
CRÓNICA
Um "Switch" de rumo
O actual caminho da Nintendo.
Por Gustavo Pereira a
Uma das principais críticas apontadas à Nintendo Switch aquando da sua revelação foi a falta de funções da consola para além dos jogos. Embora isto fosse expectável para uma consola vinda da Nintendo, sobretudo tendo em conta a as funções que a 3DS apresentava neste campo, não deixou de ser surpreendente que a Nintendo tenha optado por não incorporar elementos bastante comuns para os dias de hoje, como um navegador de internet, leitor de música ou aplicações como o Netflix. Tudo indica que a Nintendo possa vir a incluir algumas destas funcionalidades através de uma actualização no futuro mas o facto de não estarem presentes no lançamento diz bastante sobre a consola e sobre a forma como a Nintendo pretende entrar no mercado e destacar-se das suas concorrentes. É possível olhar para esta decisão de diferentes perspectivas: uma funcional e uma comercial.
Começando pela perspectiva funcional, a Switch abre novamente uma questão cada vez mais presente que opõe aqueles que acham que as consolas servem sobretudo para jogar e aqueles que acreditam que as consolas podem ser verdadeiros centros multimédia (algo no qual quer a Sony quer a Microsoft parecem acreditar). Se até à geração anterior parecia inevitável que as consolas tivessem cada vez mais funções (algo bem visível na própria Wii U com aplicações como Netflix ou Crunchyroll), parece que a Nintendo pretende inverter essa tendência com a Switch, onde a falta de aplicações parece contrastar com o foco da Xbox One neste aspecto. Se tivermos em conta a portabilidade da Swith, isto pode até ser visto como uma oportunidade perdida para a Nintendo entrar no mercado dos tablets. Com uma boa interface e um variado leque de funções, podíamos ter visto a Nintendo a enveredar por aquele que foi um ponto importante da aposta da Sony para a PSP. No entanto, neste momento é difícil fazer previsões sobre qual destas visões pode vir a ter mais sucesso. Se por um lado, o facto de as consolas terem cada vez mais funções permite-lhes competir com as tv box e leitores de filmes e expandir-se para novos mercados, por outro isto pode levar a que as consolas deixem de ser analisadas apenas pelo potencial para jogos, o que gera uma cada vez maior redução nas vendas de software (estando a Nintendo tão dependente das suas próprias produções pode explicar esta via alternativa). Olhando um pouco para o mercado dos tablets, parece que a aposta da Nintendo foi a correcta. Uma aproximação da Switch a estes dispositivos levaria a Nintendo a um mercado algo saturado e onde a concorrência de novas marcas se faz sobretudo a nível de preços, algo que a Nintendo evita a todo o custo. Apesar de este perigo de aproximação a outros dispositivos portáteis, continua a haver espaço para a inclusão de algumas funcionalidades extra como o navegador ou o reaparecer do Netflix. Para além disso, permite mais facilmente justificar o preço de €60 dos jogos em vez de serem gratuitos, como seria de esperar para um tablet. Este é um ponto fulcral num mercado que tem imensas dificuldades em lidar com a emergência dos jogos para telemóvel e onde manter o valor do software é prioritário.Já pela perspectiva comercial, é importante perceber até que ponto a falta destas funcionalidades pode afectar as vendas da Switch. Uma forma de desvalorizar esta falha é dizendo que hoje em dia, todos os dispositivos apresentam estas funções multimédia e que se torna redundante ter mais um dispositivo a fazer o mesmo. A lógica é precisamente inversa, existem imensos dispositivos a fazer o mesmo porque os consumidores cada vez mais valorizam a interconectividade entre cada um deles. O facto de a Switch não apresentar estas funcionalidades poderia vir a reflectir-se nas suas vendas. Uma forma de evitar este problema seria através do posicionamento, usando uma estratégia de marketing capaz de transmitir a ideia que a Nintendo Switch é um dispositivo dedicado a videojogos. Se os consumidores aderirem a este conceito, a Nintendo pode muito bem vir a conseguir o nicho de mercado que pretende.
Em suma, a Nintendo volta a arriscar com uma nova consola no sentido em que se tenta distanciar do caminho levado pela concorrência. Mesmo que a Nintendo venha a adicionar algumas funções extra com actualizações futuras, parece pouco provável que vá além da Wii U neste aspecto. Assim sendo, o sucesso da Switch ficará marcado pela capacidade da Nintendo de transmitir a ideia correcta. Caso a Switch tenha sucesso, podemos vir a assistir a um revitalizar do mercado de jogos numa altura em que os grandes títulos têm cada vez mais dificuldade em vender e em compensar os seus custos. Se a Switch falhar, continuaremos num rumo em que as consolas vão seguir os passos de outros dispositivos e incorporar o maior número de funções possíveis para captar cada vez mais mercado.