
ANÁLISE
Arc of Alchemist
Alquimia que não funciona.
Por Ulisses Domingues a
As paixonetas à primeira-vista têm muito que se lhes diga, e após o ato de estabelecer contacto visual o sentimento é tão intenso como um raio. Autênticos tiros no vazio, são também situações reminiscentes da aplicação Placard e subsequente luta contra probabilidades desconhecidas e invisíveis. Arc of Alchemist foi uma paixoneta fácil: aspeto fofo, combate cheio de ação e um enredo pós-apocalíptico, mas a única faísca que atinge é uma de desilusão.
Curioso chega a ser o facto do tema sobre a decepção incidir várias vezes durante a experiência, a começar pelo enredo: a humanidade não evoluiu para melhor e manteve-se num ciclo repetitivo de guerra e desperdício de recursos. Face a uma desertificação generalizada do planeta, Quinn Bravesford é encarregue, em conjunto com um leque de personagens, de procurar por um “Grande Poder” capaz de reverter o mundo ao seu estado anterior.
Esta proeza de saltar para outro parágrafo sem estabelecer qualquer ligação com o anterior não foi por má vontade, mas sim porque Arc of Alchemist simplesmente recusa-se a contar mais além de “este planeta está um caos” e “se falharmos esta missão, estamos condenados”. E se um jogo que custa, no lançamento, trinta e nove euros e noventa e nove cêntimos (por extenso para criar ênfase) então o redator também não terá esse compromisso. Como se não bastasse, são apresentadas quase duas mãos cheias de companheiros sem qualquer explicação prévia que leve o jogador a sentir empatia. Até o início da aventura sugere que se trata da técnica narrativa conhecida como "in media res", mas acaba por ser como começar a ver um filme de noventa minutos a partir dos sessenta.Mas existe mais por relatar. Todos os companheiros de Quinn recebem caracterização e desenvolvimento através de curtas sequências cinemáticas, quase estáticas e impossíveis de ultrapassar em pontos aleatórios durante a aventura, como voltar para a base ou carregar os dados guardados depois de desligada a consola. São momentos semelhantes às conversas alheias a que todos os utentes do metropolitano de Lisboa estão sujeitos. Estas pequenas migalhas não funcionam porque, conforme previamente referido, não existe nada que obrigue o jogador a realizar qualquer investimento emocional.
Fora a decepção que é o enredo, a jogabilidade de Arc of Alchemist também não deslumbra, e esta divide-se em três sistemas: exploração medíocre onde alguns “puzzles” são resolvidos, assim como pequenos baús de tesouro escondidos; combate excessivamente repetitivo, fácil e com picos de dificuldade sem aviso ou ordem; e um pequeno minijogo de construção de bases que serve para não se sabe bem o quê. Nenhum deles se esforça por ser cativante para o jogador, e são mecânicas pouco intuitivas mais frequentemente do que se gostaria.
Antes de iniciar qualquer confronto, Quinn pode desbravar o mapa com mais dois cúmplices. Enquanto cada canto do cenário pós-apocalíptico é explorado, Quinn tem a capacidade de saltar e utilizar os chamados “Lunagears” para resolver vários quebra-cabeças ao longo do mapa. É tudo bastante simples, lógico e serve apenas como distração do (entediante) prato principal: o combate. O supracitado elemento é tão seco quanto o estado actual do mundo fictício. Dois botões atacam a curta e a longa distância, e outro esquiva para fora do perigo, ou pelo menos assim pensa o jogador. A câmara do jogo não tem utilidade, esquecendo-se frequentemente que o mundo não gira à volta de Quinn. É importante também referir que podem surgir inimigos mais fortes que outros de forma aleatória e derrotar a equipa em dois ou três golpes. É uma questão de ir tentando até conseguir.Já o terceiro elemento é um minijogo de construção onde, por uma módica quantia de dinheiro e outros recursos, permite à senhora Bravesford e companhia a construção de edifícios, treinar as personagens mais além do que o normal, inclusive fazê-las aprender habilidades novas, e até comprar equipamento novo. Apesar de ser algo bem-vindo quando confrontado com algo tão monótono como tudo o resto, é um sistema estranho com uma interface gráfica muito confusa.
Mas tudo isto é apenas para inglês ver e a verdadeira razão para uma nota tão baixa é essencialmente uma: o desempenho. Arc of Alchemist tem o aspecto de um jogo da 3DS posteriormente adaptado para a Nintendo Switch, e mesmo assim arrasta-se durante todas as míseras dez horas de jogo. É grave ao ponto de existirem constantes quebras de fluidez, tanto em ecrãs de carregamento, como menus de jogo. Arrasta-se na exploração, arrasta-se no combate e, surpreendendo absolutamente ninguém, arrasta-se também no mísero minijogo de construção de edifícios. É mesmo muito mau.
Conclusão
Enredo que não interessa nem desenvolve, mecânicas desinteressantes e um desempenho hediondo são todas as razões e mais algumas para transformar Arc of Alchemist no arrependimento de cada possível comprador. Com um preço de lançamento de €39,99, é impossível recomendar a sua aquisição mediante tanta outra oferta excelente no catálogo.
O melhor
- Aspecto fofo e colorido
O pior
- Desempenho geral horrível
- Enredo e personagens sem desenvolvimento
- Mecânicas de um modo geral desinteressantes
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Idea Factory.
1 de Março, 2020, 17:42