
ANÁLISE
Need for Speed: Undercover
Entre polícias e ladrões.
Por Tiago Loureiro a
A série Need for Speed tornou-se desde cedo numa das mais famosas e lucrativas franchises da Eletronic Arts, a chave para o sucesso foi-se sempre alterando visto que NFS sempre tentou tornar-se diferente e inovador (pelo menos dentro da série). Basta olhar para o passado da série e ver que esta nem sempre foi baseada em corridas nocturnas e tuning. No entanto, parece que se decidiu “colar” a estas duas vertentes, excepção feita no ano passado com o decepcionante NFS: ProStreet que deitou fora a componente open world e as corridas ilegais, focando-se em circuitos fechados e mantendo a componente tuning. Por esta razão, a EA decidiu voltar ao passado e juntar alguns dos pontos fortes dos anteriores títulos da série, sendo assim, podem contar de novo com uma cidade enorme que podem explorar à vontade (se a vossa paciência o permitir, continuem a ler que já me foco nesse assunto), corridas nocturnas e perseguições policiais.
Desta forma dava a sensação de que a mais recente entrega da série podia voltar a colocar NFS no topo, afinal de contas isto é como uma mistura de Underground 2 e Most Wanted. Mas infelizmente a EA Black Box não soube aproveitar a oportunidade e Undercover espalhou-se ao comprido não conseguindo chegar aos calcanhares dos títulos que mencionei acima. Então como é que uma fórmula que tinha tudo para ter sucesso se tornou num jogo banal e desinteressante? Bem, comecemos do princípio.
A trama de Need for Speed: Undercover centra-se na cidade de Tri-City Bay e o jogador encarna um agente da autoridade que se infiltra no mundo do street racing. O enredo vai-se desenrolando através de sequências cinematográficas com actores reais, é assim notória a inspiração dos grandes blockbusters americanos neste jogo. Aliás, a famosa Maggie Q (Mission: Impossible III e Die Hard 4.0) marca presença como uma das personagens mais importantes de Undercover, o que só reforça a minha afirmação. Existem também várias provas que parecem saídas de um blockbuster de Hollywood, com manobras perigosas e que dificilmente poderiam ser realizadas na vida real.
Tri-City Bay, como já disse, é a cidade que serve de suporte ao jogo e é possível ao jogador viajar à vontade pelas suas ruas. Esta está dividida em quatro zonas distintas: Port Crescent, onde reinam os armazéns e fábricas; Palm Harbor, uma zona citadina, é aqui que começa a aventura; Sunset Hills, preparem-se para levar com sol na cara; Gold Coast Mountains, uma região montanhosa. A cidade é grande e diversificada o que joga a seu favor, mas infelizmente o mais provável é que se fartem rapidamente de vaguear sem destino. A cidade não oferece nenhum incentivo para tal pois a interacção com os cenários é praticamente nula e a cidade é muito monótona, apenas vêm os mesmos carros a passar vezes e vezes sem conta. Os fãs de Underground 2 também podem tirar o cavalinho da chuva se acham que vai ser fantástico atravessar a cidade para chegar a um evento, aqui terão de o fazer através de um menu. Quer isto dizer que toda aquela história de procurar eventos no mapa para nos dirigirmos para lá acabou, isso terá de ser feito através dos menus, com isto perde-se praticamente todo o interesse que a componente open world poderia ter. Atenção que durante uma corrida não podem optar por qualquer caminho que vos vier á cabeça, assim que entramos numa corrida a cidade fica “fechada ” e só podemos seguir por um traçado pré-definido.Era interessante se tivessem optado por algo semelhante ao que vimos em Burnout Paradise, fica para a próxima. Já agora, seria positivo para o jogo se a equipa de produção tivesse incluído algumas features que muitos fãs já pedem há anos, falo nomeadamente de alterações climatéricas e de um ciclo dia/noite que ajudaria a diversificar o ambiente, seria como uma junção de Underground e Most Wanted. Além disso poderia ter impacto directo nas corridas pois veríamos mais civis de dia do que de noite e de noite as lojas onde fazemos tuning estariam fechadas. É só uma ideia, mas antes destes pormenores convém que a EA trabalhe melhor a componente open world.
Um dos aspectos que tinha desaparecido em ProStreet está de volta: as perseguições policiais. Infelizmente estas poderiam ter sido mais trabalhadas pois tornam-se monótonas em pouco tempo. É verdade que os polícias parecem fazer um esforço para nos apanhar, apanhando atalhos e sendo bastante agressivos quando têm oportunidade para o ser. Mas cedo o jogador aprende a despistá-los e a acabar com eles. Uma das maiores ajudas que temos contra a autoridade são os pontos de destruição. Estes encontram-se espalhados pela cidade e permitem-nos, por exemplo, fazer algo cair (batendo com o carro) e tapar a estrada para que os polícias não nos consigam apanhar.
Os polícias também usam os seus próprios carros para nos taparem a estrada mas não é muito difícil passar por eles. Undercover oferece vários modos de jogo que ajudam a diversificar a experiência em geral. Temos, por exemplo, o modo Circuit (corridas ditas normais), Sprint (igual a circuit mas em vez de voltas temos de ir do ponto A ao ponto B), Highway Battle (joga contra um oponente num traçado recheado de policias e com um trânsito intenso), Cops and Robbers (és um policia que tenta apanhar os fora da lei) e o modo Cost to State (provocar o máximo de dano que conseguirmos na cidade). A lista de veículos presentes no jogo é bastante agradável tendo veículos recentes e velhos, podem encontrar máquinas como Nissan Skyline GT-R V-spec, Nissan 350Z, Dodge Viper SRT-10, Shelby GT500, Lamborghini Murcielago, Ford GT, entre muitos outros numa lista com quase quarenta carros para utilizarem no asfalto e para modificar a vosso prazer.
E esse é precisamente um dos pontos onde NFS ainda consegue marcar alguns pontos, tal como nos seus antecessores é possível fazer tuning a qualquer veículo presente em Undercover. É possível modificar praticamente todas as peças do carro e como se isso não bastasse o sistema autosculpt nascido em NFS: Carbon marca presença em Undercover, isto significa que podemos modificar individualmente grande parte dos componentes que adicionar-mos ao nosso menino. Podemos por exemplo, pegar nas jantes e alterar vários parâmetros para que seja uma peça só nossa, ou então pegar em qualquer outra peça e aumentar/diminuir o seu tamanho, meter mais comprido, baixo/alto, etc. As possibilidades são imensas (embora não tantas quanto esperado, mas chega e basta para estarem horas a modificar um carro) e é divertido modificar o nosso automóvel favorito para nos gabarmos perante os nossos colegas ou envergonhar-mos o CPU numa qualquer corrida. Infelizmente, mesmo que modifiquemos o nosso carro ao máximo ele nunca vai parecer tão bonito quanto desejava-mos inicialmente. Calma, não é por terem mau gosto.O motor gráfico de Undercover é que é péssimo, para ser sincero acho que nunca vi nada assim a correr na consola. Os modelos dos automóveis são pouco detalhados e as texturas são péssimas. Além disso existem diversos bugs que decidem aparecer de vez em quando. Sejam paredes invisíveis onde batemos a meio de um salto ou então carros invisíveis que só aparecem quando já estamos praticamente em cima deles. Infelizmente, estes problemas acabam por influenciar negativamente todo o jogo pois conseguem ser obstáculos frustrantes. Imaginem que estão em primeiro e quase a chegar à meta mas batem contra algo que não conseguem ver. Outro problema grave é a baixa dificuldade do jogo, noutros jogos de condução estamos sempre a tentar comprar um carro melhor para que as provas se tornem mais fáceis mas aqui isso é secundário pois mesmo com um carro teoricamente fraco é possível terminar grande parte da carreira.Presença obrigatória neste género é a banda sonora que simboliza o mundo do street racing, este é provavelmente o ponto mais forte de Undercover.
A banda sonora não deslumbra mas consegue marcar pontos e até adicionar alguma adrenalina às corridas. Podem contar com nomes como Recoil, The Prodigy, Bonobo (não confundir com os chimpanzé pigmeu) e Nine Inch Nails. Infelizmente, os efeitos sonoros não conseguem atingir a qualidade da OST sendo, por vezes, bastante irritantes. A jogabilidade é extremamente aborrecida, desinspirada e estranha, por vezes nem parece que estamos a conduzir um carro. Conduzir com o Wii Wheel é uma tortura, sendo preferível optar pelo Classic Controller ou pelo comando da GC. Mas mesmo esses não fazem milagres. Por último gostava de referir que existe uma componente online, que teoricamente pode aumentar a longevidade deste título. Mas com tantos problemas a nível técnico é difícil que se consigam manter agarrados a ele durante muitas horas.
Conclusão
Undercover é mais um jogo com potencial que não foi devidamente aproveitado. É verdade que não são muitos os títulos do género na Wii, mas isso dificilmente é desculpa para se adquirir NFS: Undercover. Comprem apenas caso estejam completamente desesperados.
O melhor
- Boa lista de veículos
- Banda sonora satisfatória e perfeita para o ambiente do jogo
O pior
- Modo Open World sem interesse
- Jogabilidade muito pouco agradável
- Grafismo muito abaixo das capacidades da consola