
ANÁLISE
The House of the Dead: Overkill
Carnaval dos mutantes.
Por João Tavares a
Os shooters on rails há muito tempo que existem, mas o género sem duvida que pegou de estaca na Wii. É algo que também não chega a ser surpreendente devido às potencialidades da consola e do seu comando com pointer, mas a fama conseguida por jogos como RE: Umbrella Chronicles, já pedia um projecto com elevados padrões de qualidade como é Overkill. Desta feita, depois do sucesso que o port de House of the Dead 2&3 teve na Wii, a Sega viu que efectivamente havia potencial a explorar. A revitalização do franchise, que já não tinha um jogo novo lançado há 7 anos, ficou a cargo da Headstrong Games, que não se limitou simplesmente a fazer mais do mesmo, mas ao invés criou algo que é uma lufada de ar fresco na série, e um passo em frente no género.
A principal atracção do jogo reside no seu ambiente muito inspirado nos antigos filmes série B. Voice acting propositadamente mau, piadas e situações ridículas ou simplesmente aleatórias, e nomes retirados de verdadeiros clichés, carregam o jogo numa demanda que jamais foi explorada nesta indústria. A genialidade e mestria com que todos estes elementos conseguiram ser introduzidos no jogo, são únicas e inigualáveis por qualquer outro shooter feito até à data. São imensas as situações em que nos vemos a rir às gargalhadas, e atenção que as piadas fazem valer o rating 18+ que o título carrega consigo. Aliás, Overkill não tenta ser educado para ninguém, e se não me falha a memória, penso nunca ter experimentado nada onde os personagens do jogo dissessem tanta palavra insultuosa ou usassem expressões capazes de criar um autêntico motim por parte de organizações que lutam contra estes padrões adultos nos vídeojogos durante anos.
Para além deste conteúdo adulto, temos ainda o nível de gore associado a toda a jogabilidade. É possível matar um zombie, ou como diria o Agente G, mutante, de diversas maneiras. Antes de darmos o tiro fatal, conseguimos literalmente desmembrar um corpo a nosso belo prazer. Braços, pernas, pedaços de carne do peito, tudo é possível e o efeito visual que isto traz é extremamente satisfatório e coloca-nos por diversas vezes a sorrir maquiavélicamente enquanto vemos um zombie a rastejar ao nosso encontro depois de levar um balázio nas pernas, ou até mesmo a dirigir-se para nós a cambalear depois de ver o seu braço voar e ficar como adereço decorativo do cenário. É este nível de gore que dá um realismo absurdo a Overkill, e a física vem dar uma mãozinha a esta festa sanguinária. A maneira como cada zombie reage aos nossos tiros é fantástica. Não só são projectados pelo ar ao longo do cenário, como ainda vemos por diversas vezes jactos de sangue pelo chão e paredes, puxando pelas qualidades de pintor do jogador.Pelo que já foi dito até agora, penso que seja possível concluir que o grafismo de Overkill está estupendo. A variedade de zombies é aceitável, mas para além dos efeitos visuais provenientes do gore, temos ainda cenários muito bem conseguidos e que representam de forma genial todo o conceito do jogo. Temos 7 mapas no total, e cada um é completamente diferente do outro. Vamos percorrer localizações como um pântano, um comboio, e até um hospital, sem que nenhum fique para trás a nível qualitativo. As texturas usadas são muito detalhadas e belas, e realmente nota-se que este é um jogo que puxa bem pelo hardware da Wii, e que não seria possível pô-lo a correr em nenhuma consola da geração passada. No entanto, é aqui que Overkill também expõe o seu calcanhar de Aquiles. A frame rate, no geral, está má. Nos níveis iniciais isto não se denota muito, mas conforme vamos avançando no jogo, existem certos efeitos de luz e fumos que vão sendo adicionados e a fluidez do jogo sofre imenso com isso. Serão diversas as vezes em que verão a acção arrastar-se no ecrã, e isto pouco ou nada tem a ver com os loadings do mapa, já que nestes casos o jogo pára por um período muito escasso que mal chega a 1 segundo. Nesse aspecto, pelo menos, é mais uma vantagem, visto ser extremamente importante não haverem paragens a meio dos níveis para deixar o ritmo e a acção fluírem. A única altura em que realmente paramos é antes do combate do boss, mas nesse ecrã de loading até ficamos a perceber os pontos fracos do monstro que vamos enfrentar.
As qualidades sonoras de Overkill estão também num patamar elevado de qualidade. Não só os menus são apresentados com uma banda sonora muito bem elaborada, como os temas dos níveis também se encaixam na perfeição ao ambiente apresentado. Os efeitos sonoros receberam igual tratamento, e as armas estão todas bem suportadas por esta componente. A coluna embutida no Wiimote também é activada de cada vez que recarregamos a arma, o que dá um realismo extra à acção. E referindo novamente as vozes das personagens e do narrador, são um verdadeiro toque de génio. O ambiente cheesy fica a ganhar imenso com elas, e tanto o agente G como o detective Washington são duas personagens extremamente carismáticas e com as quais nos ligamos imediatamente, e que ao mesmo tempo valem por todo o conteúdo cómico da jogabilidade.
Os controlos são extremamente simples, tal como se pedem num género como este. O pointer é a nossa mira, o botão + abre o menu, enquanto que o – serve para atirarmos granadas que apanhamos ao longo dos níveis. O recarregamento da arma fica a cargo do botão A ou do waggle, como preferirem, e o botão 1 e 2 trocam entre as 2 armas que podemos levar para cada capítulo. Falando do arsenal, temos uma gama grande que se divide entre as habituais pistolas, espingardas e metralhadoras. Algumas estarão disponíveis inicialmente, outras são desbloqueadas com o passar do jogo. Acima de tudo, todas as armas diferentes providenciam aquilo que usualmente lhes é pedido, que é alguma variação e diversidade na jogabilidade. As armas não são o único conteúdo desbloqueável. Existe uma grande quantidade de músicas, sequências de filme novas, e até um modo Director’s Cut que duplica a longevidade instantaneamente. O modo principal é muito pequeno, e a maioria dos jogadores conseguirá passar todos os 7 níveis numas questão de pouco mais de um par de horas, mas a verdadeira essência de Overkill reside no replay value, onde iremos repetir o níveis vezes e vezes sem conta por forma a obtermos as melhores pontuações e todo os items bonús que nos aumentam a avaliação final. Existe também uma opção que quando activada aumenta o número de zombies que iremos encontrar ao longo de cada capítulo, o que não só aumenta a dificuldade, como possibilita o jogador de obter pontuações ainda mais altas, graças aos combos que possuem um papel importante para quem gosta de ser o melhor dos melhores. O que o modo Director’s Cut traz que o modo principal não tem, são pequenas partes dos cenários novas, e uma dificuldade superior. Temos ainda 3 mini-jogos relacionados com tiro ao alvo, sobrevivência e salvamento de reféns. Todos eles providenciam ainda mais tempo de jogo caso estejam fatigados do habitual tiroteio na principal componente de Overkill. O único aspecto que me deixou algo desiludido foi a dificuldade dos bosses finais. Todos eles, sem excepção, são de uma facilidade extrema, e duvido que alguém vá morrer ou perder nesses combates mesmo não tendo grande jeito para este género de título. Podem ainda contar com o habitual modo multi-jogador que permite que duas pessoas possam jogar no modo história, e quatro possam entrar nos minijogos.
Conclusão
Acima de tudo, House of the Dead Overkill tem um potencial tremendo. A Headstrong Games fez um trabalho impressionante, tornando este um dos grandes títulos da Sega para este início de ano. Na minha opinião, é o melhor shooter de sempre, não só pelo seu grafismo e teor cómico, mas também porque soube introduzir todos esses elementos de uma maneira tão eficaz, bem como novos modos de jogo que elevam a longevidade para patamares muito superiores. Não fossem os problemas de frame rate, e o valor geral estaria ainda mais lá no topo. Se são o típico jogador hardcore que se queixa semanalmente da falta de títulos exigentes e adultos na Wii, então não pensem duas vezes e adquiram Overkill, que é um dos melhores alguma vez lançados na plataforma, e um jogo adulto totalmente digno desse nome.
O melhor
- Bom grafismo
- Excelente componente sonora
- Ambiente série B bem conseguido e lado cómico genial
O pior
- Bosses demasiado fáceis
- Framerate atinge valores muito baixos em certos níveis