
ANÁLISE
Monster Hunter 3 Tri
Por Fábio Pereira a
Vistam as armaduras, agarrem nas espadas, reúnam o vosso esquadrão e comecem a caçada. Quer seja por dinossauros marítimos ou cogumelos azuis. Monster Hunter 3 é a estreia da série na Wii e apresenta um mundo onde os caçadores são a classe mais respeitada. Talvez pelo facto de as vilas e cidades estarem em constante ameaça por predadores jurássicos que provocam terramotos e bloqueiam o acesso a recursos vitais para a sobrevivência da população. Este pequeno cabeçalho é a base de história onde se podem segurar para que as quests em que se empenharem façam algum sentido. Monster Hunter 3 não é um MMORPG, mas não lhe faltam características que se assemelhem a esses que tantas vezes são apelidados de “sugadores de vida social”. E acreditem, Monter Hunter 3 vai vos arrastar até ao fundo do poço.

Ó liberdade, os teus dias estão contados.
Ao abrir com um vídeo de introdução simplesmente majestoso, o jogo faz questão de dar um tom épico à aventura, inclusive a nível sonoro. E falando do aspecto gráfico em geral pode-se dizer que é dos jogos mais bem trabalhados para a Wii, quer nos já referidos ambientes, quer nos modelos das personagens, armas, fauna ou flora. Fora da cidade e desde as areias do deserto às planícies brancas dos ambientes gélidos, os cenários são amplos, mas não delicadamente pormenorizados e nem sempre conseguem disfarçar algumas texturas mais fracas. São também engraçados os desenhos ao estilo tribal que aparecem em alguns menus e as imagens dos monstros que registamos no Hunter`s Book. Este livro dos caçadores é um extra interessante e mais útil do que possa parecer à partida. Para guardarem informações dos monstros têm de usar o Wii Remote para o seleccionar com a mira e depois arrastar para o livro, independentemente do tipo de controlo que escolheram. Por vezes não é muito prático, já que quando o estamos a fazer os inimigos podem ter vontade de nos morder a cara. Serve também para guardar receitas de items que tenham combinado, dando um livro de receitas jeitoso.
Assim já deu para perceber que o mundo do jogo é bastante imersivo, por vezes demasiado. De início vão sentir-se perdidos, com imensas personagens com quem falar e com todas elas a darem a sensação de terem um papel fulcral para avançarmos no jogo. Vai levar algum tempo até começarem a separar a “palha” da informação realmente importante. E a forma de aceder aos vários menus é tudo menos intuitiva de navegar. Monster Hunter 3 é um jogo que se aprende aos poucos, que exige dedicação e que vai absorver grande parte do vosso tempo se quiserem realmente fazer progressos.

Mexe? Mata!
As personagens não melhoram os seus atributos através de níveis ou experiência, em vez disso o jogo baseia o seu esquema de evolução no tipo de equipamento que envergamos. Existem sete classes de armamento disponível, cada um com o seu estilo de combate. Espada e escudo, espada grande, martelo, lança, espada longa, machado e espingarda, sendo que as principais diferenças residem na força, velocidade e alcance de cada uma. Felizmente, podem usar qualquer arma quando quiserem e o jogo não vos vincula a apenas uma classe. As missões que forem aceitando vão permitir que recolham materiais para criar novas armas, armaduras ou melhorar os seus atributos. A fusão de materiais estende-se também à criação de items. As armas têm de ser forjadas pelos ferreiros e, para além dos materiais, exigem também uma maquia em dinheiro. Já os items podem combinar vocês mesmo e a qualquer momento, desde que tenham os items com vocês, ou, se preferirem, podem também combiná-los directamente no baú de items. A princípio pode nem parecer muito importante, mas quando derem pelo vosso baú repleto de items vão ficar viciados em todas estas misturas, descobrindo melhores items e recolhendo outros para fazer mais ainda. Todas as descobertas ficam registadas no Hunter`s Book e assim podem consultar sempre que necessário.
As famosas quests ou missões vão variar muito conforme a dificuldade e objectivo. Existem umas quantas exclusivas ao modo online, mas grande parte delas repetem-se do modo offline para o online. Com a diferença de serem mais difíceis ou longas, pois estão orientadas para ser completadas em conjunto e não a solo. Muitas delas não nos dão uma ideia clara do que temos mesmo de fazer, apenas uma pista do que temos de encontrar. O jogo não oferece grande variedade de objectivos. Matar uns quantos monstros aqui, fazer a mesma coisa ali, fazer a mesma coisa a um tipo diferente de monstros. Algumas das missões são difíceis e um grande desafio para completar sozinho ou acompanhado, outras são aborrecidas e vão meter-vos a correr de um lado para o outro à procura dos items necessários. O que vai permitir alguma variedade nas quests é a forma como vocês jogadores a encararem, quer seja aplicando novas tácticas, levar um equipamento alternativo ou testar alguns items criados recentemente. Se forem objectivos e seguirem o caminho mais rápido vão ter a ligeira sensação de se estarem a repetir.

Online não vai faltar com quem jogar.
Para todas estas combinações vão ter de recolher materiais. Vão ter que matar os mesmos monstros vezes e vezes sem conta. Os bosses, que até oferecem um bom desafio, passam a mais do mesmo quando tiverem de os caçar várias vezes até ter a quantidade necessária de items. Alguns materiais são tão raros de obter que vão passar horas a tentar recolher o máximo que conseguirem. Com tantas armas e armaduras de estilos variados, é impossível não querer voltar para conseguir mais e mais. Uma espiral de coleccionismo extremamente viciante que de início vos deixa cheirar o aroma de uma nova peça de armadura e no fim já não podem passar sem recolher qualquer coisa que sirva para encher ainda mais o vosso armário. Podem inclusive guardar conjuntos de equipamentos completos evitando ter de estar a equipar as peças uma a uma sempre que quiserem alternar.
A maioria dessas missões vai obviamente exigir que lutem contra os monstros que habitam os diferentes locais. Estes vão desde carnívoros, herbívoros, adultos, crias, terrestres, marítimos, voadores, gigantes, pequenos, enfim uma imensa diversidade de estruturas, hábitos e maneiras de reagir que vamos percebendo ao longo do tempo. A quantidade não é muito grande, com os mesmos monstros a aparecerem em diferentes cenários, mas a diversidade está presente. É interessante ver que um dos primeiros objectivos que recebemos é caçar e levar um pedaço de carne ao filho do chefe da aldeia. Para isso temos de matar um dos primeiros animais que vemos, um herbívoro, que não nos faz mal nenhum e que apenas está ali a pastar. Isto deve ser a maneira que a Capcom encontrou para mostrar que os caçadores não têm pena de animais indefesos pois os fins justificam sempre os meios.

A vossa nova casa. Habituem-se porque não vão sair dela tão cedo.
As quests estão divididas em níveis e a campanha offline não é muito longa, mas vão querer repetir algumas para recolher mais materiais. Senão quiserem ficar cingidos ao tempo das quests, podem também explorar livremente as planícies. Infelizmente apenas o cenário principal é passível de ser explorado livremente, sem ter que entrar numa quest, e ficam impossibilitados de explorar os outros livremente. Assim podem recolher materiais sem pressa e ao mesmo tempo obter pontos de recurso que podem depois ser gastos em melhoramentos para a aldeia e os seus serviços. Esta á a forma directa de recolher pontos de recurso e alguns items podem também ser trocados por pontos quando falarem com o filho do chefe da aldeia, que vos avisa dos pedidos do povo e de quantos pontos precisam para os satisfazer, assim como do estado meteorológico das planícies nos próximo dias. Eventualmente ganham acesso a enviar barcos à pesca de items e colocar os gatos a trabalhar na horta. Uma ajuda à recolha e manutenção de items específicos. Para manter estes serviços vão precisar dos pontos de recurso pelo que vai ser inevitável a recolha destes pontos de vez em quando. Precisam de recolher vocês primeiro para que depois possam os outros recolher por vocês.
Existem vários esquemas de controlo que podem utilizar, mas nenhum deles vai facilitar o vosso desempenho em combate. Ainda assim aconselha-se vivamente a utilizarem o Classic Controller, porque de Wii Remote e Nunchuck, digamos que a vossa paciência pode ser canalizada para outros aspectos. Vai depender um pouco da arma que escolherem, mas já poupando a arma de longo alcance as outras vão deixar-vos muitas vezes a atacar o ar, com os golpes a acertarem em tudo menos nos inimigos. O combate obrigando-nos muitas vezes a usar o botão de esquiva não para propriamente evitar as investidas dos monstros, mas para nos posicionarmos em condições de desferir novo ataque certeiro. Para ajudar à festa ainda temos de enfrentar em simultâneo um outro inimigo sempre presente, a câmara do jogo. A falta da opção de lock-on nos inimigos vem apenas a diminuir a precisão, obriga-nos a centrar constantemente a câmara, ainda mais quando temos de enfrentar vários inimigos em simultâneo e se existisse até podia ajudar a diversificar a lista de ataques. Mas também a confusão é muitas vezes apenas visual, com o boss no meio a atacar-nos e os mais pequenos a guinchar de um lado para o outro, raramente atacando, pois o próprio ritmo de combate não permite que nos ataquem em simultâneo ou seríamos delicerados sem hipótese de reacção. É mais ao estilo Bruce Lee com os adversário a saltar de um lado para o outro do que a velocidade de Jackie Chan com tudo ao molho. Obviamente que com o tempo começam a ajustar-se a este combate espaçado que leva o seu tempo a dominar, e que sinceramente nunca vão conseguir dominar na perfeição. Mesmo estudando os padrões de ataque, cada vez que elevarem o martelo acima da cabeça de um monstro e ele fizer uma esquiva para trás deixando-vos a pregar pregos no chão, a vossa pressão arterial é capaz de atingir níveis críticos. O jogo faz o que pode para incluir alguns combos, mas nada que vá muito além do alternar entre os botões.

Armas para todos os gostos.
Sem duvida que o grande trunfo do jogo está no modo online. É certo que o jogo tem prazer em nos colocar perdidos no meio de uma infindável quantidade de opções, e aqui vão também precisar de alguns momentos de pesquisa para perceberem como tudo funciona. Terão vários servidores à disposição onde podem interagir com outros jogadores. Os pontos a favor são a divisão de categorias onde se podem inserir, quer sejam jogadores iniciados ou experientes, e assim têm sempre pessoas com quem fazer equipa, e a ausência de Friend Codes para fazerem a vossa lista de amigos habituais só melhora o seu desempenho. Excepto que a Capcom os substitui por um numero de ID do jogo, mas que para registarem pessoas na lista de amigos têm de receber e aceitar o convite e depois enviar convite e a pessoa que enviou aceitar, ou vice-versa. Ao menos podem fazer pesquisas por nick. É no online que o jogo mostra todo o seu potencial e assim que voltarem ao modo offline, vão sentir que sozinhos não tem a mesma piada. Mesmo quando ganham acesso a um pequeno companheiro mascarado. Aqui vão encontrar todo o tipo de jogadores dos quais podem absorver mais conhecimento de como encarar o jogo da melhor maneira. Um ponto importante neste modo é como seria de esperar a comunicação entre os jogadores. A Capcom permite a utilização de um teclado USB comum para facilitar a escrita, já que o teclado virtual do jogo é de difícil integração com o ritmo de jogo/escrita, e é sem duvida uma peça indispensável. Já a comunicação por voz, o jogo permite que usem o Wii Speak para comunicar com outras pessoas que também tenham o Wii Speak. Infelizmente limita a comunicação apenas a pessoas que estejam registadas na vossa lista de amigos e aqueles que não possuam o intercomunicador da Nintendo não podem ouvir as indicações daqueles que usam o acessório. Nota-se também que quanto mais alto for o nível de caçador dos jogadores no modo online mais comunicativos se tornam. Provando que quem realmente “abraça” o jogo, o vive mais intensamente.
A Capcom incluiu também um modo para dois jogadores split-screen, mas apenas em combates específicos dentro de arenas limitadas. Seria óptimo se pudessem coexistir duas ou mais personagens na mesma Wii e fazer as questsoffline com os amigos, contribuindo todos para o avançar do jogo. Não seria o primeiro jogo a fazê-lo, mas certamente falo-ia muito melhor.
Conclusão
O primeiro contacto com Monster Hunter 3 não vos vai deixar a morrer de amores pelo jogo, pois vai exigir que se esforcem para criar uma empatia com todos os elementos presentes e a própria velocidade a que o jogo se desenrola. O ritmo de jogo é lento e se for bem espremido não é assim tão variado, mas contorna isso deixando-vos saborear as coisas a conta gotas. Depois vai exigir mais dedicação, tempo, preserverança, paciência e quando derem por vocês, vão estar tão embrenhados naquele universo que passará a ser quase como uma segunda casa. Se não tiverem vontade ou tempo para se dedicarem, vão deixar passar muitas coisas e acabam por perder grande parte daquilo que o jogo tem para oferecer. O pior é que não o vão conseguir largar assim que passarem aquela ténue linha em que não têm a certeza se gostam ou não. De alguma maneira o jogo atrai para que façam as mesmas coisas repetidas vezes mesmo que no fundo não passem de recolectores de matérias e materiais. A Capcom fez um bom trabalho e mantém o standard da série em alta, mesmo assim continua a ser um jogo muito específico que é preciso explorar bem para apreciar em todo o seu esplendor. Atrevam-se a experimentar e nunca mais o largam.
O melhor
- Mundo completo e imersivo
- Modo online
- Fusão e criação de novas armas, items e armaduras
O pior
- Combate desajeitado
- Problemas de câmara
- Quests aborrecidas