
ANÁLISE
Bear With Me: The Complete Collection
A preto e branco.
Por Ulisses Domingues a
Lançado originalmente em 2016 noutras plataformas e com apenas três episódios, Bear With Me – The Complete Collection chega à Nintendo Switch com a adição de uma prequela disponibilizada à posteriori, na esperança de ser uma aventura “point and click” convencional numa consola. Tendo em consideração a natureza portátil da Switch, espera-se que a presente mistura resulte numa combinação imbatível. Mas será este um adjectivo mais hiperbólico do que uma caracterização honesta?
A história desenrola-se ao longo de quatro episódios, todos eles bem desenvolvidos ao ponto de existirem pequenos fios narrativos que se ligam após terminada a aventura. Um deles é a supracitada prequela, intitulada The Lost Robots e que prepara o caminho para o enredo dos três episódios seguintes. É um carrossel surpreendente e emotivo, repleto de charme, trocadilhos e abundância do estilo "noir", com a participação do detective urso de peluche Ted E. Bear e do seu respectivo assistente.Na verdade, a direcção artística previamente referida é uma espada de dois gumes. Por um lado, é a principal característica que separa este jogo de outras ofertas “point and click” no mercado mas por outro, traz consigo um leque de problemas. Neste género é importante que os objectos se destaquem no cenário, mas com uma palete de cores que começa no preto, passa pelo cinzento e acaba no branco, isso acaba por ser algo difícil.
É assim que a jogabilidade inerente aos “point and click” se transforma numa dança mais repetitiva do que devia: investigar todos os centímetros de cada cenário, interagir com pessoas, objectos e resolver "puzzles" com o intuito de levar o enredo para a frente. No entanto, o paladar destes quebra-cabeças é frequentemente amargo, para infelicidade do jogador. Tanto são lógicos, como também evocam uma certa perplexidade, sem consenso no que toca à dificuldade.
Seria um excelente jogo se a dificuldade ou a direcção artística fossem os únicos contras, mas apesar de charme e do humor, o trabalho das vocalizações é bastante medíocre. O protagonista Ted E. Bear, por exemplo, tem a voz génerica de um detective privado. Para imaginar o timbre da personagem basta idealizar um indivíduo a colocar as mãos nos bolsos, olhar o seu parceiro directamente nos olhos enquanto profere “eu já vi muita porcaria no meu tempo”. É um clichê de uma ponta à outra.
Conclusão
Quem estiver carente de um “point and click” decente encontra uma boa aposta em Bear With Me. Uma dificuldade turva, uma direção artística conflituosa e um trabalho de voz medíocre são os maiores aspetos negativos do jogo. Pelo menos o enredo surpreende pela positiva, e neste tipo de jogos por vezes é tudo o que se pede.
O melhor
- Enredo surpreendente e emotivo
- Escrita com muito charme e humor
- Direcção artística que sobressai, porém...
O pior
- ...também dificulta a exploração
- “Puzzles” de dificuldade inconsistente
- Vocalizações medíocres
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Dead Good.