
ANÁLISE
One Piece: Pirate Warriors 4
Hordas de inimigos.
Por André Pereira a
One Piece é uma belíssima série, com anos de episódios e sem fim à vista. Drama, comédia, e muita acção são os ingredientes deste universo sobre pirataria e é normal que algo com esta duração tenha pegadas nos videojogos. De uma forma geral, as adaptações para jogos de filmes ou séries de animação não são grande espingarda, acabando por ser caminhos fáceis para dinheiro fácil e o chamado "fan service" barato, que até funciona porque, vá lá, jogar com as personagens favoritas dos fãs é fantástico. Os jogos Pirate Warriors permitem exactamente isso, pegar em tantas personagens, heróis e vilões, e desancar em tudo o que mexe, ignorando as leis da física e da razão. É um festim cheio de estilo, um fogo de artifício num céu estrelado mas que se queima demasiado depressa.
Começando pelo enredo (ou a sua amostra), Pirate Warriors 4 é uma autêntica confusão e mais valia não ter nada ou seguir o segundo jogo da série com uma história original, sem necessidade de sacrificar neurónios que vão estar constantemente a perguntar "mas que raio está a acontecer?" A história é resumida de uma forma tosca em sequências animadas que são bonitas de se ver no ecrã da Switch, mas algo estranhas e demasiado mecânicas num ecrã de televisão. De repente, o jogador salta para meio da história e vê-se a jogar partes de uma trama que não ligam com o que aconteceu antes, para em seguida avançar de forma esquizofrénica em direcção a outros momentos de acção onde algo de muito bom aconteceu, mas que só o é pelo que já tinha acontecido antes. Não há antecipação, não há aquela ansiedade nem um culminar satisfatório de uma história equilibrada. Para os fãs da série isto até poderá ser um não-problema porque já sabem o que aconteceu e só estão ali para descontrair. Já alguém que pretenda ter uma amostra do mundo de One Piece vai ficar tão desiludido que nunca mais vai querer saber do grupo "Straw Hats".Mas o enredo interessa neste tipo de jogo? Sim e não. "Dramatic Log", como é conhecida a aventura com um enredo por aqui, existe por existir: é um motivo para desbloquear personagens e reviver momentos mais marcantes da série. De resto, o jogador vai fazer o mesmo uma e outra vez, esbofetear inimigos pelos ares enquanto corre e escolta companheiros ao longo de labirintos e fortes ocupados. Quem jogou um "musou" ou um jogo com a palavra "Warriors" no título jogou-os a todos, mas com tantas séries já adaptadas como Hyrule Warriors ou Fire Emblem Warriors nota-se a falta de algumas das inovações que aqueles jogos apresentaram. Quem olhar de frente para um Persona 5 Scramble, que promete virar tudo do avesso, vai achar que este Pirate Warriors 4 é muito estéril em comparação.
Não deixa de ser verdade que a experiência é divertida. Pregar um chuto de borracha contra cem soldados é o prato do dia num dos episódios, e esse exagero presta-se bem a este género de jogo. Cada personagem move-se e ataca de maneira diferente, apesar de usar um sistema repetitivo; a mais valia é a possibilidade de jogar com as personagens favoritas da série, e elas não faltam por aqui. Claro que algumas poderão ser clones de outras mas de um modo geral, as personagens principais estão bem conseguidas e exibem as habilidades características da série, bem como as respectivas desvantagens: a título de exemplo, o cozinheiro engatatão não pode atacar mulheres.Para desenvolver o elenco, o processo foi bastante simplificado e cortou na gestão de uma miríade de personagens para passar apenas a um simples ecrã constituído por ilhas interligadas. Gastar moedas para expandir os pontos de vida, de defesa e de ataque de uma personagem reflecte-se em todas as outras, com diferenças mínimas. Para além da campanha que demora entre dez a quinze horas, existem outras modalidades de jogo, desafios e brindes para desbloquear. Se o "Dramatic Log" é limitado, o "Free Log" é um autêntico recreio onde se pode brincar com tudo o que se desbloqueia, e sem as restrições das personagens.
A nível técnico, notam-se tempos de carregamento excessivamente longos, algumas quebras de fluidez, e uma câmara mais lenta que a acção, o que resulta numa experiência menos boa. Os gráficos já mencionados não fazem uso da série de animação, o que é uma pena, optando por uma animação que ficaria melhor em filme. É bonita, embora um pouco mecânica e poderia ser melhor trabalhada, mas cumpre o seu dever em ligar partes da história. De resto, os menus estáticos e ecrãs de espera recorrem a uma palete bastante usada em jogos de dispositivos móveis e que destoa bastante do resto do jogo. No departamento sonoro parece que o jogador é metralhado por uma "playlist" de composições genéricas onde não estão presentes os temas da série, ao contrário das vozes. Já os restantes efeitos sonoros correspondentes a ataques e poderes não estão maus.
Conclusão
Em suma, Pirate Warriors 4 é mais um jogo baseado numa série de animação, mais um jogo de One Piece que não será o último. É divertido, tem estilo, apela aos fãs da série e aos fãs dos jogos com "Warriors" no título, mas não traz nada de novo. É uma refeição rápida, que sabe bem comer de vez em quando mas de baixo valor nutricional. É bem provável que a melhor adaptação de One Piece para jogo ainda ande por aí, mas uma série destas é tramada para traduzir em jogo sem sacrificar alguma qualidade. Ainda assim, melhor do que nada, mas esta é uma obra que se adquire mais facilmente numa promoção jeitosa.
O melhor
- Combate
- Quantidade de conteúdo
O pior
- Desempenho
- Campanha fraca
- Ausência de melhorias aplicadas a outros Warriors
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Bandai Namco.
7 de Abril, 2020, 12:14