
ANÁLISE
Crystal Defenders R1
Por Pedro Meleiro a
O mundo de Ivalice tem servido de pano de fundo a alguns títulos da Square Enix, maioritariamente spin-off tácticos da já longa saga Final Fantasy, mas também outros jogos de maior envergadura, como é o caso da décima segunda incursão desta série ou ainda o conceituado Vagrant Story.
Crystal Defenders é a mais recente desculpa para dar uma espreitadela ao que por lá se passa e, como tal, várias das personagens, criaturas e summons serão familiares a quem já se aventurou em títulos como Final Fantasy Tactics A2. Não restam grandes dúvidas que o historial de jogos decorridos em Ivalice parece nunca ter desiludido. Mas será Crystal Defenders capaz de manter uma tradição que perdura há quase 15 anos?

Os moogles não podiam deixar de faltar ao mais recente festim de Ivalice!
Crystal Defenders R1 é a primeira parte de uma dupla de títulos disponíveis no serviço de downloads da Wii, originalmente lançados numa única parte para as plataformas iOS e que agora vêem uma nova luz nesta conversão directa. O conceito e semelhante à maioria dos chamados “tower defense games”: em cada missão teremos de proteger uma série de cristais das hordas de criaturas que surgem no ecrã e que percorrem um caminho predefinido até ao ponto de destino, onde se espera que estes já tenham sido eliminados; caso contrário, o contador de cristais salvos decrescerá.
O nosso objectivo passa, então, por "contratar" personagens de variadas funções (soldado, mago, arqueiro, entre outros) e dispô-las estrategicamente no cenário de forma a eliminar, preferencialmente, a totalidade dos monstros de cada horda. Quando damos a ordem de entrada da nova onda de inimigos, toda a acção se desenrola automaticamente no ecrã, pelo que o cerne do jogo é precisamente a elaboração de uma estratégia. Contudo, contratar personagens tem um custo, pelo que é imprescindível fazer uma boa gestão do nosso gil (moeda do jogo) disponível, que aumenta cada vez que uma criatura é eliminada. Podemos ainda elevar o nível de cada personagem e, consequentemente melhorar-lhe características como força, frequência e/ou alcance dos ataques. Mas também isto acarreta um peso monetário, que acaba por aumentar numa correlação directa com o nível de progresso.

Dado o baixo grau de dificuldade, esta é uma boa proposta para quem se inicia no género.
A acrescentar ao conjunto de factores a adoptar para uma boa estratégia, há ainda que ter em conta que algumas criaturas têm certas condições de resistência ou imunidade a ataques físicos ou mágicos, ou percorrem o caminho com o dobro da velocidade, por exemplo. Tendo sempre ao nosso dispor a antevisão das próximas três hordas de inimigos e as suas características, acaba por ser do nosso interesse manipularmos uma estratégia de posicionamento, contratação e evolução das personagens, de forma a prever um bom resultado quando chegar a vez dessa horda fazer o percurso.
Apesar da simplicidade do conceito, a verdade é que rapidamente se torna um vício irresistível, sem que nos apercebamos que a manutenção de todos os cristais inicialmente fornecidos ou o gil que conservamos no final nos garantem pontos de bónus no resultado global das missões. Mais tarde, o acesso a funções com características mais específicas, como o ladrão que multiplica o gil obtido por cada criatura destruída próximo deste, ou o mago do tempo que diminui a velocidade dos monstros, e até a possibilidade de realizar invocações, obrigam-nos a repensar a nossa estratégia adoptada até então – fazendo-nos considerar se gastar todo o gil em personagens de ataque será suficiente para ser bem sucedido em fases posteriores.

É importante ter em atenção as resistências e imunidade de certos inimigos.
No que diz respeito à realização gráfica, apesar da carismática arte do mapa e personagens reminiscentes de Final Fantasy Tactics Advance, tudo o resto aparenta tratar-se de um desinteressante jogo lançado algures na época 16-bits, desprovido de charme ou qualquer ponto de interesse, algo muito pouco comum, se considerarmos que se trata de um título da Square-Enix. O que não implica que este jogo não seja visualmente funcional, pelo contrário, mas muito mais poderia ter sido feito no sentido de homogeneizar a apresentação de Crystal Defenders, mesmo considerando o limite imposto para jogos WiiWare.
Um pouco à imagem da componente gráfica, também a nível sonoro somos tratados com um misto de emoções, seja de aprovação pelas agradáveis melodias que acompanham os níveis, ou de impaciência a partir do momento que damos permissão para o início dos ataques inimigos quando temos de suportar um incessante "ruído" gerado pela simultaneidade de infinitos ataques das personagens às criaturas. Temos a possibilidade de desligar os efeitos sonoros, é certo, mas mais não é do que uma preguiçosa maneira de lidar com o assunto, quando o ideal seria ter uma experiência harmoniosa na presença de todos os elementos que o constituem. Ainda assim, os temas acabam por contrabalançar este que mais não é do que um pormenor sonoro.

O mais divertido de Crystal Defenders passa precisamente por obter um "Perfect!" com a melhor pontuação.
O total de 13 missões, com uma duração média de 10 a 15 minutos cada, diz muito acerca da longevidade deste R1, ou da sua falta. No entanto, repetir os níveis para melhorar a pontuação revela-se incrivelmente viciante, ainda para mais dada a possibilidade de publicar os resultados de três níveis em classificações online – embora seja insólito o mesmo não acontecer para os restantes –, o que acaba por fazer esquecer um pouco os 800 pontos gastos num título que se revela tão desprovido de conteúdo. Ainda assim, é quase inevitável não chamar nomes feios à Square Enix por ter abdicado de juntar a primeira e segunda partes, ou de não ter feito a festa por metade do preço, em prol do descarado oportunismo económico que esta deixa transparecer no port directo de um jogo para iPhone.
Conclusão
Ainda que extremamente curto e visualmente desleixado, Crystal Defenders R1 é um título divertido e capaz de nos roubar algumas horas numa desenfreada tentativa de batermos os nossos próprios recordes ao ponto de fazer “retry” da missão ao mínimo erro. No entanto, o preço abusivo no serviço WiiWare face às várias outras plataformas em que se encontra disponível deve ser tido em conta na altura de optar por esta versão em detrimento de outras mais económicas
O melhor
- Contínua introdução de novidades obriga a mudar de estratégia
- Estabelecer novos recordes pode ser um vício
O pior
- Adaptação preguiçosa e sem extras
- Preço exagerado face a outras versões