
CRÓNICA
NFC, o futuro dos conteúdos adicionais?
Uma próxima aposta da Nintendo.
Por António Branquinho a
NFC! Ora aqui está uma sigla com a qual os jogadores têm vindo a ser bombardeados nos últimos tempos. No entanto, apesar de esta apenas recentemente ter passado a fazer parte do léxico dos videojogos, especialmente devido à série Skylanders, a sigla NFC (Near Field Communication) existe há cerca de dez anos, em vários aparelhos que até são uso comum, mas em que grande parte dos utilizadores nem sequer se apercebe que está a usar esta tecnologia. O reconhecimento por Bluetooth de um telemóvel, ou a configuração rápida de um aparelho wireless à rede Wi-Fi, premindo apenas o botão do router são exemplos de NFC fora do mundo dos jogos.
Durante algum tempo, pensou-se que a tecnologia NFC aplicada aos videojogos seria somente mais uma moda passageira, que renderia, inicialmente, algum dinheiro, mas que não teria pernas para andar. A maior prova disso é o facto de a Activision ter proposto fazer o jogo Skylanders original em parceria com a Nintendo e esta ter recusado. Mas, após o sucesso estrondoso da franquia, completamente desconhecida até então, outras companhias tentaram seguir o seu exemplo e capitalizar na utilização de bonecos NFC que pudessem adicionar algo aos seus jogos. Umas atingiram esse objectivo, como a Disney e o seu Disney Infinity, enquanto outras desistiram da tecnologia a meio da produção, como a Ubisoft que chegou a mostrar trailers para Rayman Legends onde demonstrava a utilização de bonecos NFC.
E, finalmente, chegamos à parte que realmente interessa… já que agora é a vez da Nintendo tentar correr atrás do lucro e produzir os seus próprios bonecos NFC, não só para a Wii U, que já tem um receptor NFC integrado no GamePad, mas também para a 3DS através de um acessório especialmente criado para o efeito. Ora, se formos analisar este modelo numa perspectiva de negócio, inicialmente não há como falhar, já que a Nintendo possui algumas das personagens mais reconhecidas mundialmente e mesmo as que apenas os fãs de uma dada série reconhecem são carismáticas o suficiente para venderem milhões, nem que seja com o objectivo de coleccionismo. E isto tudo sem entrar sequer nas centenas, ou quase milhares de Pokémon já existentes e prontos a serem explorados.
A grande questão que realmente se coloca é de que forma a Nintendo irá abordar esta tecnologia nos seus jogos, já que até agora têm sido muito vagos. Sabe-se que irá existir tecnologia NFC, mas ninguém sabe exactamente que propósito específico terá. Serão personagens desbloqueáveis apenas para quem comprar a figura em separado, tornando-se assim o NFC numa espécie de DLC físico? Ou somente uma roupagem alternativa exclusiva para quem possuir o boneco? Estas são questões que se levantam e que necessitam de respostas. A minha posição acerca de DLC é indubitavelmente conhecida por quem comigo dialoga no FNintendo, sendo a favor de DLC que contenha conteúdo, como os que normalmente ocorrem nos jogos da série Grand Theft Auto e que, nos anos 90, seria lançado em formato físico sob o nome de expansão. Sou, no entanto, completamente contra DLC em que se vende uma roupa nova, uma arma nova, ou um personagem novo, já que sinto sempre que me estão a vender aquilo que, na época dourada dos videojogos, ganharia gratuitamente se me dedicasse ao jogo e os conseguisse desbloquear. No entanto, os bonecos NFC vêm colocar outra questão, sendo que, desta vez, quando dermos dinheiro por eles, estamos a comprar um boneco, que, tal como já foi dito, muitos comprarão mesmo sem terem o jogo, apenas por coleccionismo, e as roupagens/personagens serão uma espécie de bónus para quem comprar o boneco. Não deixa de ser, de qualquer modo, um DLC, que até já pode, ou não, vir no disco, mas tem uma roupagem completamente distinta que o consumidor já visualiza no objecto físico que compra. Este tipo de DLC deixa de ser um “cancro” para a indústria? Obviamente que não, mas sem dúvida torna-o bem mais apetecível! Eu consigo pensar em muita gente que nunca pensou comprar um DLC vir a comprar estes bonecos porque são da sua série favorita. Se, um dia, colocarem figuras NFC da série Fire Emblem, eu não hesito em ir comprar os meus favoritos, independentemente de para quê irão servir! E, no entanto, não passam de DLC envolto em açúcar de forma a agarrar os reticentes, e, por isso mesmo, cada vez mais será possível vender jogos a prestações.
Resta ainda dizer que, pelos rumores que se ouvem, ao menos a Nintendo está a fazer algo bem, já que se diz que os bonecos NFC da Nintendo não servirão somente para um jogo. Suponhamos que eu compro o Ike para usar em Super Smash Bros. Ora, se posteriormente sair um jogo da série Fire Emblem que seja compatível com DLC, o Ike que eu já possuo deverá também ser compatível com esse jogo. Claro está que isto só é possível visto a Nintendo, tal como previamente afirmei, ter milhares de personagens carismáticas prontas a usar. Mas mesmo assim, quem me garante que passado uns tempos não lançam outro boneco do Ike, numa posição diferente e que desbloqueia coisas diferentes no jogo? Assim o meu boneco apenas desbloquearia metade das coisas daquele personagem e, se eu quisesse o restante, teria que comprar mais um. Eu mencionei um personagem que até não tem muitas variantes, mas imaginem um Mario e as suas transformações… quanto boneco haveria ao todo? Exacto, é esse o meu medo, já que, por mais que eu adore a indústria dos videojogos, não há ninguém como eles para pegarem numa ideia que tem tudo para ser boa para eles e para o consumidor e para a espremerem até ao tutano, ficando a parte saborosa somente para a indústria e sobrando a parte pútrida para o consumidor final.
Enfim, resta-nos apenas aguardar pela E3 para tentar descortinar qual será a estratégia que o senhor Iwata delineou para a Nintendo. Façam figas!