferir golpes fracos e rápidos ou fortes e lentos. Ainda assim, o herói tem à sua disposição habilidades dos elementos fogo, terra, água e vento, em conjunto com uma capacidade de invocar os aliados reunidos. Existe até a possibilidade de melhorar as capacidades da personagem principal, assim como equipar-lhe acessórios para o mesmo efeito. No papel tudo isto parece interessante e entusiasmante, mas os inimigos podem todos ser derrotados com ataques simples. Não existe necessidade de muito mais.Fora do combate existe uma componente de exploração na terceira pessoa. Poderia estar aqui outro ponto de redenção, algo até divertido, mas se o combate sugere mediocridade, então o aspeto de aventura está a um nível ainda mais baixo. Fora a inutilidade do mapa e do mini-mapa em prestar indicações geográficas úteis, Tom pode andar, correr e saltar rumo ao seu destino, e até lá vai cruzar-se com inúmeras aldeias repletas de personagens sem vida e presas no seu sítio, com informação pouco ou nada relevante. A apresentação gráfica que preenche o ecrã da Nintendo Switch é baseada em tons deslavados, sem cor e sem vida, algo que pelo menos faz justiça a tudo o que foi mencionado até agora.
Como se não bastasse, fora das aldeias o caminho até ao próximo objetivo é, mais frequentemente do que o esperado, um autêntico corredor disfarçado, repleto de inimigos cuja função é servir de obstáculo. Mesmo que seja esse o objetivo, há uma diferença entre uma boa e uma má execução. Beast Quest larga grupos de três inimigos sem nexo algum. São como autênticos esqueletos das salas de ciências das escolas preparatórias, à espera que Tom e o seu grupo se atravessem à frente. Em combate e depois de carregar no botão Y dez ou vinte vezes estes inimigos falecem, o herói percorre então mais um pouco do corredor até chegar ao seu destino: o combate contra um dos animais míticos. Estes encontros pelo menos obrigam o jogador a defender-se de vez em quando, mas mesmo assim tem sempre um desfecho repetitivo. É também de realçar que existem algumas missões secundárias a aceitar em cada aldeia percorrida. No entanto, deixa de ser necessário acrescentar argumentos quando noventa por cento consistem em destruir X inimigos ou apanhar Y objetos.Mesmo ao delinear todos estes aspetos de uma forma decrescente, existe ainda um último campo a percorrer nesta espiral maligna: a performance. Seja em que modo for, a execução do jogo tanto pode ser estável como estar a copiar uma apresentação de PowerPoint, e isto até seria minimamente aceitável não fossem os inúmeros erros visuais e de jogabilidade que levantam a questão de como foi possível colocar este jogo nas lojas. Várias vezes o herói atravessa rochedos, como se fosse a alma (não existente) do jogo a atravessar o plano físico da existência cósmica. Por outras tantas pontes encontram-se buracos invisíveis, resultando em perdas de vida injustas. Inclusive durante o combate, caso Tom desfira um golpe ao mesmo tempo que o inimigo, este é registado após o término de todas as animações. Em sítios onde o risco de cair é mais acentuado e caso isso aconteça, o jogo coloca a personagem de novo no caminho, mas sem a possibilidade de saltar para um ponto seguro, resultando numa outra queda injusta. Ouro sobre azul: os tempos de carregamento são longos entre cada mudança de área. Um autêntico desastre.
Conclusão
Beast Quest é a prova que mesmo quando um jogo funciona de forma aceitável, não significa que tenha o suficiente para se proclamar como um jogo aceitável. Não é divertido, tem uma história demasiado simplista, curta e com uma conclusão horrível, está recheado de problemas técnicos e como se não bastasse, o preço de lançamento é de €34,99. Até gratuito era digno pedir o dinheiro de volta.
O melhor
- Não existem
O pior
- Demasiados para listar
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Dead Good.
7 de Janeiro, 2020, 10:26