
CRÓNICA
Uma história com falta de progresso
Jogabilidade vs. enredo.
Por Gustavo Pereira a
Nos últimos anos, os videojogos têm atribuído uma importância cada vez maior ao enredo. Se recuarmos quinze anos vemos poucos exemplos de jogos em que isto acontecesse. É verdade que já tinham sido lançados vários RPGs com um enredo bastante rico mas eram casos pontuais. Isto alterou-se radicalmente desde a GameCube até aos dias de hoje. As histórias têm-se tornado muito mais complexas e desenvolvidas enquanto as personagens têm recebido uma caracterização cada vez mais detalhada e complexa - surgiram até prémios atribuídos exclusivamente à narrativa (algo que acontece, por exemplo, nos “The Game Awards”). Apesar deste novo paradigma, a Nintendo parece ter-se mantido indiferente e continua a desvalorizar o enredo nos seus jogos mais recentes.
Ao olhar para os jogos lançados pela Nintendo na Wii U e 3DS contam-se pelos dedos os jogos com uma aposta forte nesta componente. Na Wii U, os poucos jogos editados pela Nintendo que têm algum cuidado com a história vêm de estúdios fora da Nintendo, como Bayonetta, Project Zero ou Tokyo Mirage Sessions #FE. Ficam de fora Xenoblade X e até certo ponto o próximo Zelda. Na 3DS o cenário não é muito diferente. Vemos ambos os Fire Emblem com uma história bem desenvolvida e Code Name: Steam com alguns pormenores. Porém, nem precisamos de sair de ambas as consolas para vermos apostas muito mais convincentes em termos de história feitas por outras editoras. Metal Gear Solid 3 na 3DS é um dos melhores exemplos da primazia dada à história num jogo, ou o caso de Mass Efect 3 em que a história se adapta às escolhas dos jogadores. O que não falta são exemplos sendo quase todos eles de produtoras que não a Nintendo.Passando ao segundo ponto, é fácil argumentar que as personagens da Nintendo nunca precisaram de grandes caracterizações para serem carismáticas mas isso deve-se à qualidade dos jogos em que entravam e não significa que não haja espaço para que essas mesmas personagens (ou por ventura, novas) não possam beneficiar de uma caracterização mais detalhada. Um bom exemplo de como esta caracterização beneficiou a personagem é o caso de Samus na geração passada. Em Metroid Prime, e sobretudo em Other M, vemos uma quase reinvenção de Samus Aran que recebe uma nova abordagem sobretudo ao nível psicológico. No entanto, Samus é a excepção e não a regra, visto que mais nenhuma personagem da Nintendo recebeu este tratamento e não se espera que volte a acontecer num futuro próximo.
Refletindo sobre o assunto, percebemos que o foco da Nintendo começou por ser o mesmo foco que toda a indústria adoptou nos primórdios dos videojogos: a jogabilidade. Com as limitações tecnológicas da altura era complicado pensar em algo mais do que os controlos e os cenários. À medida que tempo foi passando a indústria foi adaptando o seu foco de forma a tirar partido das inovações e tornar o enredo num ponto importante. No entanto, parece que a Nintendo ainda não se adaptou. Jogos como Virtue's Last Reward ou a série Professor Layton provam que o enredo e a narrativa podem oferecer experiências novas sem descurar a jogabilidade, algo que a Nintendo parece relutante em aceitar, como se tem visto nos seus mais recentes lançamentos.Para além de ainda não ter conseguido incorporar um enredo mais envolvente nos seus títulos, parece que a Nintendo nem sequer mostra interesse em fazê-lo. Isto apenas prejudica a qualidade geral dos seus jogos. Fire Emblem poderia oferecer experiências ainda melhores caso tivesse um foco maior na narrativa (algo ao nível de Xenoblade ou até mesmo de Deus Ex: Human Revolution) e personagens que se encontram esquecidas poderiam beneficiar imenso caso recebessem um tratamento semelhante ao de Samus (ver os Ice Climbers com uma personalidade forte poderia ser uma forma de os trazer de volta à ribalta). Estas histórias e personalidades não precisam de ser complexas, tal como muitos jogos indie o demonstram (Never Alone, My Little Inferno, Master Reboot, etc). Precisam apenas que a Nintendo coloque um pouco da sua criatividade nelas e algo mágico pode resultar.
Que pensam do assunto? Gostariam de ver a Nintendo a mudar a sua forma de pensar ou preferem que o foco continue a ser exclusivamente a jogabilidade? Deixem a vossa opinião nos comentários.