
ANÁLISE
Baten Kaitos: Eternal Wings and The Lost Ocean
Um título que quebrou com as convenções do género RPG.
GC
Por Pedro Meleiro a

O enredo de Eternal Wings and the Lost Ocean gira em torno de um mundo composto por cinco ilhas flutuantes e que, de acordo com a lenda, assim ficou devido à acção de um demónio chamado Malpercio, que sugou todo o oceano, extinguindo-se nas suas vastas águas. Posteriormente, fora selado por cinco heróis espirituais nas denominadas End Magnus.
O jogo tem início numa pacata aldeia situada em Sadal Suud, uma das referidas ilhas flutuantes, onde nos é dado a conhecer Kalas, jovem antipático e egoísta, encontrado em criança inconsciente numa floresta das proximidades. Do pouco que se lembra, diz recordar um triste passado em que vê a sua família ser assassinada por um membro do Império que governa o mundo, Giacomo, razão pela qual sente revolta e procura vingança. Na outra face da moeda temos Xelha que, ao contrário de Kalas, procura tornar o mundo um lugar mais justo e livre. Não satisfeita com a posição ditatorial tomada pelo Império, percorre o mundo numa tentativa de descobrir a verdade acerca da existência das End Magnus que, desconfia, o Império cobiça para libertar Malpercio e obter poder supremo.

No início do combate são retiradas aleatoriamente várias cartas do baralho de cada personagem que seleccionamos conforme estejamos no modo ofensivo ou defensivo; estas devem ser usadas sequencialmente num número limitado de vezes em cada turno, limite esse que aumenta com a evolução da aventura. Mas não basta simplesmente optar por cartas poderosas para sermos bem sucedidos. Há uma forte componente estratégica importante para que um turno possa ser complementado com danos extra. Por um lado, temos a considerar a criação de combinações sequenciais ou repetidas de números presentes em cada carta. Cada carta pode ter vários números, mas apenas escolhemos um, direccionando o C-stick analógico. Por outro lado, podemos recorrer às fraquezas elementares de um inimigo – "luz" contra "trevas", "vento" contra "tempo", "água" contra "fogo".

Os turnos defensivos processam-se de forma muito semelhante, mas as cartas são geralmente representativas de formas de defesa, como escudos ou armaduras. O princípio relativo à sequência dos números e elementos aplica-se da mesma forma, sendo agora do nosso interesse optar por cartas com um elemento contrário ao do ataque inimigo. Existem ainda cartas de recuperação de energia e antídotos, entre outras que poderão vir a ser bastante úteis para a elaboração de um baralho equilibrado. A combinação de determinadas cartas para levar a outras ainda mais poderosas é decisiva para o nosso sucesso em combates mais exigentes. De notar também que há cartas que mudam de efeito conforme o tempo, um pormenor invulgar mas que se revela bastante surpreendente quando nos deparamos com ele.

Visualmente, apresenta uma mistura de cenários dinâmicos e pré-renderizados desenhados à mão, sobre os quais são sobrepostos os modelos 3D das personagens. Embora seja uma técnica recorrente na anterior geração de consolas, por norma devido a limitações do sistema, esta cada vez mais invulgar conjugação de estilos acaba por ter um resultado exemplar em Baten Kaitos, principalmente por realçar a beleza dos cenários. Até o típico menu em que personalizamos os baralhos ou consultamos informações sobre as cartas Magnus e personagens está estruturado num esquema incomum de abas sobre a vertical, bastante intuitivo e de rápido acesso.
Por outro lado, certas opções como a utilização de caixas de diálogo com o rosto da personagem para as sequências cinemáticas não é de todo a decisão que melhor se encaixa num jogo com grande foco na história e relações entre personagens. Em certos momentos é evidente que a meia-dúzia de expressões faciais que acompanham um diálogo não são suficientes para que a mensagem seja transmitida com clareza. Neste campo, fica um pouco aquém de títulos contemporâneos, como Final Fantasy X, seja pela qualidade dos diálogos ou pela falta de ênfase nas expressões corporais. A inexistência de vídeos CG que complementem a acção do jogo é também visível, principalmente depois da empolgante introdução que nos leva ao início do jogo, mas é compreensível que restrições orçamentais possam ter limitado o projecto ao nível da apresentação.

Onde vários RPG japoneses acabam por fraquejar é na introdução de elementos que mantenham o interesse do jogador ao longo das dezenas de horas. Contudo, aspectos como o sistema de combate inovador, as batalhas desafiantes contra "bosses", as cartas Magnus e constelações coleccionáveis, o sistema de captação de fotografias e a panóplia de reviravoltas que dão forma ao enredo encarregam-se de proporcionar a Baten Kaitos uma das mais prolongadas e empolgantes experiências que a vossa consola pode viver.
Conclusão
A conquista por um lugar de destaque na indústria dos videojogos está longe de ser tarefa fácil mas, mais do que o reconhecimento generalizado do público de que Baten Kaitos não goza, reside ainda a esperança de que as várias ideias deixadas por ele sejam vistas por outros produtores como uma oportunidade para redefinir um género que já viveu melhores dias. Este é o tipo de reconhecimento capaz de imortalizar uma obra que acabou por ser alvo das suas próprias virtudes e intenções.
O melhor
- Várias missões e coleccionáveis para completar
- Sistema de combate complexo e inovador
- Interface intuitiva e de fácil navegação
O pior
- Diálogos e trabalho vocal aquém do esperado
3 de Dezembro, 2012, 14:26