
ANÁLISE
Call of Duty: Black Ops
Por João Tavares a
Com um novo ano à porta gera-se expectativa em torno destes meses finais, pois é a altura em que as lojas recebem um novo Call of Duty. Esta é uma rotina a que os jogadores já se habituaram nos últimos anos, e para manter o ritmo a Activision decidiu alternar a produção dos jogos da série entre a Infinity Ward e a Treyarch. Muitos estavam curiosos quanto às capacidades da segunda equipa seguir o trilho legado pelo bem sucedido Modern Warfare 2. Infelizmente, os jogadores Wii não tiveram oportunidade de experimentar MW2 no ano passado, mas receberam em troca a adaptação de um dos melhores FPS de sempre, o primeiro Modern Warfare.
Olhando para todo o percurso da Wii em termos de Call of Duty, todos os capítulos lançados (Call of Duty 3, World at War, Modern Warfare, e agora Black Ops) estiveram a cargo da Treyarch. Terá a experiência desta equipa de produção culminado no derradeiro FPS da consola? É o que vamos descobrir.
Os acontecimentos de Black Ops atiram-nos para diversos confrontos à volta do globo, numa tentativa de impedirmos a utilização de um novo gás mortífero chamado Nova 6 contra alguns locais-chave dos EUA. Iniciamos a campanha na perspectiva de Mason, que se encontra numa sala de tortura a ser interrogado quanto às suas acções. Através de vários flashbacks a história progride e vamos por conseguinte controlar outras personagens do argumento como Hudson ou o regressado soviético Reznov, que já havia marcado presença em World at War. Sem querer descortinar demasiado a história, Black Ops apresenta-se com grande qualidade, momentos de jogabilidade com rasgos de inspiração "hollywoodesca" e personagens carismáticas, incluindo grandes figuras da política mundial como J.F. Kennedy e Fidel Castro. Apesar de não chegar ao patamar de Modern Warfare, esta nova entrada acaba por ombreá-la seriamente em termos qualitativos, falhando apenas no final, que podia ter sido menos abrupto. Fora isso, nada a apontar. Serão imensas as ocasiões em que o jogador vai imergir no seio de confrontos armados muito tensos, com direito a pequenas secções capazes de nos surpreender pela espectacularidade do momento, tudo sempre ajudado pelo admirável "bullet time". Uma nota positiva para a forma como as diferentes partes do argumento se ligam e são introduzidas ao jogador, nunca o deixando perdido, uma vez que controla de forma progressiva cada uma dessas secções e que normalmente se desenvolvem de forma paralela no tempo do jogo.

É importante frisar que a campanha não é perfeita a todos os níveis, apresentando alguns bugs gráficos e falhas na inteligência artificial inimiga, que ora é impiedosa, ora deixa os soldados colados no chão especados. De salientar também a linearidade de jogo, que para alguns poderá ser excessiva. Do princípio ao fim só temos de avançar por caminhos pré-definidos e "varrer" tudo que nos aparece à frente. Se são fãs de exploração, ou se simplesmente gostam de escolher diferentes caminhos durante a vossa progressão, então Black Ops será uma desilusão, mas a tendência da série Call of Duty tem sido mesmo esta, e até agora o seu sucesso é inigualável.
Quanto a novidades, pela primeira vez na Wii temos a possibilidade de utilizar duas armas leves ao mesmo tempo, uma em cada mão. Ou seja, pistolas e SMGs poderão ser utilizadas aos pares, oferecendo alguma adrenalina extra, apesar da precisão sair sacrificada. O controlo destas armas é ainda mais satisfatório por podermos disparar cada uma de forma independente – gatilho Z do Nunchuk para a arma esquerda, gatilho do Wii Remote para a direita. Provavelmente o mais próximo do Rambo que alguma vez se sentirão. Temos ainda a Bowgun que não é mais que uma arma capaz de disparar flechas neutras ou carregadas com algo mais bombástico.
Além desta estreia no arsenal, temos agora à disposição um movimento de mergulho que podemos activar quando estamos a efectuar um sprint, com a personagem a saltar para a frente e a manter-se deitada no chão. Isto é particularmente útil quando estamos a fugir de granadas ou outro tipo de projécteis como setas explosivas.
O armamento oferecido por Call of Duty: Black Ops tem algumas novidades e alguns regressos. Distanciando-se um pouco das armas de World at War, e aproximando-se mais de Modern Warfare, vamos estar familiarizados com a presença da M16, AK47, Skorpion ou AK74-u, havendo tempo para algumas estreias, como é o caso do Bowgun já mencionado. Pela primeira vez na Wii podemos também dar uso à granada com Nova Gas que envenena os inimigos, mas cuja utilidade prática está mais ligada com o online. Falemos disso mais adiante.

A nova menina bonita de Black Ops é a Bowgun.
Como já estamos acostumados, a Treyarch volta a primar a edição Wii com controlos muito refinados e intuitivos. Temos a possibilidade de alterar praticamente tudo a nosso gosto, não sendo difícil atingirmos o esquema perfeito para o nosso estilo de jogo. Seja a movimentação da mira, a sensibilidade dos sensores de movimento ou o simples mapeamento de botões, tudo foi bem tratado. Existe ainda uma opção para utilizar o Wii Zapper, no caso de alguém ainda gostar de levantar este belo, pitoresco pedaço de plástico.
Em termos de som ficámos bastante impressionados com o desempenho de Black Ops, dotado de músicas bem adaptadas a cada momento. Seja num tom mais épico ou mais pesado, vão sentir aquela injecção de confiança enquanto iniciam a vossa demanda com uma componente musical que carrega consigo uma grande força anímica. No departamento vocal, todos os actores que dão voz às personagens exercem as suas interpretações com classe, sendo impossível ficar indiferente aos gritos gloriosos de Reznov com aquele seu sotaque russo capaz de encher os seus compatriotas de coragem. Mason acaba também por ser um soldado muito mais completo e carismático do que Soap de Modern Warfare, por exemplo. Num jogo de guerra, esta acaba por ser uma das componentes mais importantes, e Black Ops não desilude.
No departamento gráfico, é impossível alguém deixar de se sentir desiludido. Sobretudo se conhecer o currículo da Treyarch. Em certas ocasiões, Black Ops chega a ter um desempenho visual inferior ao seus dois antecessores, o que é incompreensível nesta fase do campeonato. Algumas texturas são muito pobres, e outros tantos efeitos, como por exemplo o fogo, não convencem. Curiosamente, é no online que vemos melhorias, com os cenários a apresentarem-se em melhor forma, exceptuando na framerate, que é incapaz de se manter constante quando há diversos inimigos no ecrã. Se achavam o World at War e o Modern Warfare algo feios, não esperem um trabalho superior neste capítulo. Apesar de todos estes defeitos, os gráficos não bastam para nos impedir de apreciar esta simulação militar. Mas vemo-nos no direito de exigir bem mais de uma equipa com tanta experiência no hardware da Wii. Outro problema reside no DVD de jogo que desgasta imenso o laser da consola. Consequentemente temos modelos gráficos a saltaram do nada para o ecrã, e tempos de loading um pouco demorados.

Além de uma proposta rica a solo, Black Ops brilha ainda mais na componente multijogador Wi-Fi. A cada novo Call of Duty na Wii vemos bastantes novidades serem apresentadas, e este mais recente título é justo o topo dessa travessia. O online está mais refinado que nunca, com todos os modos e extras existentes nas versões HD, e a maioria dos quais proveniente de Modern Warfare, o que não é mau tendo em conta a qualidade. Podem contar com Domination, Free for All, Sabotage, Seek and Destroy, entre muitos outros, e agora também com Capture the Flag. A grande novidade reside no dinheiro que agora podemos ganhar enquanto jogámos e que será investido na compra de armas, perks, etc. Existem também modos em que podemos apostar o nosso dinheiro contra jogadores e um modo específico em que assinamos contratos que implicam várias acções para acatar no campo de batalha.
O que acaba por tornar tudo muito melhor é a total ausência de lag no online Wii de Black Ops. Em todos os Call of Duty sempre existiu uma diferença significativa de fluidez de jogo comparativamente ao que podíamos ver nas consolas HD, mas essa diferença agora não é notada, pelo que os tiros estão mais certeiros que nunca, o que também ajuda a dar um outro estrelado às armas de precisão, como espingardas e snipers. Houve ainda algumas alterações, como o desaparecimento do perk Martyrdrom, que tanto jogador agoniava em Modern Warfare, e as explosões perderam um pouco da sua potência, equilibrando desta feita o sistema de granadas. Por fim, temos o prazer de anunciar a inclusão do modo de zombies que até aqui nunca constou nas versões Wii de CoD e que é uma enorme mais-valia para a plataforma Wi-Fi, dado que permite jogar cooperativamente com outras pessoas, sejam elas nossas amigas ou não, enquanto derrotámos vagas atrás de vagas de inimigos. Não há outra experiência igual na Wii.
Se tiverem oportunidade de adquirir o auricular feito especialmente para Black Ops Wii, então poderão comunicar no jogo com outras pessoas, e estas não necessitam de estar na vossa lista de aliados, que já que a mencionamos está mais acessível, bastando agora clicar na alcunha da pessoa a fim de lhe enviar convite. Friend Codes são quase obsoletos. Outro aspecto interessante foi a mudança do sistema de votação. Agora, no final de um desafio, temos três opções de voto diferentes que envolvem o mapa anterior, o seguinte ou um aleatório. As novas funcionalidades Wi-Fi de Black Ops são imensas, pelo que é impossível abordá-las todas aqui, mas confiem em nós quando dizemos que estamos perante o melhor online da consola, não só como plataforma, mas igualmente em termos de diversão
Conclusão
É impossível não nomear Call of Duty: Black Ops como um dos melhores jogos deste final de ano. A sua campanha vai entusiasmar todos aqueles que têm acompanhado a série e o modo online suga-vos por um longo período de tempo, não apenas pelo diversão mas pela quantidade de características e funcionalidades que oferece, tornando-o no melhor Wi-Fi existente na consola. Há poucas propostas assim tão completas na Wii.
O melhor
- Online de topo
- Campanha emocionante
- Personagens muito bem desenvolvidas
- Excelente no departamento sonoro
O pior
- Graficamente decepcionante
- IA inimiga com alguns problemas