
CRÓNICA
Eu jogo Japanês
Por Ivan Lopes a
Nestas duas ultimas semanas só se tem ouvido falar em Modern Warfare para aqui, Modern Warfare para ali, o Tiago “Rednimik” Loureiro todo eufórico pelo jogo, o Nuno “neveda” que não sabe para onde se virar (se há de jogar na Wii ou na 360), a Microsoft que bane todos os apressadinhos, enfim acho que até nos videojogos a guerra nos últimos anos tem sido muito lucrativa. No entanto não me lembro sequer de alguma vez ter sido afectado por estas "febres". Nem por Uncharteds, Fifas, Halos... porque será?
Ora deixem cá pensar por um instante. Esqueçam, afinal não é preciso pensar muito, a culpa é da sua origem. Olhando para trás basicamente tudo o que joguei ao longo do tempo tem vindo cada vez mais a ser unicamente jogos vindos de criadores japoneses. Salvo algumas excepções a que o FN “obriga”. Nem sei porque é que ainda perco tempo a jogar jogos em japonês quando não percebo uma única palavra do que lá está escrito.
Heróis à parte, parece que o ambiente nestes jogos é sempre mais envolvente. Talvez por verem um jogo como aquilo que realmente é, ou como uma forma artística de mostrar ao mundo uma criação. Muitas vezes os ocidentais tendem a cair para o lado da recriação fiel da realidade ou catalogar de “apenas um jogo”, quando o japonês calcula sempre se adicionar um pouco de fantasia ou fazer uma alteração mais arriscada não tornaria a experiência mais agradável. Sem descuidar o desafio para o jogador claro. Vamos lá passar às comparações que é o que vocês querem.
Começando pelos jogos de luta (não fosse o meu estilo de jogo favorito), se pusermos o Street Fighter ao lado do Mortal Kombat nota-se logo o “facilitismo” ocidental. No franchiseda Capcom temos um jogo que é popular pela dedicação que exige por parte do jogador onde cada personagem tem as suas nuances e diferentes formas de aprendizagem, o Mortal Kombat bastava ser um jogo onde introduzíamos combinações de botões para executarfatalities mais depressa que o adversário e tinha fama na mesma. E o resultado está à vista, depois de tantos anos uma das séries continua a subsistir e a outra está suspensa num limbo à espera de ser ressuscitada.
Depois temos a forma como os ocidentais tentam executar ideias retiradas de jogos orientais como se fosse algo básico. Os famosos QTE que Yu Suzuki pôs em marcha após o lançamento de Shenmue (embora existam alguns registos anteriores) chegaram aos ouvidos de criadores europeus e norte americanos que entenderam a ideia como “sequências de vídeo interactivas”. Errado. O Shenmue exige que no momento, uma acção seja tomada dentro de segundos e que não altera o decorrer normal do evento se o jogador não reagir. Em todas as outras produções ocidentais que tentam copiar este esquema, a acção apenas abranda e o jogador introduz o comando para esta continuar e não para alterar o decorrer da acção porque no caso de falhar o resultado é o mesmo independentemente da altura em que falha. Claro que aqui dou o braço a torcer pois algumas produções nipónicas cometem o mesmo erro. Influenciados pelos ocidentais?
Já nos jogos de acção os japoneses, para além da constante fuga aos moldes clássicos tendem a tratar os inimigos como parte integrante do ambiente em que são inseridos e não como formas de destacar o herói. Porque é o jogador que faz o protagonista brilhar e não o contrário. A comparação feita pelo Nitori no tópico do Devil May Cry entre este e God of War, é precisamente o que penso sobre a abordagem ocidental. Enquanto com Dante o jogador tem de dar o máximo de si para executar combos vertiginosos e espectaculares, com Kratos basta apenas metralhar o mesmo botão, esperar que surja uma sequência de botões, carregar e dar o golpe final. Algo como uma fatality, mais uma vez facilitando a vida ao jogador e conseguindo um efeito visual igualmente vistoso.
Reparem que não invoquei nenhum titulo mais underground ou produções independentes. Essas normalmente são feitas para um publico muito especifico e por vezes têm conceitos originais mas limitados. Até nos jogos ditos “casuais” os japoneses têm um certo cuidado porque respeitam esse publico, e têm exemplo disso em jogos como Nintendogs ou Wii Sports Resort que mesmo simples mostram um cuidado que não se vê noutros jogos como Petz ou Deca Sports.
Certamente que fica a faltar mencionar muita coisa e os padrões de cada um alteram a visão sobre as produções de criadores já por si influenciados. Mas como seria se apenas tivéssemos acesso a jogos de origem ocidental? Conseguiríamos apreciar do mesmo modo sem a influência oriental? E o que pensaram os japoneses deste “nosso” mundo?