
ANÁLISE
The Complex
Ficção científica.
Por Ulisses Domingues a
Os filmes interactivos não são novidade no universo dos videojogos e algumas produtoras, como é o caso da Netflix (Bandersnatch de Black Mirror) esforçam-se para criar experiências alusivas a este género que teve um pico de popularidade nos anos noventa. Com o avançar da tecnologia pode-se assumir que as experiências serão mais enriquecedoras do que naquela década. O que diz então The Complex da Wales Interactive (The Bunker, Late Shift)?
A história de The Complex, escrita por Lynn Renee Maxcy (The Handmaid’s Tale), segue dois pontos da vida da doutora Amy Tennant (protagonizada por Michelle Mylett), uma cientista especializada no uso de nano-células em medicina moderna. Após um devastador acidente de saúde pública afetar a empresa de Amy, colocando a sua capacidade em dúvida, a protagonista tem de descobrir as razões que levaram ao desastre, juntamente com outras personagens como o doutor Rees Wakefield (Al Weaver) e a CEO Nathalie Kensington (Kate Dickie).O grande destaque em The Complex está no elaborar da personalidade de Amy e não apenas na escolha de caminhos alternativos, como acontece noutros jogos. No final de cada sessão, onde o jogador é presenteado com o clímax da história com base nas suas escolhas, Amy recebe uma análise do foro psicológico baseada nas suas decisões ao longo do percurso. Este elemento tem, contudo, pouca utilidade e nenhum impacto como fator decisivo em cada final. Mais útil é o ecrã de pausa, que dita o parecer favorável ou negativo através de valores percentuais das personagens em relação a Amy. É em conjunto com esta informação e algumas escolhas do jogador que se desbloqueiam todos os nove finais. Mas nem todas as escolhas têm o mesmo nível de impacto, algumas apenas trazem novas sequências para visualizar, por exemplo. Felizmente The Complex permite ultrapassar cenas já vistas e se isso não acontecer, é porque a cena em questão contém um elemento que ainda não foi presenciado, por muito ínfimo que seja. Ainda assim, nota-se a falta de um fluxograma para ser possível apanhar todas as cenas não vistas.
A prestação das personagens, em particular a de Clare (Kim Adis), é mais do que suficiente para fazer avançar o enredo. Infelizmente o guião está repleto de lugares-comuns fáceis de reconhecer como por exemplo, quando uma personagem interrompe o discurso a meio porque chegou a uma conclusão brilhante, ou até o uso do famoso “Howie Scream”. O enredo e os seus nove finais também apresentam alguns problemas: nota-se um sentimento inquietante de incoerência entre vários elementos da história que é impossível de ignorar. Num dos finais, por exemplo, revela-se uma particularidade interessante sobre Amy e o seu passado, mas esse elemento fica de fora de todas as outras conclusões da história. Dito isto, e apesar de algumas inconsistências típicas do género, assistir ao desenvolvimento da trama não deixa de ser envolvente.
Conclusão
The Complex é satisfatório mas não é propriamente surpreendente. O enredo é divertido para os entusiastas de ficção científica mas notam-se algumas incoerências. A prestação dos atores tem o seu mérito, em especial de alguns elementos no elenco, apesar do guião que os conduz apresentar bastantes lugares-comuns. Pelo preço de quase dois bilhetes de cinema, os jogadores têm em mãos nove finais para desbloquear através das suas escolhas e várias sequências para assistir. Só peca (e muito) pela falta de um fluxograma.
O melhor
- Fluidez do enredo
- Prestação de uma parte do elenco
- Requer envolvimento do jogador
O pior
- Falta de um fluxograma
- Incoerências no enredo
- Algumas escolhas com pouco impacto
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Wales Interactive.
25 de Abril, 2020, 14:29