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CRÓNICA
Uma questão de (R)Evolução
Caminhos percorridos por franquias icónicas.
Por Gustavo Pereira a
Um dos aspectos característicos da indústria dos videojogos é a profusão de séries que se encontram no mercado. Caso uma franquia nova seja lançada com sucesso, é de esperar que venhamos a ver uma sequela num futuro próximo. Muitas destas séries acabam por ir bastante além do segundo ou do terceiro jogo e acabam por se manter no mercado durante vários anos. Neste aspecto, a Nintendo destaca-se sem dúvida da concorrência com imensas séries com mais de vinte anos e que ainda hoje têm lançamentos com regularidade (Mario, Zelda, Fire Emblem e Mario Kart são apenas alguns exemplos). No entanto, quando uma série se mantém tantos anos no mercado é difícil garantir que os jogos não se tornam repetitivos e que a jogabilidade se mantenha fresca e inovadora. Enquanto há séries que a cada novo lançamento dão apenas alguns retoques na jogabilidade (no caso de New Super Mario Bros.), há outras que optam por alterar a jogabilidade de forma profunda a cada novo jogo ou num dado ponto da sua história (como é o caso da série Paper Mario). Será que é preferível inovar ligeiramente a cada novo jogo ou fazer uma renovação completa?
Numa primeira fase, é normal pensarmos que seria preferível fazer uma renovação completa. Afinal, o objectivo dos jogos é proporcionar experiências e parece lógico que alguém queira ter experiências diferentes e não sempre as mesmas. Isso leva a que os produtores estejam constantemente a melhorar a jogabilidade de uma série e a adicionar-lhe novos pormenores. Contudo, às vezes uma série chega a um ponto em que o próprio produtor sente que não consegue diferenciar mais o seu jogo sem ter que recorrer a uma renovação completa. Esta pode ter sido uma das razões que levou a que série Paper Mario tenha passado de uma série com uma forte componente RPG para estar mais próxima de um formato de aventura. Isto permitiu que a série se mantivesse renovada e que fosse oferecendo experiências diferentes a cada novo jogo. Contudo, há vários argumentos contra.Em primeiro lugar, a experiência propiciada por um jogo não se limita à sua jogabilidade mas sim a todas as suas componentes como a história e os gráficos. Se olharmos para a série Assassin's Creed, esta teve duas entregas num espaço de um ano na Wii U e a jogabilidade teve poucas alterações de um jogo para o outro (o tal adicionar de pormenores). No entanto, o facto de se passarem em épocas distintas leva a que as experiências sejam bastante diferentes. Outro caso, é o de Fire Emblem no qual as bases do jogo se mantêm iguais há vários anos mas cada lançamento traz uma nova história e isso é suficiente para manter a série fresca. Esta renovação pode ainda vir sob a forma da componente gráfica, como nos New Super Mario Bros.
Em segundo lugar, uma série representa acima de tudo um conceito. Ao alterar radicalmente o conceito de uma série, pode-se estar a extinguir esse conceito para dar lugar a um novo. Isto não é algo necessário, porque os dois conceitos podem existir lado a lado naquilo que pode começar por ser um “spin-off". Por exemplo, no caso de Mario, a experiência a 3D permite que continuem a existir os jogos em 2D, sendo que não foi preciso a extinção dos últimos para assegurar a continuidade dos primeiros.Por fim, muitas vezes os jogadores querem sentir a mesma experiência uma segunda vez. Esta é provavelmente a principal razão, visto que muitas vezes quando acabamos um jogo temos vontade de voltar a ter uma experiência semelhante (tanto que às vezes até repetimos o jogo). É esta a expectativa que levamos quando compramos um segundo jogo da mesma franquia. Ninguém espera que a cada novo lançamento de Pokémon venha um jogo de ação ou um jogo de plataformas. No entanto, muitos acabam por comprar cada novo lançamento com o objectivo de reviver a experiência que tiveram quando jogaram o primeiro jogo da série. Quando alguém tem vontade de ter uma experiência diferente, acaba por procurar uma nova série dentro dos moldes do que pretende encontrar.
Ao longo do tempo, tem sido visível a capacidade da Nintendo para renovar as suas séries e mantê-las frescas sem as desvirtuar. Contudo, algumas vezes estas “revoluções” têm levado à extinção de conceitos que ainda hoje se espera que voltem, como é o caso dos Metroid 2D, que apesar do sucesso e da qualidade dos Prime se baseavam num género que hoje está claramente em extinção. Não quer dizer que pontualmente estas “revoluções” não sejam necessárias em franquias em clara decadência ou para trazer de volta uma mais antiga (aconteceu com Kid Icarus) mas o mercado parece agradecer que a “evolução” continue a ser a norma e não a excepção.