
ANÁLISE
Liberated
Banda desenhada furtiva.
Por Ulisses Domingues a
É assustador pensar que a ideia de privacidade é hoje bastante diferente do que há uns largos anos. Quase tudo o que é electrónico exige uma ligação à internet e mediante um uso descuidado com as várias ferramentas, a imagem de um indivíduo poderá sair permanentemente afectada. Liberated toca neste assunto polémico e apresenta-se como um jogo num aspeto de banda-desenhada que mistura elementos furtivos com acção e quebra-cabeças, em conjunto com um enredo horripilante que estabelece mais paralelismos com o mundo real do que uma obra fictícia.
O enredo começa por apresentar um governo que utiliza algo intitulado de "Citizen Credit System" (CCS) como meio de controlar a população. Este sistema atribui pontuações a todas as pessoas que vivem naquela sociedade, desde o mais comum "zé povinho" até a um empresário de alto gabarito. Todos sem excepção recebem uma classificação mediante os critérios do poder. É semelhante à educação típica que se dá a uma criança: portas-te bem e recebes um doce, portas-te mal e ficas de castigo. Claro está que a influência na criação deste "clichê" narrativo deriva de histórias distópicas, mas também é assustadoramente semelhante ao chamado "sistema de créditos sociais" do Partido Comunista Chinês.Em Liberated o jogador partilha a acção em 2D com várias personagens, todas elas proporcionam uma opinião ou perspectiva diferente dos acontecimentos. Para além do ênfase num estilo de jogo furtivo ou frenético (infelizmente não é possível ser exclusivamente furtivo), o enredo complementa-se com vários quebra-cabeças que vão desde adivinhar códigos, reajustar peças de um circuito, até efetuar escolhas que mesmo com pouco impacto no enredo, relembram o efeito que as obras da Telltale tiveram nesta indústria. Presentes estão também, quer o jogador queira quer não, os famosos mas pouco amados "Quick-Time-Events".
Apesar da dificuldade a nível da jogabilidade ser baixa (é possível matar os inimigos quase sem pensar), Liberated apresenta um "Reader Mode" que retira qualquer dificuldade presente, perfeito para quem queira apenas conhecer o enredo, o seu ponto forte, sem qualquer impedimento. É também possível aumentar a dimensão dos balões de texto para permitir uma leitura mais confortável. Algo que destaca Liberated de outros jogos do género é a sua mestria em apresentar um livro de banda-desenhada interativo, repleto de painéis que exibem estilo e conteúdo, sempre dentro de uma estética "noir" e os seus traços agressivos a preto e branco. Tendo em conta que o enredo é baseado numa história de natureza opressiva, são elementos que se conjugam muito bem.Nem tudo é um mar de rosas e Liberated sofre um pouco na Nintendo Switch. As animações têm uma qualidade relativamente medíocre, as texturas são de baixa resolução, e a fluidez é pouco constante, o que faz da viagem em curso algo pouco suave. Contudo é importante relembrar que Liberated é uma obra de uma equipa algo pequena e estes problemas podem ser resolvidos mediante uma ou outra atualização.
Conclusão
Com um enredo opressivo e assustador, Liberated liberta-se dos grilhões associados a outras ofertas na Nintendo Switch pela sua apresentação cheia de estilo e escrita de qualidade. Ainda que tenha alguns problemas a nível técnico e a sua jogabilidade seja um mero canal para interagir com a história, nada impede a sua recomendação a amantes de livros interactivos com uma estética "noir" e um enredo distópico.
O melhor
- Enredo
- Apresentação
- Opções de acessibilidade
O pior
- "Quick time events"
- Problemas técnicos
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Plan of Attack.