
CRÓNICA
Nintendo NX: Factos, pistas e especulação
Que futuro reserva a nova geração Nintendo?
Por Henrique Pereira a
O ano de 2016 vai ser um dos mais importantes de sempre na história da Nintendo. Depois de uma geração onde a marca bateu todos os recordes de lucro, a actual trouxe os primeiros prejuízos da história da empresa. Nem a 3DS nem a Wii U atingiram os marcos esperados e se no caso da portátil, ainda se pode considerar como um sucesso moderado, a Wii U foi um desastre sem precedentes e caminha para se tornar a consola doméstica menos vendida da Nintendo. Com um cenário macroeconómico complicado, o mercado tradicional em quebra e o crescimento do segmento mobile, eram elevadas as pressões sobre a companhia por parte dos investidores, analistas e dos próprios consumidores. A reacção chegou em Março do ano passado com uma parceria com a DeNA na qual o já falecido presidente Satoru Iwata anunciou a criação de jogos para os dispositivos móveis, mas também uma nova plataforma com o nome de código “NX”, que deve ser revelada este ano. Rapidamente tem crescido a especulação sobre este novo projecto que continua sob um enorme secretismo (característico da Nintendo) mas com o aproximar da revelação, informações, pistas e rumores começam a dar alguma forma a este projecto que não reúne consensos sobre a direcção a tomar. Neste artigo pretendo responder a isso mesmo, fazendo a minha interpretação de muitos factos e afirmações já conhecidas, especulando sobre vários rumores e pistas e com essa construção dar um caminho e futuro de sucesso a esta nova aventura.
A primeira questão a responder é a natureza da NX: se é uma consola doméstica, uma portátil, nenhuma ou ambas, pois é a principal fonte de debate tendo em conta a aproximação do fim de vida da 3DS, o estado moribundo da Wii U e um mercado em contracção que no Ocidente começa a rejeitar as portáteis em favor do mobile e no Japão começa esquecer as consolas domésticas. Eu acredito que a estratégia da Nintendo será um ecossistema unificado onde haverá uma versão portátil e uma versão doméstica, seguindo um modelo semelhante ao da Apple para o iPhone e iPad, o que tem inúmeras implicações e benefícios que mais à frente irei expor, mas antes disso vou apresentar o que sustenta a minha convicção. Em 2013 e de acordo com o Nikkei, a Nintendo unificou as divisões de desenvolvimento de hardware portátil e doméstico e em 2014, numa sessão de perguntas e respostas com investidores, Satoru Iwata detalhou como deveriam pensar as suas plataformas no futuro, afirmando claramente o modelo da Apple no iOS e da Google no Android como exemplos a seguir, mencionado o ecossistema comum de ambos em diferentes dispositivos com formas diferentes. Já em 2015 vimos a parceria com a DeNA, que dá à Nintendo as capacidades para criar a fundação para algo deste género e o anúncio do sistema de contas MyNintendo, que unificará todos os serviços digitais prestados pela empresa e acrescentará serviços novos como a possibilidade de guardar dados na cloud, algo fundamental para um projecto deste tipo. Estes factos e outras pequenas informações dão grande força à minha tese, mas mais interessante é compreender o que implica esta nova abordagem e quais são os seus objectivos.
Obviamente que a primeira grande vantagem é a da Nintendo apenas ter de apoiar uma plataforma, podendo usar todo o seu peso no desenvolvimento de software, acabando com as infames “secas” de jogos e simplificando o desenvolvimento ao apenas ter um sistema operativo em diversos dispositivos, algo muito importante reiterado por Iwata em 2013 e na mesma sessão de 2014. Isto permite à Nintendo não estar tão exposta à necessidade dos jogos das produtoras externas, um tema sobre o qual é constantemente criticada, e dá a possibilidade de vários estúdios criarem novas experiências ao não terem de desenvolver outra versão de um jogo da mesma série. Assim sendo, acredito que quase todos os jogos desenvolvidos para a NX serão compatíveis com o modelo portátil e com o modelo doméstico, onde as diferenças seriam a fidelidade gráfica. Imaginem um jogo a correr num PC nas definições mínimas e máximas respectivamente, e certas funcionalidades que são intrínsecas à natureza de cada modelo, como multijogador local na mesma consola doméstica. Isto significa que o formato físico teria de ser o mesmo para ambos e portanto a escolha tem de ser o cartucho, algo que já parece ser certo tendo em conta uma patente da Nintendo onde se vê uma consola doméstica a usar este formato e o recente anúncio da Macronix, que se encontra a desenvolver memórias ROM para a NX. É importante referir que para além das vantagens conhecidas deste tipo de formato, como tempos de leitura superiores e muito melhor fiabilidade tanto do cartucho como da máquina, as suas desvantagens estão quase ultrapassadas com os custos de produção muito inferiores a antigamente e capacidades mais que suficientes para os jogos da actualidade (em 2016/2017 a produção de cartuchos com 32 GB certamente não terá obstáculos). Claro que esta compatibilidade não pode ser só física, também tem de ser digital, o qual constitui o pilar principal da NX.
Com um ecossistema partilhado entre vários dispositivos, uma loja online única, um sistema de contas actual e a possibilidade de usar a cloud, estes factores são fundamentais para que haja sucesso comercial e essa tem sido a maior falha da Nintendo nos últimos tempos. A parceria com a DeNA e os outros passos dados em 2015 são uma tentativa de colmatar essa falha, trazendo todos os benefícios para o consumidor, como a possibilidade de comprar conteúdo digital uma vez e usá-lo em qualquer dispositivo NX, manter o progresso do jogo mesmo quando se usa outro dispositivo e a construção de uma biblioteca digital que perdure no tempo. Este último elemento significa compatibilidade futura com novos dispositivos NX lançados posteriormente, algo fundamental segundo Satoru Iwata ainda nas mesmas declarações de 2014. Esta compatibilidade futura, ainda que impeça a Nintendo de voltar a cobrar pelos mesmos jogos, traz um valor incalculável ao efectivamente ligar um consumidor ao seu ecossistema, porque facilita a compra de novos dispositivos a quem já tenha conteúdo na plataforma NX. Conteúdo que para além dos óbvios jogos na Virtual Console também deve incluir jogos digitais e físicos produzidos para a consola, obrigando não só esta geração a partilhar a mesma arquitectura e sistema operativo mas também os futuros, tal como acontece nos dispositivos iOS. O aproveitamento da mesma arquitectura também é referido nas declarações da Iwata e segundo o próprio, torna a passagem para uma nova geração muito menos complicada ao nível dos custos e desenvolvimento mas implica um corte com o passado, ou seja, não deverá haver retro compatibilidade com esta geração. Algo positivo tendo em conta a arquitectura claramente datada da Wii U.