
CRÓNICA
Uma apresentação estratégica
Apresentação da Nintendo Switch em reflexão.
Por Gustavo Pereira a
Com o anúncio recente da Nintendo Switch seria óbvio qual o tema a ser tratado neste Domingo Nintendo. Certamente que durante os próximos dias vão chegar novos anúncios e novidades relativos a esta nova consola e que vão ter um impacto significativo naquilo que será o conceito da próxima plataforma da Nintendo - mais jogos para o primeiro ano, mais informações sobre o sistema operativo, mais funcionalidade, etc. Como tal, é prudente guardar uma visão pessoal sobre os principais desafios e características da nova consola para uma crónica futura. Algo que se revela oportuno abordar agora é a conferência em si e o que ela mostrou daquela que é a posição da Nintendo em relação a este novo conceito.
Comecemos pelos jogos anunciados. Mais do que ver quais os títulos programados para o primeiro ano, é importante perceber o porquê da escolha de cada um destes jogos em específico para a apresentação e não outros. Afinal de contas, os jogos são a principal razão para a existência de uma consola. A melhor forma de fazer esta análise é dividir os jogos anunciados em quatro categorias, sendo que cada uma delas mostra a forma como a Nintendo pretende apresentar a consola aos diferentes públicos. A primeira categoria corresponderia ao 1,2, Switch e ao ARMS!. Nenhum destes jogos foi uma surpresa absoluta, no sentido em que já se esperava um ou dois jogos 1st party que demonstrassem as possibilidades da nova consola. O objectivo aqui é claramente o público dos jogos mais simples e acessíveis, responsável pelo sucesso da Wii e que a Nintendo tentou captar sem grande sucesso com a Wii U. A segunda categoria seria a dos jogos mais tradicionais da Nintendo (Super Mario, Zelda, Splatoon e Xenoblade) que visam os consumidores mais tradicionais de Nintendo. As duas categorias finais são respectivamente jogos para o público japonês (com a mão da Atlus e da Square-Enix) e jogos para o público ocidental (da Bethesda e EA).A aposta da Nintendo vai claramente consistir em tentar captar o máximo de cada um destes quatro mercados de forma distinta. Embora o segundo seja algo relativamente estável e de fácil captação, os restantes apresentam diversos desafios. A escolha dos RPGs da Atlus e da Square-Enix representa bem a forma como as campanhas de marketing da consola vão decorrer em terras nipónicas. Estes foram dois dos principais estúdios responsáveis pelo sucesso da 3DS no Japão, o que mostra que os estúdios que acompanharam a 3DS com lançamentos frequentes vão optar pela Switch como a sucessora da 3DS para os seus jogos. Tendo em conta o conceito novo da Switch, a presença de ambos os estúdios pode ser um sinal de confiança suficientemente forte para que adoptem nesta consola nos seus primeiros meses. Caso a Nintendo consiga conquistar os possuidores de uma 3DS, então já consegue assegurar que a Switch não se torna num fracasso do tamanho da Wii U. Mesmo que apenas metade acabe efectivamente por transitar, isso garantiria à Switch uma base de utilizadores ao nível da XBox One a nível mundial.
Passando ao público ocidental, representa claramente a maior dificuldade da Nintendo. Na geração passada, este foi um mercado no qual a Nintendo nunca conseguiu penetrar e a aposta nos títulos 3rd party tem como objectivo a captação deste segmento. A forma que a Nintendo encontrou para aliciar estes compradores é a conjugação de uma oferta igual à concorrência em títulos 3rd party e com os 1st party a trazerem diferenciação para a mesa. Por fim, é visível que a aposta no público menos tradicional se tenha reduzido, talvez porque a própria Nintendo observou que este mercado se tem vindo a esgotar, o que dá a entender que o objectivo principal passa por captar alguns jogadores deste segmento mas sem o mesmo limiar de anos anteriores.Pode ter ficado a impressão que a forma como a Nintendo abordou a apresentação da Switch não difere muito de como as suas últimas consolas foram apresentadas e isso é verdade, não há uma grande diferença. No entanto, numa altura em que se especula sobre o sucesso (ou não) da Switch, o seu futuro vai jogar-se sobretudo na conquista dos mercados japonês e ocidental e menos nas linhas dos jogadores à procura de experiências simples e dos jogadores tradicionais. O segmento dos jogadores que preferem jogos mais simples e acessíveis pode ajudar a consola mas há poucas esperanças que seja o garante do sucesso (embora tenha sido uma aposta gigante na Wii U e claramente falhada), assim como o segmento mais tradicional, visto que o que mais procura são títulos que no primeiro ano de vida já estão garantidos. Qualquer opção que a Nintendo tome vai ter como objectivo principal os mercados japonês e ocidental. Se o público japonês entender que a consola não será uma substituta da 3DS, isso pode ser suficiente para que o mercado transite de vez para os smartphones e dite o fim da consola. Por outro lado, caso o público ocidental acredite que esta consola seja capaz de atrair os principais títulos anuais (FIFA, CoD, etc) e os principais jogos 3rd party (GTA, Destiny, etc) pode ser suficiente para garantir o sucesso da Switch. Esta primeira conferência parece ter sido mais positiva para o público oriental que para o ocidental, visto ainda não ter sido anunciado o novo Call of Duty e apenas contarmos com um remaster de um jogo já antigo. Esta conferência não ditou o futuro da consola mas foi a primeira mensagem para os consumidores daquilo que a Nintendo quer que a Switch seja. Resta saber se o público acredita nestas promessas ou não.