
ARTIGO
The Wind Waker
Revisitar um clássico.
Por Francisco Ramalheira a
Desde o lançamento de The Legend of Zelda para a NES que esta série se tornou numa das mais sólidas e amadas da Nintendo, uma verdadeira presença obrigatória em qualquer consola da marca. A importância da série aumentou de forma exponencial após o lançamento de Ocarina of Time em 1998, considerado por muitos como o melhor jogo de todos os tempos e que aumentou a já enorme legião de fãs das aventuras de Link.
A 3 de Março de 1999, a Nintendo anuncia estar a trabalhar na sucessora da Nintendo64, denominada na altura de projecto Dolphin. Um ano depois, no Nintendo Space World 2000, este projecto foi desvendado com o nome Nintendo GameCube. Juntamente com as especificações técnicas, o design da consola e do comando, a Nintendo exibiu algumas demos de forma a exibir o poder da sua nova consola.
Uma delas ficou conhecida como The Legend of Zelda 128, onde era mostrado um duelo em tempo real entre Ganondorf e Link, com um grafismo nunca visto até à data. Apesar de ser uma demonstração técnica, os fãs e a imprensa especularam que a batalha podia ser de um jogo em desenvolvimento ou pelo menos uma indicação da direcção do próximo título da série Zelda, deixando fãs pelo mundo inteiro a salivar pelas capacidades da nova GameCube e, obviamente, pelo que seria possível fazer com Zelda na nova consola.
A Nintendo, por sua vez, manteve-se calada até ao Space World de 2001, onde ocorreu uma das notícias mais bombásticas e polémicas deste meio até à data. Nesse evento, foi mostrado outro vídeo do futuro Zelda, agora com o subtítulo Wind Waker; mas o visual realista dera lugar a um cartoonizado, recorrendo à técnica conhecida como cel shading, popularizado pelo clássico Jet Set Radio, da Dreamcast. Os espectadores não acreditaram no que estavam a ver, e muitos pensaram que se tratava de uma brincadeira de mau gosto da Nintendo. Uma das séries mais importantes e adultas da Nintendo iria adoptar a direcção artística de um desenho animado? Mas que estupidez era essa? Depois da confirmação de que não se tratava de brincadeira, o sentimento de espanto deu lugar ao cepticismo, pois a grande maioria defendia que este estilo não se adaptava a Zelda. A Nintendo sempre foi famosa pela ousadia e inovação mas isto, para muitos, era demais.
Após muitos meses de desconfiança, indignação e inúmeras petições para a Nintendo recuar na sua decisão, o jogo foi finalmente lançado a 13 de Dezembro de 2002 no Japão, a 24 de Março de 2003 na América do Norte e a 3 de Maio de 2003 na Europa. E a verdade é que o cepticismo original rapidamente deu lugar à constatação do inevitável: a Nintendo acertara outra vez! Wind Waker era um jogo extraordinário e razão mais que suficiente para adquirir uma GameCube. Mesmo os mais críticos tiveram de se render à evidência e constatar que o cel shading dava outra dimensão à série, e embora muitos continuem a preferir um visual mais realista para a série, a verdade é que não podem negar que Wind Waker é um jogo estupendo e um elemento mais que merecedor de integrar esta tão aclamada saga.Este novo grafismo trazia então inúmeras vantagens, nomeadamente permitir uma movimentação mais fluída para a câmara e para as personagens, tornando os seus movimentos mais rápidos e precisos, aumentando também a qualidade das batalhas. Verificou-se outra alteração positiva na expressão facial das personagens, uma das mais vivas e intensas que se encontrava nos videojogos da altura. É fácil perceber quando Link está furioso, alegre ou cansado, sendo também mais simples compreender as mecânicas de algumas dungeons, bastando para isso estar atento aos locais onde o nosso herói desvia a sua visão.
Muitas pessoas confundem a escolha da Nintendo por este estilo gráfico alternativo como mera fuga pelo caminho mais fácil. É verdade que seria mais complicado produzir o jogo seguindo os padrões de uma direcção artística mais realista, mas a Nintendo não se desleixou na produção deste título, proporcionando aos jogadores uma das mais bonitas aventuras de sempre, onde parece que estamos sempre a navegar numa aguarela cheia de vida, emoção e cor. The Wind Waker é, sem dúvida, um dos jogos mais belos da geração 128-bits, sendo dos jogos que tecnicamente melhor resistiu ao teste do tempo. Um clássico e mais uma grande obra da gigante de Quioto, que agora pode ser revisitada ou jogada pela primeira vez numa conversão em alta-definição a ser lançada para a Nintendo Wii U.