
ANÁLISE
Gravity Badgers
Texugos no espaço.
Por Pedro Meleiro a
De um pequeno estúdio britânico, surge uma aventura num espaço repleto de campos gravitacionais desalinhados, meteoritos e seres de aparência extraterrestre em órbitas questionáveis, blocos de gelo em rotação constante sobre si próprios ou ainda portais de teletransporte. É deste pano de fundo que a Wales Interactive faz uso para propor um título que é, em poucas palavras, um quebra-cabeças com física à mistura e protagonizado por... texugos. Sim texugos, os mamíferos, aqui representados com uma indumentária de astronauta.
Em Gravity Badgers, o jogador segue uma equipa de texugos espaciais que se encontra em guerra com uma facção inimiga e que percorrem uma série de níveis com lugar no espaço, para chegar a um boss pouco amigável no final de cada episódio. A narrativa apresenta-se, portanto, de forma bastante simplista e sem grande relevância para o decorrer da acção, servindo para pouco mais do que o propósito de justificar a estrutura do jogo. O jogador tem de fazer chegar o texugo de um ponto de partida até um portal de saída, podendo ajustar a direcção e aceleração aplicadas ao movimento da personagem, tal como acontece num Angry Birds. Pelo caminho, existem três objectos que podem ser apanhados opcionalmente para uma melhor classificação, num total de três tentativas.
Os níveis incluem uma série de obstáculos pelo caminho que evitam que o percurso seja linear de A até B. Os obstáculos mais significativos são os astros com campo gravitacional atractivo ou repulsivo que, como seria de esperar, atraem ou repelem a personagem, influenciando o movimento que lhe é inicialmente aplicado. Outros elementos são desde logo introduzidos, como os blocos de gelo, que prendem o texugo, podendo o jogador definir uma nova direcção a partir desse ponto; os portais de teletransporte que levam a personagem para um outro ponto do cenário, retomando a direcção; e há ainda alguns obstáculos estáticos ou em movimento, caracterizados por seres estranhos e pequenos meteoritos, pelo que será ideal evitar colidir com estes.Cada um dos cinco episódios principais conta com um total de vinte e cinco níveis, podendo o jogador ficar retido tanto por uns meros dez segundos como perder dez minutos a concluir cada um. Esta discrepância de tempos acontece essencialmente porque uma boa dose dos níveis depende em maior escala do factor sorte do que da habilidade do jogador em interpretar os elementos no cenário. Isto verifica-se porque, não raras vezes, existem tantos campos gravitacionais em jogo passíveis de influenciar o movimento que se torna mais num exercício de tentativa e erro até acertar com a rota para a saída, do que propriamente por consequência de qualquer coisa que esteja próxima de pensamento lógico.
Isto para reforçar que, embora reunindo mecânicas de física interessantes - não obstante a distância que as separa do pináculo da originalidade - e exemplarmente aplicado em certos níveis, a verdade é que Gravity Badgers não poucas vezes faz um uso de tal forma exagerado desses elementos que acaba por se esquecer que o factor diversão deveria ser consequência de um desafio racional, e que não se fará sentir na aleatoriedade com que certas vezes requer que o jogador proceda. Também não são favoráveis à experiência as frequentes oscilações do grau de dificuldade pressentido com o passar dos níveis: ora se puxa os cabelos num nível, ora se fica desconfiado por o seguinte ter uma resolução tão linear.No campo visual, dir-se-ia pelas imagens estáticas que Gravity Badgers apresenta um certo brilho no uso da cor, mas só experimentando o jogo se tem uma ideia mais adequada das animações insípidas e um tanto limitadas, para além da exaustiva repetição dos mesmos elementos visuais nas várias dezenas de níveis. Aliás, toda a estética do jogo parece um pouco descuidada e os ocasionais erros gráficos e sonoros não ajudam a inverter esta impressão. Alguma arte conceptual pode ser vista no início de cada episódio, procurando levantar um pouco o véu sobre a narrativa. Ainda que não sejam muito eficazes no cumprimento da sua função, estas ilustrações acabam por revelar-se mais interessantes que a arte do próprio jogo.
Conteúdo não falta a este título que envereda por uma estrutura mais comummente usada em jogos orientados para dispositivos móveis, com as três estrelinhas também presentes para dar um parecer sobre a performance do jogador. Mas a criação de tantos níveis terá eventualmente desvirtuado a equipa de desenvolvimento de se focar numa sequencição de níveis mais adequada e introdução contínua de novos elementos para revitalizar o interesse na experiência.
Conclusão
Gravity Badgers revela-se um título de altos e baixos. Se por um lado as suas mecânicas simples e funcionais dão espaço a alguns momentos agradáveis, o seu uso excessivo noutras ocasiões provoca algumas ondas de tédio e frustração evitáveis com um maior foco na qualidade do que na quantidade de conteúdo. É quase como se não tivesse passado por uma fase de supervisão do ponto em que um nível deixa de ser divertido para se tornar num festim de tentativa e erro, agravado pelas oscilações frequentes do grau de dificuldade face ao progresso.
O melhor
- Conteúdo em abundância
O pior
- Repetitivo, frustrante e aborrecido a médio prazo
- Falta de novidades ao longo da experiência
- Estética do jogo deixa muito a desejar