
ARTIGO
Wii U celebra o segundo aniversário em Portugal
Altos e baixos da consola da Nintendo.
Por Francisco Ramalheira a
Faz agora dois anos que a Wii U foi lançada em solo europeu, sendo esta uma excelente oportunidade não só para felicitar a Nintendo, mas também para analisar a prestação da mais recente consola doméstica da gigante nipónica.
Voltando um pouco atrás no tempo, a Wii U foi alvo de expectativa e hype tremendos, ou não fosse “apenas” a sucessora da consola doméstica de maior sucesso comercial da Nintendo, a Wii. O sucesso da Wii é um verdadeiro estudo de caso: a consola rapidamente ultrapassou o cepticismo inicial e tornou-se um fenómeno mundial com dezenas de milhões de unidades vendidas.
Wii U: um raio não cai duas vezes no mesmo sítio
Com a Wii, a Nintendo arriscou bastante ao trocar tecnologia de ponta por ideias e conceitos originais. Um risco necessário, porque o lançamento de uma consola com as mesmas características da XBox 360 e da PlayStation 3 teria sido destrutivo. A Nintendo tentou repetir a estratégia com a Wii U: um hardware ligeiramente superior ao da geração anterior, baseado numa ideia inovadora, desta vez sob a forma de um comando munido de um ecrã táctil e a manutenção da aposta no WiiMote, prometendo ao mesmo tempo trazer de volta os jogadores ditos "hardcore", que a própria Nintendo assumiu ter desfavorecido em prol dos ditos "casuais" na geração da Wii.
No entanto, a estratégia não está a funcionar como antes e a Nintendo tem, naturalmente, culpas no cartório. Em primeiro lugar, o nome da consola foi um erro, sendo mal anunciado, com muita gente a confundir a nova consola com um acessório em forma de tablet para a Wii e repetindo o erro que já se tinha verificado com a Nintendo 3DS.
O segundo erro foi o falhanço na tentativa de repetir o sucesso estrondoso de Wii Sports (que é apenas o jogo mais vendido de sempre) e oferecer um título para o segmento conhecido como "casual" juntamente com a consola: Nintendo Land. O jogo é bom e divertido, mas não convenceu ninguém a comprar a Wii U. É verdade que o jogo da Wii tinha por trás a tecnologia de movimentos que era uma novidade na altura, enquanto que o ecrã táctil já perdeu esse efeito novidade há muito, mas a verdade é que a Nintendo queria fazer de Nintendo Land uma "killer app" e falhou redondamente. Em 2006, Wii Sports por si só vendeu milhões de Wiis. Nintendo Land ficou a anos-luz deste objectivo.Quanto à promessa de um maior apoio ao mercado dito "hardcore", as coisas até começaram muito bem, com a Nintendo a anunciar parcerias com as principais gigantes do mercado. Aliás, basta olhar para o lançamento da consola em que tivemos Mass Effect, Batman, DarkSiders, Tekken, Call of Duty, Ninja Gaiden ou Assassin’s Creed para que os jogadores pudessem estar esperançados em ter uma plataforma com uma biblioteca variada e que não contasse apenas com os excelentes títulos Nintendo.
Porém, o efeito bola de neve das fracas vendas iniciais da consola rapidamente se fez sentir, o que aliado aos já tradicionais baixos números de vendas do software "third party" nas consolas Nintendo, fez com que nestes dois anos já quase todas as empresas tenham abandonado o barco, estando a Wii U a ser apoiada apenas pela própria Nintendo, contando depois com um ou outro projeto pontual. Para quem é fã da Nintendo, isto não é impeditivo de comprar a consola, mas é suficiente para todos os outros nem sequer considerarem a sua aquisição.
E agora, Nintendo?
Lançada com um ano de vantagem em relação aos concorrentes, a Wii U não conseguiu atingir metade da meta prevista, o que assustou os investidores e fez as acções da Nintendo cair consideravelmente. Ao mesmo tempo, as "third parties" abandonaram o barco em catadupa, pois o software não-Nintendo não atingia os números de vendas mínimos exigíveis. No entanto, a Big N tem um histórico de conseguir manter as suas consolas no mercado com relativa estabilidade, recorrendo quase unicamente aos seus exclusivos, trazendo e reinventando as suas mascotes de sucesso desde os seus primórdios. Podemos, por isso, concluir que o futuro da consola enquanto plataforma sustentável não está ameaçado, pelo que a sua compra é um investimento seguro, dificilmente não veremos a Nintendo a apoiar a sua consola nos próximos anos. Basta ver os exemplos da Nintendo 64 e da GameCube.
Embora as vendas da consola não sejam famosas e a Nintendo tenha desperdiçado o ano em que não teve concorrência desta geração no mercado, a verdade é que ainda há muito tempo para inverter a tendência e há margem de manobra para a consola conseguir vender bem. Quanto a conseguir o sucesso da Wii e ser a consola mais vendida desta geração, esta é uma tarefa que a cada mês que passa parece mais complicada. Ao que tudo indica, nesta geração a Nintendo vai mesmo ceder o ceptro à Sony. Mas para conseguir aumentar o volume de vendas a Nintendo tem de apelar às massas. E isso é impossível sem um FIFA, um Call of Duty ou um Minecraft. A grande maioria dos leitores do FNintendo preferem mil vezes um Bayonetta 2, um Xenoblade X ou um novo Star Fox, mas a verdade é que, infelizmente, não são estes títulos que fazem as consolas voar das prateleiras.
Quem já acompanha o mundo dos jogos há algum tempo já aprendeu que não se pode, jamais, subestimar o mercado, com a liderança a mudar de dono frequentemente. Logo, nada está garantido. A Nintendo tem de assumir uma postura mais agressiva, apresentar mais jogos, baixar preços e apresentar serviços online mais apelativos e bem estruturados. Todas estas teorias sobre vendas e erros de marketing são muito interessantes, mas para os jogadores o que verdadeiramente interessa são os jogos. E aí a Wii U tem dado cartas, apresentando uma biblioteca de jogos bastante respeitável e com alguns clássicos obrigatórios. Para quem gosta dos jogos Nintendo, uma consola da casa dificilmente desilude, porque sabemos que podemos contar com os títulos "first party" de reconhecida qualidade da Big N. Mas é sempre pena quando vemos um produto com potencial não ser melhor aproveitado. Esperemos que nos próximos tempos a situação melhore para os lados da Wii U e que vejamos a Nintendo a combater a aparente apatia com que está a encarar esta geração mas, mais importante que isso, que a consola receba cada vez mais jogos de qualidade.
Da minha parte, a consola tem correspondido às expectativas e tenho tido a oportunidade de jogar alguns títulos excelentes como Bayonetta 2, Pikmin 3, Super Mario 3D World, Donkey Kong Country Tropical Freeze ou Rayman Legends, pelo que espero que quando daqui a uns quatro anos se escrever um artigo deste género a avaliar a prestação da Wii U se possam acrescentar mais uns quantos clássicos a esta lista.
Parabéns Wii U! E que venham mais!