
CRÓNICA
eShop: Passos na direcção certa
Lançamentos digitais com cada vez mais destaque.
Por Jorge Pereira a
Quando se diz que as consolas da Nintendo se estão a tornar num ambiente mais favorável para jogos digitais, sobretudo quando comparadas com os seus esforços na geração passada, ainda não serão muitos os que acreditam. Na verdade, a Nintendo desenvolveu uma reputação tão negativa com a sua estratégia online no passado que se torna bastante difícil para os jogadores ultrapassar esse estigma. Ainda assim, é esta a verdade. Muitos dos anúncios recentes de novos jogos são de títulos exclusivamente em formato digital, quer de produtoras independentes, quer de pequenos projectos de grandes marcas. Isto é ainda mais evidente nos anúncios para a Wii U, que como já foi discutido no artigo do mês passado, está com grandes dificuldades em obter apoios das grandes third-parties, mas que pelo menos no Ocidente tem tido títulos digitais de qualidade. Na crónica deste mês, irei discutir o que falhou na estratégia passada da Nintendo, o que está a marca a fazer para reverter os erros, os casos de sucesso que já se vêem, e o que pode ser feito no futuro.
Certamente, a infâmia do WiiWare e DSiWare junto das produtoras independentes provém das restrições proibitivas que a Nintendo impunha. Super Meat Boy é provavelmente o caso mais mediático, já que a versão WiiWare teve de ser cancelada devido à imposição de um limite de 40MB na sua dimensão. A imposição de um número mínimo de vendas para receber algum pagamento, conjugado com a pouca promoção feita ao serviço certamente que assustou muitas produtoras independentes que não iriam ter o mesmo lucro que no XBLA, iOS ou Steam. No entanto, com a eShop está-se a assistir a uma mudança drástica no modo como a Nintendo lida com os jogos independentes, especialmente quando me recordo de um comentário feito há uns anos por Reggie Fils-Aime, que dizia que a Nintendo “não estava interessada em produtores 'de garagem'”. Isto tornou-se especialmente evidente na GDC deste ano, onde foi apresentada a Nintendo Web Framework, que em conjunto com o Unity, disponibiliza um grande leque de ferramentas para a criação de aplicações e jogos, sendo especialmente útil para os independentes. Foi inclusivamente demonstrado um método simples de pôr aplicações de iOS a funcionar na Wii U e está até disponível um formulário que qualquer pessoa interessada em desenvolver jogos para a eShop pode preencher. Isto é um claro sinal do maior investimento da Nintendo em tornar a eShop num sucesso, particularmente com o fraco apoio que a Wii U tem tido das third-parties.
Mesmo antes disto, já bastantes jogos independentes receberam largos elogios por parte da imprensa e tiveram bastante sucesso, tanto na 3DS como na Wii U. Mutant Mudds ou Trine 2 por exemplo, são alguns dos exemplos de jogos independentes de grande qualidade que têm chegado à eShop recentemente. Gunman Clive tem provavelmente a melhor história de sucesso numa consola Nintendo. Este jogo feito por apenas uma pessoa conseguiu o reconhecimento por parte dos jogadores quando foi lançado na eShop da 3DS, onde vendeu mais unidades que todas as suas outras versões combinadas. Uma direcção artística única combinada com um preço baixo e um melhor sistema de controlos fez milagres por um jogo desconhecido. Um bom incentivo para outras produtoras independentes, que, espero eu, irá levar a um maior apoio. A própria Nintendo tem vindo a apostar no lançamento de jogos exclusivamente digitais, com Pullblox, Dillon’s Rolling Western ou HarmoKnight a conseguirem grande reconhecimento por parte da comunidade. Disponibilizar online jogos que já existem em formato físico também foi uma boa medida, já que além de evitar problemas de stock (como chegou a acontecer no Japão com o lançamento de Animal Crossing: New Leaf e que foi um sucesso estrondoso, conseguido que uma boa parte das vendas fosse digital) ainda incentiva muitos jogadores a visitar a eShop e a adquirir títulos independentes pouco conhecidos. No Ocidente, a eShop está também a ser um sucesso, particularmente junto dos apreciadores de jogos de nicho que frequentemente não saem do Japão, como Code of Princess que graças a custos de distribuição mais baixos chegam a outros territórios através da distribuição digital.
Para concluir, penso que apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer por parte da Nintendo para conseguir que a eShop seja uma plataforma digital de referência, esta está no caminho certo para atrair muitas produtoras independentes. O apoio dos jogadores é essencial para o seu sucesso e há que perder a aversão a títulos digitais e aceitar que cada vez menos os seus jogos podem ser ignorados. No entanto, é necessário que a Nintendo não se deixe levar pelo desejo de ter uma plataforma extremamente recheada, mas sim assegurar que os jogos que lá chegam têm a qualidade digna da reputação da marca.