
ANÁLISE
Telling Lies
Conversas privadas.
Por André Pereira a
Foi em 2015 que Sam Barlow partilhou Her Story com o mundo, jogo que tinha com objectivo revitalizar o nicho de jogos que fazem uso do "full motion video" (FMV), que recorrem ao uso de imagens reais para contar uma história, uma prática relativamente popular na década de 1990. O sucesso de Her Story abriu caminho a novas aventuras e eis que chega agora um Telling Lies. Se o ambiente visual continua a surpreender pelo aspecto ser como o de um filme, será que o jogo surte o mesmo efeito?
Um jogo que respira enredo, mistério e revelações não pode ser completamente revelado numa análise. A opinião será sempre relativa, porque acaba por depender de quem está do outro lado e se gosta de um bom mistério. Para criar ambiente: Telling Lies começa com Karen Douglas e chegar a casa e a ligar o computador. A partir daí, o jogador pode ficar-se por olhar para o ambiente de trabalho ou jogar uma partida de Paciência e ignorar o resto do enredo, tal como muitas pessoas fariam. No papel de Karen, o jogador acede ao disco rígido onde encontra uma miríade de vídeos que se podem percorrer com palavras-chave, vídeos estes que servem de fio condutor para a história. Os desafios passam por organizar os vídeos cronologicamente, procurar por pistas ou outros pormenores para descortinar o que aconteceu. Apesar de serem bastantes vídeos e do número de horas de jogo ser significativo, o jogador está limitado a uma campanha curta, obrigando a várias repetições para ver todos os finais. Isto tanto pode ser positivo ou negativo, consoante o prazer que o jogador retire da sua primeira vez.Um jogo como este terá sempre uma jogabilidade peculiar. Se num computador, com rato e teclado, a experiência é intuitiva, a conversão para uma consola acaba por retirar o que o torna de interessante: a interacção. Felizmente o jogo usa o ecrã táctil da Nintendo Switch. Reproduzir vídeos, retroceder, marcar tempos, anotar, será tudo mais fácil e prático desta forma. No entanto e tal como na vida real, andar para trás e para a frente num vídeo até se dar com o momento ideal é chato e vai ser necessário repetir esta acção muitas, mas mesmo muitas vezes. E com o fantasma de um cronómetro na cabeça esta urgência acaba por ser frustrante. Por outro lado, é sempre possível ignorar o enredo e jogar mais Paciência. Há outros pormenores aborrecidos que cortam a suspensão da descrença, como só se conseguir ouvir um lado da conversa quando seria perfeitamente possível ouvir os dois intervenientes; para ouvir tudo, há que procurar o outro interlocutor, o que obriga a ver o mesmo vídeo duas vezes.
Será mesmo difícil de acompanhar, quando o desempenho dos actores é bastante bom? Num jogo normal uma análise deveria inclinar-se sobre a locução e desempenho das vocalizações, mas aqui vai mesmo ser necessário incidir sobre os actores porque para além de comunicarem com as suas vozes, estão a comunicar com o corpo e com as suas expressões, tudo é importante para o jogador acreditar ou desconfiar de alguém. Neste aspecto, Telling Lies é simplesmente fantástico. Dito isto, passam-se horas a conhecer as pessoas e quem não gostar de curtas metragens "slice of life" vai aborrecer-se até chegar aos momentos que obrigam a enfiar o chapéu de Sherlock Holmes.
Conclusão
Telling Lies não é para todos. Quem não consegue manter a concentração durante longos períodos de tempo não vai apreciar o jogo. Já quem não tiver este tipo de problemas deve arriscar neste jogo, que exibe um bom desempenho na consola, sem problemas ou obstáculos técnicos.
O melhor
- Enredo
- Desempenho dos actores
- Uso do ecrã táctil
O pior
- Pode não ser intuitivo de início
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Annapurna Interactive.