
ANÁLISE
Ghost Trick: Phantom Detective
DS
Por Fábio Pereira a
Todos sabemos que uma boa história é crucial para alcançar sucesso junto do público. No nosso caso, a vantagem de um jogo com história, além de torná-la legível, visível e audível, é deixar-nos participar dela e muitas vezes influenciar o seu curso. Shu Takumi, criador da famosa série Ace Attorney, chega-se à frente com um novo drama que nem assim escapa às influências da investigação criminal. Este é um campo em que o autor se sente à vontade, pelo que era normal ter as expectativas em alta. Mas será este um thriller de cortar a respiração ou um genérico filme de série B?

O mundo espectral tal como Shu Takumi idealizou.


O mundo espectral tal como Shu Takumi idealizou.
Ghost Trick: Phantom Detective vence desde logo pela sua introdução trepidante. O cenário é um ferro velho a abarrotar de objectos inúteis. De um lado, uma jovem rapariga de braços no ar, paralisada de medo e sob ameaça de arma de fogo. Do outro, o discreto e astuto profissional do crime com a arma pronta a decidir o destino da jovem indefesa. Entre os dois, prostrado no chão está Sissel, o herói desta aventura. Cabe a ele salvar a jovem e impedir que o assassino ceife mais uma vida. O único problema é que Sissel está morto. Como pode um cadáver mudar a situação? Não pode. Já o espírito tem toda a liberdade para circular livremente e com algumas manobras de diversão alterar o decorrer dos eventos. O mistério começa aqui. Afinal, como é que Sissel acabou nesta situação e quem foi o responsável pela sua morte? À parte daquilo em que acreditem, Ghost Trick é ao mesmo tempo uma visão peculiar do pós-vida e daquilo em que nos tornamos após a morte.
A história decorre em episódios isolados que se integram a pouco e pouco, cada um com situações e locais diferentes. Variedade não falta. Tomando controlo do espírito, o jogador não pode simplesmente vaguear pelo cenário. O segredo está em possuir os objectos espalhados e viajar entre eles para chegar até onde se pretende. Alguns servem apenas como elo de ligação, outros permitem executar truques para apanhar desprevenido o restante elenco e claro todos eles desempenham um papel fulcral para levar a investigação a bom porto. A manipulação de objectos para alterar o decurso dos acontecimentos a nosso favor é o ponto-chave do jogo. Isto tanto pode ocorrer no tempo presente como no passado. Na verdade, os eventos de Ghost Trick podem ser considerados como uma série de homicídios, e não são poucas as vezes em que nos deparamos com cenários de morte. Felizmente, uma das habilidades sobrenaturais de Sissel é voltar atrás no tempo, quatro minutos antes do assassino consumar o acto e fazer mais uma vitima mortal. Neste curto período somos obrigados a raciocinar depressa e escolher o caminho mais eficaz para impedir o crime. Não tem necessariamente de ser um percurso lógico, sendo que a base recai na tentativa e erro, mas ainda assim o desfecho resulta em peripécias bastante originais. Alterar o destino e salvar aqueles que por uma ou outra razão se cruzam no nosso caminho é essencial para descobrir a verdade. Um esquema que alguns podem achar um pouco repetitivo.




Uma grande aventura do principio ao fim.
Os visuais são do melhor 2D que se encontra na DS. Cenários repletos de pormenores e personagens cativantes que só a Capcom fabrica com tal mestria. Os diálogos são geniais e com um sentido de humor apurado. A nível da possessão de objectos imaginem controlar uma guitarra e, tocando um simples acorde, desviar a atenção do assassino. Agora visualizem um cenário cativante e uma quantidade de objectos significativamente alta para vos dar ideias bem mais criativas de como resolver o assunto. No entanto nem todos os objectos podem ser utilizados e neste aspecto nota-se que o jogador é limitado a trabalhar com o que tem disponível, seguindo apenas o caminho que o jogo exige. Um pouco mais de liberdade não fazia mal nenhum e permitiria criar situações únicas, mesmo que apenas pela diversão de experimentar tudo o que tivermos à mão. O risco de falhar é nulo a não ser ter que repetir tudo novamente e mesmo assim o jogo encarrega-se de separar o evento a meio para não recomeçar do zero. A música que acompanha o desenrolar da história não se faz sentir muito, sendo um ponto que não se destaca dos demais, mesmo com o desempenho exemplar de alguns efeitos sonoros a marcar momentos de tensão.
Conclusão
Ghost Trick: Phantom Detective é uma das primeiras grandes aventuras do ano na portátil. O enredo é o grande trunfo com uma postura digna que nos prende do princípio ao fim. Sem se mostrar mirabolante ou confuso, mantém um ritmo certeiro em que não perdemos pitada do que se passa e nos consome totalmente a atenção. Poderia de facto ser mais arrojado na jogabilidade, mas ainda assim é cativante o suficiente para nos prender à consola. Não esperem uma longevidade estonteante, mas uma aventura altamente recompensadora. A primeira edição de um verdadeiro best seller a não perder.
O melhor
- Enredo genial
- Animações memoráveis
- Jogabilidade envolvente
O pior
- Poderia dar mais liberdade ao jogador
- Longevidade mediana
- Alguns podem achar um pouco repetitivo