
ANÁLISE
I Am Setsuna
Em nome do sacrifício.
Por Nuno Nêveda a
Originalmente lançado em 2016 no Steam e PlayStation 4 e apenas na PlayStation Vita no Japão, I Am Setsuna é um dos jogos de estreia da novíssima consola da Nintendo. Trata-se do primeiro projecto do estúdio Tokyo RPG Factory, recentemente criado pela Square Enix e que tenta replicar algumas das características dos clássicos da era dourada dos JRPG. Os fãs de longa data do género vão sentir alguma nostalgia e reconhecer a influência de jogos das eras 16 e 32-bit.
Começando pelo enredo, este segue a aventura da jovem Setsuna, rapariga escolhida como sacrifício num ano em que o demónio começou a ficar mais violento. Os habitantes da ilha tiveram medo e tentaram acalmá-lo oferecendo-lhe Setsuna em sacrifício, escolhida pelos seus poderes de feitiçaria. Acompanhada por um grupo de guerreiros corajosos, a personagem central da trama terá de se aventurar numa viagem perigosa até chegar ao local do seu sacrifício e acalmar os demónios que assombram os seus conterrâneos. É um enredo negro e consistente mas não se desenvolve de forma totalmente satisfatória, estando longe de atingir a excelência e faltando-lhe ainda personagens marcantes e carismáticas.Saltando para o sistema de combate, este encontra-se organizado por turnos, sendo claramente inspirado em clássicos do género de há vinte anos atrás mas sem os irritantes encontros aleatórios. Os inimigos estão perfeitamente visíveis no cenário e dependendo da forma como são abordados, pode-se ter uma vantagem inicial em cada combate. À disposição encontram-se três membros na equipa do jogador e o cerne do combate gira em torno da barra ATB (active time battle). Quando esta se encontra activa tem-se acesso às diferentes acções das personagens, utilização de armas e itens, habilidades especiais, magias e combos. Também existe uma segunda barra, que num determinado momento se activa e confere um bónus temporário ao poder de ataque e à eficácia das habilidades.
Os ataques mais avançados são garantidos através de algo chamado Spiritnite que permite combiná-los entre personagens e desencadear ataques devastadores. O material para as criar pode ser adquirido junto de mercadores especiais ou através de itens ganhos nos combates. Estas Spiritnite podem ainda melhorar permanentemente as características das personagens. Um dos problemas da sua criação é que são necessários materiais específicos e por vezes é preciso recorrer a combates repetitivos ou revisitar locais para aceder ao material pretendido. Também não faltam acessórios e talismãs capazes de conferir bónus às personagens. O sistema de combate mesmo sendo bem conseguido, ao longo da aventura vai-se tornando monótono e nem a mecânica das Spiritnite consegue disfarçar.I Am Setsuna é um jogo relativamente bonito – corre a 1080p e 30 fps na Nintendo Switch - mas visualmente muito repetitivo. Não são de esperar cenários deslumbrantes e ambiciosos, até pelo perfil de baixo orçamento deste projecto alicerçado sobre o conhecido motor de jogo Unity. A temática também não ajuda à diversidade, pois a acção decorre num Inverno eterno e isso é visível nas opções de desenho e nos ambientes visuais: neve, neve e mais neve. Verdade que o ambiente encaixa-se bem na temática melancólica e sombria mas passadas poucas horas, o sentimento de saturação começa a imperar. O mesmo é válido para a componente sonora. A banda sonora é belíssima utilizando constantes melodias de piano que merecem ser ouvidas, ainda que sejam pouco variadas.
Conclusão
Como primeiro RPG de uma consola que se espera que venha a receber muitos nos anos que se avizinham, I Am Setsuna é uma proposta consistente. Em cerca de vinte horas de jogo, encontram-se muitos elementos que vão agradar aos fãs dos JRPGs. Não rompe fronteiras, nem tinha ambição para tal. Sem nunca fazer algo de verdadeiramente errado, sofre pela elevada repetição de algumas das suas componentes.
O melhor
- Primeiro RPG da Nintendo Switch
- Combate e banda sonora interessantes
- Cenários que se encaixam na temática do jogo...
O pior
- ...mas muito repetitivos
- Desenvolvimento do enredo decepcionante
- Personagens pouco memoráveis
Nota: Esta análise foi efectuada com base em código final do jogo para a Nintendo Switch, gentilmente cedido pela Nintendo.
15 de Abril, 2017, 14:39