
ANÁLISE
Paper Mario: Color Splash
Ilha das Seis Cores.
Por Tiago Marafona a
Começam a queimar-se os últimos cartuchos para o anúncio do fim de vida da Wii U e o mercado já está de olhos postos e completamente focado no que poderá vir a ser a próxima plataforma da Nintendo. Ainda assim, há ainda quem esteja interessado nos últimos suspiros da Wii U e com uma curiosidade extrema em ver o legado final da consola da Nintendo.
Depois do relativo sucesso e da crítica ter sido praticamente unânime com o lançamento de Paper Mario: Sticker Star para a Nintendo 3DS, a Intelligent Systems traz agora consigo para a Wii U Paper Mario: Color Splash, o seguimento directo do título produzido para a portátil. Dado o panorama do mercado e com a estratégia actual da Nintendo a demonstrar estar claramente concentrada na próxima consola, resta saber se a aposta arriscada em Paper Mario: Color Splash, será o título forte que dará o final de ano que a Wii U tanto merecia.Mario e princesa Peach são avisados por um Toad (que ficou de forma misteriosa e sem cor) que a ilha das Seis Cores, um paraíso habitado sobretudo por Toads, perdeu toda a sua cor de forma inexplicável. A ilha que sempre foi conhecida pela enorme quantidade de tinta e de cores extravagantes, do nada ficou branca como cal. Mario resolve entrar na aventura e descobre que as criaturas maléficas conhecidas como Shy Guys estariam a drenar toda a tinta da ilha sob ordens do terrível Bowser. Mario desta vez não vai entrar sozinho na aventura da luta contra o mal e embarca com um novo companheiro chamado Pintas, um balde com capacidade de armazenar tinta – amarela, azul e vermelha - e que será um verdadeiro companheiro de armas.
A partir daqui a jornada de Mario e Pintas resume-se a ultrapassar níveis ao longo de um mapa à procura de estrelas de tinta, derrotando inimigos, resolvendo enigmas e defrontando bosses bem conhecidos do universo Mario para alcançar as tão desejadas megaestrelas. Tudo isto no mundo fantástico do Mario de papel e acompanhado pela já tão característica fórmula humorística que marcou a série Paper Mario. O enredo é simplesmente excelente, assim como todas as personagens que vão surgindo durante a aventura. A jornada não acusa cansaço porque a narrativa é fresca, divertida e envolvente até ao fim.Aliado a um magnífico enredo está também um muito competente sistema de combate que vai buscar inspiração a outros jogos da série, só que desta vez dando uma maior atenção à tinta e onde o GamePad acaba por oferecer uma maior dinâmica ao tradicional combate por turnos. Mario pode atacar os inimigos com os seus saltos ou com o martelo, que para além de provocar danos nos inimigos antes de se iniciar uma batalha, é também usado para pintar os vários pontos de cada nível que perderam a cor. Em caso de sucesso, consegue-se uma bandeira dourada no final de cada nível e obtém-se a marca de 100% de conclusão.
Abordando de forma mais técnica o sistema de batalha de Paper Mario: Color Splash, há uma clara inspiração nas origens e principalmente no título anterior da série, Sticker Star. Recorrendo ao uso de cartas, pode-se utilizar cartas já com tinta ou cartas ainda por colorir, sendo que estas últimas possuem um valor comercial bem inferior às cartas já com tinta. Ao serem seleccionadas as cartas, estas vão perdendo cor conforme os ataques que vão sendo executados. Ou seja, no caso de serem utilizados sapatos, a cada salto que seja efectuado em cima do inimigo a carta vai perdendo cor a cada ataque até ficar completamente incolor. Existe um bom leque de cartas disponíveis para serem obtidas, sendo a distribuição delas bem equilibrada.Para além das cartas normais de ataque e da preciosa ajuda de Pintas, é possível espremer certos objectos e mais tarde utilizá-los nas batalhas. Para além disso, estes objectos, depois de serem esprimidos e transformados em cartas, acabam por ter alguma influência durante a aventura, sendo utilizados em níveis e em batalhas com os bosses. Ao utilizar estas cartas especiais, todas têm uma animação peculiar, o que na maioria dos casos passa por um conteúdo bastante humorístico. Isto pode passar, por exemplo, por um secador de cabelo que liberta todo o seu calor contra os inimigos ou uma bola de espelhos que confunde os antagonistas e mete-os a dançar.
Mas a tinta não dura para sempre. À medida que Mario vai utilizando o seu precioso martelo para pintar as zonas sem cor e dando tonalidade às suas cartas durante os combates, o depósito de Pintas vai ficando vazio e é preciso repô-lo, o que obriga o jogador a interagir com todos os obstáculos dos cenários para obter pequenas porções de tinta. A proposta é bastante criativa e a forma como é executada está simplesmente perfeita.Graficamente Paper Mario: Color Splash não é de todo o suprasumo da Wii U mas esse nunca foi o verdadeiro propósito da série e talvez nunca venha a ser. Apesar de não ser graficamente tonificado, é claramente um jogo bonito e muito vistoso, tudo por causa da enorme coloração existente em todos os níveis (mesmo nos mais sombrios), ou por causa dos pormenores existentes em todos os cenários. A interacção de Mario com os cenários é bastante gratificante, não se resumindo unicamente a batalhas, coleccionar cartas, ou simplesmente na busca de colher moedas. Há zonas que permitem efectuar mudanças nos cenários (estrategicamente bem montados) que acabam por ter impacto com o desenrolar da aventura, os chamados recortes com que correndo à utilização do GamePad é possível atravessar pontes ou simplesmente colocar uma carta de um objecto para ultrapassar uma situação. Color Splash cumpre com a verdadeira premissa do jogo e a cor salta claramente à vista, nem que seja preciso mandar primeiro umas valentes marretadas para colorizar.
Em termos sonoros, Paper Mario: Color Splash estará seguramente entre os melhores da Wii U. Todos os níveis estão acompanhados com melodias que encaixam perfeitamente em todos os momentos do jogo, assim como em todos os ambientes em que foram inseridas. Recorrendo a instrumentos como violino, guitarra, acordeão, piano e linhas magníficas de baixo, todas as faixas oferecem algo vivo que fica na memória. Houve claramente bastante inspiração na composição de cada melodia.Paper Mario: Color Splash oferece também a possibilidade de jogar em português, sendo notável o excelente trabalho de tradução, mantendo vivos os vários momentos de humor, com frases e palavras que facilmente são identificadas na cultura portuguesa.
Color Splash é capaz de oferecer mais de 50 horas a quem gostar de concluir todos os objectivos, sendo que para terminar unicamente a aventura menos de 40 horas bastam. A longevidade está perfeitamente adequada ao real propósito do jogo e a dificuldade também está bem estatuída, sendo claramente de tendência crescente e sem picos pronunciados. Na sua globalidade, não é de todo uma aventura árdua mas no geral oferece uma experiência bastante regular tanto em dificuldade de batalhas como em quebra-cabeças.
Conclusão
Paper Mario: Color Splash é sem dúvida um jogo que exerce um fascínio único, capaz de oferecer uma aventura verdadeiramente ímpar do início ao fim. O enredo é simplesmente sensacional, onde se junta Mario e Pintas, o balde extremamente carismático e com um sentido de humor fora do vulgar, num mundo apetrechado de Toads, ricos em ironia e inocência. O lado mais criativo da Intelligent Systems está todo ele retratado nesta aventura, capaz de oferecer mais de 50 horas de jogo, com quebra-cabeças, batalhas e claro, muita cor. Paper Mario: Color Splash será com toda a certeza recordado como uma autêntica pérola que jamais poderá ser esquecida, sempre que se falar dos melhores jogos da Wii U.
O melhor
- Complexidade de Mario e Pintas produzem uma aventura extraordinária
- Narrativa envolvente e caricata
- Capacidade de entreter e interacção com o jogador
- Aspecto visual e estrutura dos níveis
- Banda sonora
O pior
- Falta de possibilidade para gravar
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Wii U, gentilmente cedido pela Nintendo.
9 de Outubro, 2016, 20:28