
ANÁLISE
Kirby & The Amazing Mirror
Kirby multicolorido.
Por Jorge Pereira a
Quando se pensa em jogos para o Game Boy Advance que tenham um grande foco no modo multijogador, aqueles em que se pensa imediatamente são quase sempre a série Pokémon e The Legend of Zelda: Four Swords. Mas houve pelo menos mais um jogo para a portátil que tomava partido de um modo multijogador cooperativo e que é frequentemente esquecido: Kirby & The Amazing Mirror. Com a vinda deste título para a eShop da Wii U e com a perda do modo multijogador, esta aventura da bola cor-de-rosa mantém o seu valor?
Antes de mais, é importante analisar em que sentido é que o multijogador funcionaria e como se insere na história. Coincidência ou não, tem algumas semelhanças com a história de Zelda: Four Swords uma vez que Kirby também se encontra dividido em quatro cópias de si mesmo, quando um dia é subitamente atacado por uma figura negra idêntica a Meta Knight. Indo os quatro Kirbys no seu enlace, acabam por ir parar ao Mirror World, um mundo paralelo cuja entrada se localiza nos céus da Dream Land onde assistem a um combate entre o verdadeiro Meta Knight e o seu sósia, o Dark Meta Knight, que acaba por vencer e prender o original num espelho, quebrando-o em seguida em oito estilhaços que são colocados em diferentes zonas do Mirror World. Cabe então a Kirby e aos seus clones recolher todos os estilhaços do espelho partido para salvar o seu rival e descobrir quem está por detrás da corrupção que assola ambos os mundos.
Este Mirror World tem uma grande diferença em relação ao que é comum na Dream Land dos outros jogos da série. Em vez de o jogo ter uma progressão linear dividida em níveis completamente separados ao longo de uma série de mundos, Kirby & The Amazing Mirror apresenta uma progressão não-linear, com todos os mundos interligados entre si numa forma que deverá parecer bastante familiar a quem conhece “Metroidvanias”. Assim sendo, o jogo oferece a liberdade de obter as diferentes peças do espelho numa ordem livre, podendo até deixar-se grandes partes do mapa por explorar - o que implica perder uma grande quantidade de coleccionáveis, já típicos da série, que se encontram escondidos. Claro que ao se chegar a cada mundo não se faz a menor ideia de onde se está, sendo então necessário procurar primeiro pelo mapa do respectivo mundo que permite ver o modo como as diferentes “salas” estão interligadas, bem como os diferentes locais de ligação a cada mundo e o local onde se encontra o estilhaço do espelho. Apesar de esta forma de progressão já ser por si só inovadora para a série, o maior atractivo do original era o multijogador cooperativo, que permitia que até quatro jogadores pudessem passar o jogo em conjunto e com a vantagem de que cada um podia seguir o seu próprio caminho para locais completamente diferentes no Mirror World. Não havendo essa possibilidade na versão Wii U do jogo, é-se obrigado a percorrer tudo sozinho, ou melhor, com a “preciosa ajuda” dos restantes Kirbys controlados pelo computador que para o bem e para o mal, são relativamente inúteis. Se por um lado, o facto de aqueles não terem grande acção para além de deambularem pelos níveis impede que efectivamente consigam passar alguma porção importante sem o conhecimento do jogador, por outro lado quando a sua ajuda é necessária para uma luta com um boss ou para resolver um puzzle, eles também não são muito prestáveis.
A ausência de multijogador também prejudica os minijogos em Kirby & The Amazing Mirror, que foram todos feitos a pensar primariamente neste modo. Não que seja impossível jogar sozinho, mas perde grande parte do interesse, uma vez que são minijogos competitivos. A título de exemplo, destaca-se Speed Eaters, um jogo de reacção em que quatro Kirbys se encontram em frente a um prato fechado que quando aberto, tem de se premir o botão A o mais rapidamente possível para ficar com a comida. Outro, chamado Kirby’s Wave Ride, consiste numa corrida pelo oceano entre os quatro Kirbys montados em Warp Stars que têm de ganhar velocidade através de saltos precisos nas ondas para chegar à meta o mais rapidamente possível. Como se pode compreender, grande parte do divertimento com estes minijogos resultaria de os tentar com amigos e não sozinho.
Fora o aspecto multijogador e a progressão labiríntica, o jogo é uma aventura tradicional da série. Como é habitual, Kirby tem à sua disposição as suas duas capacidades mais emblemáticas: sugar inimigos e outros objectos e obter os seus poderes; e voar quando se enche de ar. Muitos dos poderes tradicionais da série encontram-se presentes em The Amazing Mirror, incluindo Fire, Fighter, Sword e Beam, tendo sido também introduzidas algumas novidades: Cupid, que transforma Kirby numa figura angelical com capacidade de disparar setas e de voar mais eficazmente; Missile, que como o nome indica, converte Kirby num míssil gigante que vai a voar contra os inimigos; e Smash, uma inclusão especial, em conjunto com outros bónus, e que é uma referência à série Super Smash Bros. que confere a Kirby os seus movimentos dessa série.
Uma outra característica interessante de Kirby & The Amazing Mirror é a longevidade, bastante maior que o habitual dentro da série. Especialmente se se quiser tentar completar o jogo a 100%, há muitas salas a percorrer e muitas saídas escondidas que necessitam de um poder específico para se lhes aceder. Por outro lado, alguma desta longevidade provém das vezes frequentes que se tem de passar por algumas salas, o que mesmo com a capacidade de telefonar para uma Warp Star que leve Kirby para a zona central e com vários atalhos que vão sendo obtidos ao longo do jogo, não deixa de ser algo frustrante. É também importante notar que apesar da série Kirby nunca ter sido conhecida pela dificuldade elevada dos seus jogos (não sendo este excepção), este título é bastante desafiante devido aos percursos longos que se tem de fazer para chegar ao local pretendido, o que ainda levará a alguns Game Overs - pelo menos na primeira vez que se percorrer o jogo.Finalmente, é importante falar do aspecto que este port do jogo original para o Game Boy Advance apresenta, já que muitos jogadores apresentaram preocupações sobre a transplantação deste jogo para um ecrã de televisão. Há que dizer que os motivos dessas preocupações não se concretizaram, já que com um grafismo em 2D muito colorido e relativamente simples, este ainda consegue ser apelativo num televisor de grandes dimensões. Para além disso, tal como os restantes jogos de Game Boy Advance da Consola Virtual da Wii U, este apresenta a opção de suavizar os gráficos o que permite eliminar alguma pixelização excessiva. Neste jogo isso funciona bem e permite adaptar a resolução do jogo. Claro que jogando no GamePad, o aspecto do jogo sai beneficiado, devido à reduzida dimensão do ecrã. De resto, tal como a maioria dos jogos da série Kirby, este é extremamente colorido, cheio de personalidade e animações vivazes, o que contribui para o ambiente sempre-feliz pelo qual a série é conhecida.
Conclusão
Esta é mais uma entrada sólida numa série cheia de jogos de qualidade e que irá agradar aos respecivos fãs. Apesar de ter uma estrutura bastante diferente do habitual, rapidamente qualquer jogador se sentirá em casa e irá agradecer a lufada de ar fresco que este jogo trouxe. No entanto, esta versão tem a grande desvantagem relativamente ao original de não aproveitar as capacidades multijogador e que eram a sua grande mais-valia, algo que sem dúvida irá dissuadir algumas compras e que o impede de se destacar entre as ofertas da Consola Virtual.
O melhor
- Estrutura diferente do habitual da série
- Jogabilidade sempre divertida e alegre
- Aspecto pouco afectado pela conversão
O pior
- Ausência do modo multijogador
- Frustração na progressão em alguns momentos