
ANÁLISE
Need for Speed: Hot Pursuit
Por João Tavares a
O percurso de Need for Speed na Wii tem sido sinuoso, deixando um rasto de jogos que não fazem jus ao nome que representam. Depois de um Carbon fraco e de uns ProStreet e Undercover medonhos, a EA parecia ter achado o caminho certo com Nitro, título com as suas falhas mas ainda assim boa opção para os amantes do género. Seria de esperar que a gigante ocidental fosse aproveitar as bases de 2009 para então apresentar uma alternativa séria a Mario Kart em 2010. Só que por vezes nem sempre as ideias mais lógicas são adoptadas e Hot Pursuit prova isso mesmo, arrastando de novo Need for Speed para patamares qualitativos seriamente maus.
Não levámos muito tempo a perceber que Need for Speed: Hot Pursuit tem aspirações francamente modestas, pois mal introduzimos o DVD na consola saltam à vista menus de um minimalismo exacerbado que deixam adivinhar o que se segue. Começamos por optar entre conduzir de forma livre numa de quatro cidades (Chongqing, Dubai, Rio de Janeiro, Las Vegas) ou enveredar pelo modo carreira, que nos obriga a passar por séries de etapas e vencer o chefe de cada localidade. O desafio contra esse chefe vem na sequência de boas prestações em corridas anteriores abrangidas por diversos modos. São eles: Hot Pursuit, em que damos voltas num trajecto pré-definido, sempre na mira da polícia e a ultrapassar a concorrência; Eliminator, que nos obriga a evitar o último lugar ou estamos fora da corrida; o famoso Time Trial para despiques contra o relógio; e por fim Rush Hour, em que se juntam dezenas de bólides naquele que é o modo mais divertido de todos, tal o caos que se instala. Temos ainda a possibilidade de ser polícia em Interceptor, onde abalroamos carros até estes serem obrigados a desistir da competição.

Tudo bem até aqui, aparentemente. Os problemas começam quando tentamos (com dose e meia de desespero) tomar controlo do nosso carro. Apesar dos diversos métodos de controlo, que abrangem Wiimote e Nunchuk, bem como o Classic Controller e ainda os sensores de movimento, os veículos comportam-se de forma muito pouco realista e estão longe do desempenho fluído visto em Need for Speed: Nitro. Derrapar numa curva é tarefa hercúlea, uma vez que a física dos carros iniciais está muito mal desenvolvida, parecendo por vezes que estamos a conduzir um saco de arroz. O pior vem mais tarde, ao atingirmos classes de bólides superiores. É como se estivéssemos a correr com esquis sobre alcatrão a ferver. Tudo menos prático, demonstrando a falta de capacidade ou quiçá tempo da equipa de desenvolvimento.
Continuando a odisseia dos pontos negativos, outro aspecto fracassado em Hot Pursuit é o sistema de colisões, justo uma das componentes mais significativas na mecânica do jogo. No calor da corrida estamos sempre a ombrear com outros carros e com a polícia. Por vezes uma colisão a alta velocidade resulta num pequeno salto do nosso carro, mas noutras alturas basta um encosto para sairmos a voar contra o rail de estrada mais próximo.
Ao longo das diversas pistas espalham-se vários power-ups que nos ajudam, ora com mais poder de força ao nosso bólide, ora dando mais velocidade ou auto-controlo. Sim, existe um power-up que controla automaticamente o veículo, se bem que por vezes atrapalha mais do que ajuda, espelhando novamente a falta de polimento desta edição. O desenho dos níveis é algo que deixa igualmente a desejar, faltando trajectos alternativos nas pistas, algo que foi bem implementado, mais uma vez, em Need for Speed: Nitro. Se compararmos cidades diferentes, notamos algumas diferenças significativas na geometria da estrada, mas dentro de uma localização específica todas as corridas parecem iguais, não havendo grande variedade.

Com quatro jogadores ao mesmo tempo no ecrã a frame rate arrasta-se.
Para encerrar esta análise, não podemos deixar de pisar relutantemente o departamento gráfico. Hot Pursuit é uma ofensa ao hardware da Wii, apresentando-se com visuais pouco elaborados e datados. Os modelos dos automóveis são desprovidos de qualquer tipo de detalhe e as cidades totalmente despidas, salvando-se apenas algum tráfego que se vê na estrada, mas nada por aí além. Nesta edição, até a personalização dos carros levou um corte, sendo apenas possível alterar a pintura, colar algumas figuras ou escolher uma carroçaria mais “tunning” que em nada afecta a performance. E mesmo com grafismo tão pobre, Hot Pursuit é incapaz de manter uma frame rate constante, existindo slowdowns ao longo das corridas, o que se torna grave quando quatro amigos decidem competir em ecrã dividido. Não estamos a exagerar quando dizemos que é dos jogos mais feios que já correu na caixa branca da Nintendo.
A banda sonora pode ser adjectivada como inconstante, apresentando temas que se ligam muito mal e pouco usuais para o público a que o jogo aponta, tendo nos efeitos sonoros hediondos (sobretudo os de embate entre veículos) outros motivos fortes para desligar a consola.
Conclusão
Era simples. A EA só tinha de pegar em Need for Speed: Nitro e acrescentar-lhe uma componente online. É compreensível do ponto de vista comercial que tenham optado por lançar Hot Pursuit, mas a versão Wii não tem, nem de perto, a mesma qualidade das versões que saíram também este ano para as consolas HD. Aliás, dificilmente vai agradar aos mais fanáticos da alta velocidade. É uma pena ver todo o potencial de Nitro não ser aproveitado em detrimento "disto".
O melhor
- Vários esquemas de controlo...
O pior
- ...que não salvam a mecânica de condução caótica
- Poucas opções de personalização dos carros
- Grafismo vergonhoso
- Sem modo online
- Sistema de colisões totalmente desequilibrado