
ANÁLISE
de Blob
Por João Tavares a
O grande trunfo de Blob é a sua capacidade de absorver qualquer tipo de tinta, e é à volta desse conceito que os dez níveis do jogo estão delineados. Em cada um deles devemos colorir todas as construções a branco que virmos, o que engloba prédios, muros ou uma simples vedação. Para esse efeito estão espalhados pela cidade diversos bidões de cor com tinta necessária para o nosso propósito, bastando depois encostar Blob a um objecto para o colorir na totalidade. No modo história o jogo não segue um rumo tão simplista ao ponto de apenas nos pedir para colorir a cidade (apesar de existir o modo Free Paint para esse efeito), existindo diversas missões que nos são dadas por companheiros da organização rebelde. Estas missões obrigam-nos a percorrer certos trajectos num limite de tempo, pintar construções com uma cor específica, libertar cidadãos ou eliminar adversários, atribuindo no final pontos necessários para abrirmos os portões que limitam as outras áreas do nível e que atrasam a nossa progressão até à meta final. A importância das missões reside também no tempo extra que nos dão para despendermos no nível. Aqueles que não gostam de se sentirem pressionados por um cronómetro podem ficar tranquilos, uma vez que é raro o tempo esgotar antes de concluírem o vosso dever, o que também levanta a questão: porque é que existe tempo nos níveis?

A tarefa de colorir parece fácil, mas a corporação INKT está longe de nos deixar atingir os objectivos de forma ligeira. Espalhados pelos níveis surgem diversos tipos de inimigos, alguns mais duros do que outros e com diferente arsenal. A principal forma de Blob morrer é tocando em tinta preta, que pode estar em alguns locais dos níveis ou ser disparada pelas tropas da INKT. Nesta eventualidade fatal teremos de monitorizar a nossa quantidade de tinta, que entra em contagem decrescente até se esgotar. Há duas maneiras de o fazer: ou abrimos mais contentores de tinta para nos aguentarmos um pouco mais, ou procuramos a fonte mais próxima para nos limparmos. O jogo de tintas é o elemento chave em de Blob, e por vezes somos obrigados a misturar duas cores para obter uma diferente, como é o caso do azul e do amarelo que nos dá a cor verde, por isso toca a rever esses apontamentos perdidos de Educação Visual.
Este uso abusivo de cores acaba por originar um dos maiores espectáculos visuais que poderão encontrar na Wii, tudo graças a uma direcção de arte bem projectada e de uma componente sonora exímia. É um luxo para os nossos olhos vermos Chroma City recuperar aos poucos a sua cor com o nosso esforço. Apesar das texturas não serem muito detalhadas, a dinâmica de cores é tão grande que tal pormenor facilmente passa despercebido. O próprio movimento de Blob deixa um rasto de cor pelo passadiço, e já perto do final do nível vão denotar imensas linhas de cor por tudo o que é local, apreciando, com orgulho, a bela borrada que fizeram pela grande tela que foi a cidade.
Mas a dinâmica não se restringe ao grafismo, com a componente sonora a ter igualmente algo a dizer nesse aspecto. Não estamos a exagerar quando dizemos que de Blob é um dos títulos com melhor performance musical que alguma vez tivemos oportunidade de testar. Com uma faixa de jazz a tocar no fundo, sempre que colorimos algo é adicionada uma nova nota a essa base enriquecendo o seu todo. Essas novas notas vão ainda depender da cor que estamos a usar, com o azul a trazer uma harmonia mais rica e alegre, enquanto o vermelho traz os seus tons mais calorosos, só para descrever dois exemplos. É fenomenal!

As missões dão propósito à nossa veia artística.
Quando terminadas as fases principais dos níveis, são desbloqueados dois desafios extra para cada um deles que testam as nossas habilidades. É nestas fases mais exigentes que de Blob acaba também por demonstrar algumas das suas debilidades. No geral os controlos são bastante competentes, mas onde o panorama começa a falhar é nos saltos. Tratando-se de um jogo de plataformas, a falta de precisão nos saltos é bastante grave e dá origem a muitas situações frustrantes. Tudo teria sido mais simples se este movimento estivesse associado a um botão, porém o jogador é obrigado a abanar o Wii Remote sempre que pretende elevar a personagem. Muito pouco intuitivo.
A câmara também tem algumas falhas, o que já vem sendo apanágio dentro de jogos de plataformas. Durante a maior parte do tempo ela acompanha Blob de forma competente, mas quando nos encostamos a esquinas, ou a paredes para ganharmos balanço de salto, a câmara tem tendência a aproximar-se demasiado da personagem, obrigando-nos a um pequeno ajuste. Não é perfeita, mas já vimos pior.
Em termos de longevidade podem esperar um título bastante longo, desde que estejam dispostos a espremer todo o sumo. Os níveis de de Blob tanto podem demorar 15 minutos, como perto de 60, caso pretendam colorir toda a cidade. Parte da magia do jogo está aí mesmo, na exploração máxima dos cenários. No entanto, apesar dessa sua vertente, de Blob não disponibiliza checkpoints a meio dos níveis que permitam fazer um intervalo, o que pode tornar uma sessão completa de pintura cansativa e repetitiva. A possibilidade de pararmos a meio para mais tarde completar a "tela" teria sido uma mais-valia para a jogabilidade deste título da THQ.
Temos ainda imensa tralha para desbloquear, como as cutscenes que normalmente aparecem entre níveis e que são muito cómicas. Existem ainda vários trailers, imagens na galeria e prémios pelo nosso comportamento no campo de batalha.

Os que tiverem amigos com quem jogar têm também três modos diferentes que vão certamente resultar em alguns serões agradáveis. Podem-se juntar até quatro jogadores num dos três modos disponíveis. Em Paint Match ganha aquele que obtiver maior pontuação de pintura na mesma cidade, podendo roubar edifícios aos adversários. Blob on the Run é o jogo do apanha, com um dos Blobs a ter de perseguir os demais até apanhar um deles. Os que estão livres dessa maldição, têm de aproveitar o tempo para pintar. Blob Race foca-se mais na corrida à pintura. Neste último modo apenas certas construções estarão desbloqueadas e prontas a serem pintadas, pelos que os jogadores terão de se apressar à localização e dar uso à sua cor, uma vez que depois de pintado um prédio, este não pode ser repintado. Seguidamente desbloqueiam-se outros.
Mesmo numa consola como a Wii, em que os jogos de plataformas são o prato forte, de Blob consegue ter o seu destaque e em alguns aspectos superar a concorrência. Todo o ambiente de cor irá dar-vos aquele sorriso que procuram nos dias frios e chuvosos do ano, apresentado por um grafismo a condizer e um lado sonoro ímpar. As falhas de de Blob impedem-no de atingir outros patamares de excelência, infelizmente, mas continua a ser recomendado a todos os que procuram algo original e divertido para a sua consola caseira.
O melhor
- Bons modos multijogador
- Conceito divertido e relaxante
- Muitos níveis, desafios e extras para desbloquear
- Dinamismo sonoro/gráfico de grande qualidade
O pior
- Saltos pouco precisos
- Ausência de checkpoints ao longo dos níveis